Escritora sul-coreana Han Kang vence Nobel da Literatura

A escritora sul-coreana Han Kang é a vencedora do Prémio Nobel da Literatura deste ano, segundo anunciou esta quarta-feira a Academia Sueca. A autora foi distinguida pela sua “intensa prosa poética que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana”.

Nascida em 1970 na cidade de Gwangju, Han Kang cresceu numa família literária, sendo o seu pai um respeitado romancista. Mudou-se para Seul aos nove anos, onde mais tarde começou a dedicar-se à escrita, além de desenvolver interesses em arte e música, influências que se refletem ao longo de toda a sua produção literária.

Han Kang iniciou a sua carreira literária em 1993, publicando uma série de poemas na revista Literatura e Sociedade. Dois anos depois, lançou a sua primeira coleção de contos, O Amor de Yeosu, marcando a sua estreia na prosa. Esta fase inicial da sua carreira foi seguida por várias obras de ficção, tanto romances como contos, que começaram a consolidar o seu nome no cenário literário coreano, destaca a Academia Sueca.

No entanto, foi em 2007 que Han Kang atingiu o reconhecimento internacional com o romance ‘A Vegetariana’, traduzido para inglês em 2015. A obra, estruturada em três partes, retrata as consequências violentas que surgem quando a protagonista, Yeong-hye, decide parar de comer carne, uma escolha que desafia as normas sociais e alimentares. As reações à sua decisão variam drasticamente, refletindo tensões profundas em torno do conformismo e da individualidade. Através de uma narrativa carregada de empatia física pelos extremos da experiência humana, Han Kang utiliza “um estilo metafórico intenso que ressoa com o leitor”.

Outro exemplo notável do trabalho de Han Kang é o romance ‘Lições de Grego’, publicado originalmente em 2011 e traduzido para inglês em 2023. A obra narra a relação entre duas pessoas vulneráveis – uma jovem que perdeu a capacidade de falar após uma série de traumas e o seu professor de grego antigo, que está a perder a visão. Através das suas fragilidades, surge um amor delicado e fugaz. Esta história é uma profunda reflexão sobre a perda, a intimidade e as condições mais extremas da linguagem, explorando como a comunicação e a conexão podem surgir mesmo nas circunstâncias mais adversas.

Um dos momentos mais importantes da carreira de Han Kang é o romance ‘Atos Humanos’, publicado em 2014 e traduzido para inglês em 2016. Esta obra, que também destaca a sua ligação pessoal à cidade de Gwangju, revisita o massacre de 1980, onde centenas de estudantes e civis desarmados foram assassinados pelas forças militares sul-coreanas. Han Kang, que cresceu em Gwangju, utiliza este episódio como base política e histórica para o romance, oferecendo uma crua atualização dos eventos.

Atos Humanos confronta o massacre com uma abordagem que se aproxima da literatura de testemunho, mas com um estilo visionário e conciso que desafia as expectativas deste género. Um dos expedientes utilizados pela autora é a separação das almas dos mortos dos seus corpos, permitindo-lhes assistir à sua própria destruição. Em certos momentos, ao descrever corpos não identificáveis que não podem ser enterrados, Han Kang faz eco de motivos clássicos, como o da peça Antígona de Sófocles, sublinhando as questões de justiça e dignidade humana perante a violência do Estado.

A Academia Sueca assinala que a obra de Han Kang caracteriza-se por uma “exposição simultânea da dor”, onde o sofrimento físico e mental se entrelaçam. Esta correspondência reflete uma forte conexão com o pensamento oriental, explorando os limites da existência humana através da violência, perda e transformação.

Outro exemplo significativo do trabalho de Han Kang é o conto ‘Europa’, publicado em 2012 e traduzido em 2019. A história segue um narrador masculino, que se disfarça como mulher e é atraído por uma figura enigmática, uma mulher que se afastou de um casamento impossível. Num momento crucial, ela pergunta ao narrador: “Se pudesses viver como desejas, o que farias com a tua vida?” Ao não responder, o narrador permanece em silêncio, refletindo a impossibilidade de alcançar satisfação ou redenção numa vida marcada pela alienação.

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