Episódios de turbulência em viagens de avião crescem 55% nos últimos 40 anos: a que se deve esta maior instabilidade?

O voo SQ321, entre Londres e Singapura, atravessou por “turbulência severa”, que colocou o avião da Singapore Airlines a “tremer e a inclinar”, provocando a morte de um passageiro britânico de 73 anos e 30 feridos, seis dos quais com gravidade. De acordo com a companhia aérea, o Boeing 777, com 211 passageiros a bordo, perdeu 1.200 metros de altitude num minuto.

Os episódios de turbulência têm vindo a aumentar nos últimos anos, segundo concluíram várias investigações: a duração total anual de turbulência aumentou 55% – de 17,7 horas em 1979 para 27,4 em 2020. Mas o que tem provocado esta mudança?

“A turbulência é um movimento instável do ar. Há essencialmente dois mecanismos que a produzem: fluxos de calor muito acentuados e mudanças muito rápidas na velocidade e direção do vento”, salienta, ao jornal ‘Observador’, o climatologista Pedro Miranda, investigador do Instituto Dom Luiz. Já o comandante José Correia Guedes, antigo piloto da TAP, explica que durante um voo há três formas de turbulência que podem causar problemas: a turbulência térmica, orográfica e de ar limpo. “A primeira acontece quando temos a formação de nuvens muito altas e cheias de energia e de correntes verticais. Essa turbulência pode ser evitada porque aparece nos radares meteorológicos dos aviões. Nós conseguimos detetar as zonas de maior turbulência e evitá-las”, refere.

O segundo tipo ocorre na proximidade de montanhas, devido às ‘ondas de ar’. “Essa é totalmente imprevisível. Não se pode prever, não aparece em lado nenhum. Pilotos e passageiros são apanhados de surpresa. Acredito que tenha sido isso que aconteceu”, aponta.

Nos casos de turbulência, segundo o piloto Bruno Torcato, não há muito a fazer sem ser reduzir a velocidade do avião, avisar os passageiros para colocar de imediato os cintos e garantir que a cabina está o mais limpa e segura possível.

De acordo com um estudo recente da Universidade de Reading (Reino Unido), o número de casos de turbulência tem vindo a aumentar significativamente, possivelmente devido a alterações climáticas. Num ponto comum sobre o Atlântico Norte, uma das rotas de voo mais movimentadas do mundo, “a duração total anual de turbulência severa aumentou 55%, de 17,7 horas em 1979 para 27,4 horas em 2020”, salienta o estudo – no caso da turbulência moderada e leve também se verificou um aumento, respetivamente de 37% (70,0 para 96,1 horas) e 17% (466,5 para 546,8 horas).

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