Enterrar madeira para combater as alterações climáticas? Descoberta de tronco de árvore com mais de 3 mil anos dá força a medida ‘revolucionária’ (e barata)

Em 2013, o cientista climático Ning Zeng e a sua equipa desenterraram um tronco de árvore que iria mudar o rumo da sua pesquisa sobre o combate às alterações climáticas. Enquanto cavavam uma trincheira na província de Quebec, no Canadá, para um projeto destinado a testar a conservação de madeira enterrada, descobriram um tronco de cedro-vermelho-oriental, bem preservado, que datava de aproximadamente 3.775 anos. Este achado forneceu provas inesperadas da viabilidade de uma ideia inovadora: a possibilidade de enterrar madeira para armazenar carbono e, assim, ajudar a travar o aquecimento global.

“Lembro-me de ficar a olhar para ele e pensar: ‘Precisamos mesmo de continuar com a nossa experiência? As provas estão já aqui, e são melhores do que qualquer coisa que pudéssemos fazer’”, recorda Zeng, professor na Universidade de Maryland, em declarações à Science News.

O tronco, protegido debaixo de apenas dois metros de solo argiloso, reteve pelo menos 95% do carbono que tinha absorvido da atmosfera milhares de anos antes, segundo um estudo publicado a 24 de setembro na revista Science. Esta descoberta oferece um vislumbre sobre a eficácia de enterrar biomassa como forma de armazenar carbono de longa duração, um método simples e relativamente barato.

Uma solução de baixo custo para o clima
Os cientistas e empreendedores têm vindo a explorar a ideia de enterrar madeira como uma solução para o clima, mas o estudo conduzido por Zeng fornece uma prova concreta de que tal abordagem pode funcionar. “Este trabalho mostra que é possível”, comenta Daniel Sanchez, cientista ambiental da Universidade da Califórnia, Berkeley, que não esteve envolvido na pesquisa. “Soluções climáticas de alta durabilidade e baixo custo, como esta, têm um potencial imenso para combater as alterações climáticas.”

De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), reduzir as emissões de gases com efeito de estufa não será suficiente para cumprir os objetivos globais de mitigação climática. É necessário remover e armazenar cerca de 10 gigatoneladas de carbono da atmosfera todos os anos até 2060 para evitar que o aquecimento global atinja níveis catastróficos. Embora as plantas já armazenem cerca de 220 gigatoneladas de dióxido de carbono por ano através do crescimento, grande parte desse carbono é libertada novamente na atmosfera durante o processo de decomposição.

Zeng acredita que evitar apenas uma fração dessa decomposição, enterrando madeira em condições favoráveis, pode contribuir significativamente para a captura de carbono. O solo argiloso, que cobria o tronco encontrado, ajudou a impedir que o oxigénio chegasse à madeira, retardando a sua decomposição. “Este tipo de solo é bastante comum. Basta escavar um buraco com alguns metros de profundidade, enterrar a madeira e ela pode ser preservada”, explica Zeng.

De acordo com as estimativas da equipa de Zeng, o custo para enterrar madeira poderia ser de apenas 30 a 100 dólares por tonelada de CO2 armazenada. Este método é consideravelmente mais barato do que outras tecnologias de captura direta de carbono, cujo custo varia entre 100 e 300 dólares por tonelada de CO2. Além disso, o processo de enterrar madeira apresenta-se como uma solução mais prática, particularmente em comparação com a infraestrutura complexa e dispendiosa necessária para as tecnologias de captura de ar.

Se as condições que permitiram a preservação do tronco canadiano puderem ser replicadas, os investigadores estimam que a biomassa enterrada a partir de madeira descartada ou de colheitas sustentáveis poderia sequestrar até 10 gigatoneladas de carbono por ano. No entanto, ainda é necessário mais estudo para entender plenamente quais são os melhores métodos para replicar estas condições de conservação.

Apesar da descoberta surpreendente do tronco antigo, a equipa de Zeng continuou com a sua experiência original, que consistia em enterrar 35 toneladas de madeira e cobri-las com solo argiloso. O objetivo é estudar em detalhe como a madeira se comporta ao longo do tempo e desenvolver as melhores práticas para a implementação desta solução em larga escala. “Agora temos as provas para dizer: sim, está pronto para ser implementado”, conclui Zeng.

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