Eleições nos EUA. E se houver um empate entre Trump e Harris? Há uma cidade que pode ser chave. Cenário é possível, embora improvável, mas sobretudo caótico

Voar do estado decisivo do Arizona para Nova Iorque passa-se por muitos estados americanos, aqueles que os elitistas americanos chamam de “sobrevoar”, ou seja, não se fica por lá, apenas se passa por cima. Oklahoma, Kansas, Missouri, Arkansas, Iowa, Indiana, por exemplo, conhecidos por aqueles que nunca lá vão como “América profunda”. Nestas eleições presidenciais, todos estes territórios estão tingidos de vermelho republicano, sendo que os candidatos não os visitam porque não têm ali muito a ganhar ou a perder.

Mas há uma exceção: o Nebraska. Mais especificamente, a sua principal cidade, Omaha, situada “algures no meio da América”, dizem os elitistas. Mas Omaha poderá tornar-se decisiva para evitar um cenário eleitoral que só acrescentaria mais choques a uma campanha muito turbulenta: um empate entre Donald Trump e Kamala Harris.

É possível? Sim, e tem a ver com a forma como o presidente dos EUA é eleito. O candidato vencedor não é aquele que obtém mais votos nas eleições, mas sim aquele que obtém a maioria no Colégio Eleitoral. Este órgão conta com 538 eleitores, divididos pelos 50 estados do país com base no seu peso demográfico (equivalem ao número de deputados que cada estado envia para a Câmara dos Deputados, mais os dois senadores que cada estado possui). Por exemplo, a Pensilvânia, considerado o estado mais decisivo, tem 19 eleitores (equivalente aos seus 17 deputados + 2 senadores). O empate é possível se ambos os candidatos tiverem 269 eleitores.

Na maioria das eleições nos EUA, aplica-se o sistema “o vencedor leva tudo”. Ou seja: se Trump obtiver 49% dos votos na Pensilvânia e Harris 48%, o candidato republicano ficaria com todos os eleitores do estado, 19.

Nesse momento entram em cena Nebraska e Omaha, quase sempre esquecidos. Mas não nas últimas eleições. Porque o Nebraska e o Maine são os únicos estados onde a regra do “vencedor leva tudo” não se aplica. Neles a distribuição dos eleitores é dividida: uns são eleitos a nível estadual e outra parte em cada um dos distritos que enviam deputados ao Congresso.

A consequência disto é que o distrito onde se situa a cidade de Omaha pode cair para o lado democrata. Ou seja, uma ilha azul num oceano vermelho em plenos EUA. Isto porque Omaha, como todos os centros urbanos do país, é menos conservadora e inclina-se para Harris.

Esforço dos democratas

Os democratas colocaram muito esforço em Omaha porque pode conduzir a um empate. Como?

Dos sete estados-chave – onde as forças estão mais equilibradas e que decidem as eleições – Harris só poderia vencer se mantivesse o distrito de Omaha – que Joe Biden já venceu em 2020 – e a chamada ‘parede azul’: Pensilvânia, Michigan e Wisconsin. Podia perder no Arizona, Nevada, Geórgia e Carolina do Norte. Mas se perder Omaha – algo que parece improvável com base nas sondagens – haverá um empate. Por esta razão, Trump e os seus aliados têm procurado aprovar uma mudança legislativa de última hora para que o Nebraska utilize o sistema de “o vencedor leva tudo” e evite que os democratas levem esse eleitor.

Embora pareçam improváveis, existem também outras possibilidades de empate em 269 votantes. Entre outros, que Trump ganhe na Pensilvânia, Michigan, Wisconsin e Nevada; e que Harris fique com a Geórgia, a Carolina do Norte e o Arizona.

Caso se verifique empate, inicia-se um complexo sistema de eleição do presidente, que cabe à Câmara dos Deputados. Cada delegação estadual no Congresso teria um voto, dando vantagem aos republicanos. Mas abriria um processo pouco incerto, que provocaria batalha legislativa e caos no Congresso.

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