Eleições em França: O que é a coligação de esquerda NFP, o que defende, e quem será o próximo primeiro-ministro?

A Nova Frente Popular (NFP), uma coligação de esquerda recentemente formada, está a gerar grande expectativa ao tornar-se vencedora das eleições legislativas em França, e com a possibilidade de eleger o próximo primeiro-ministro do país. Esta coligação surgiu numa tentativa de ressuscitar o espírito da Frente Popular original, que em 1936 impediu a ascensão da extrema-direita ao poder, e agora conseguiu mais de 180 deputados na Assembleia Nacional – ainda assim longe da maioria absoluta.

Formação e Composição da NFP

A NFP é composta por vários partidos políticos de esquerda, incluindo o partido de extrema-esquerda França Insubmissa, o Partido Socialista, o partido ecologista verde, o Partido Comunista Francês, a Place Publique de centro-esquerda, entre outros pequenos partidos. A coligação foi formada rapidamente após o presidente Emmanuel Macron ter convocado eleições legislativas antecipadas. Esta decisão foi tomada na sequência da derrota do seu partido centrista para o partido de extrema-direita de Marine Le Pen, o Reagrupamento Nacional (RN), nas eleições para o Parlamento Europeu.

O líder socialista Olivier Faure sublinhou a urgência desta união, afirmando que “só uma esquerda unida pode impedir a extrema-direita de chegar ao poder”, referindo-se ao perigo de uma repetição do governo colaboracionista de Vichy durante a Segunda Guerra Mundial.

Liderança e Divisão Interna: Quem são os rostos e líderes da NFP?

A liderança da NFP é marcada por uma certa ambiguidade, uma vez que cada partido celebrou os resultados em sedes separadas, sem uma unidade clara. A figura mais proeminente e controversa da coligação é Jean-Luc Mélenchon, o líder de longa data do partido França Insubmissa. Prevê-se que o França Insubmissa seja o maior partido da coligação, com cerca de 80 lugares.

Contudo, figuras do partido Ensemble (Juntos), que apoia Macron, expressaram repetidamente a sua recusa em trabalhar com o França Insubmissa, equiparando-o ao RN em termos de extremismo e falta de capacidade governativa. Ao anunciar a sua intenção de se demitir, o primeiro-ministro Gabriel Attal afirmou: “Nenhuma maioria absoluta pode ser liderada pelos extremos. Devemos isso ao espírito francês, tão profundamente ligado à República e aos seus valores”.

Políticas e Propostas

A NFP apresenta uma plataforma política que inclui compromissos significativos em política externa e interna. Em termos de política externa, a coligação compromete-se a “reconhecer imediatamente” um Estado palestiniano e a pressionar por um cessar-fogo entre Israel e Hamas em Gaza.

Economicamente, a NFP promete aumentar o salário mínimo mensal para 1.600 euros e limitar o preço dos alimentos essenciais, eletricidade, combustíveis e gás. Além disso, propõe reverter a reforma das pensões de Macron, que aumentou a idade de reforma de 62 para 64 anos, uma medida extremamente impopular entre os franceses.

No entanto, estas promessas vêm num momento em que a França enfrenta um dos maiores défices da zona euro e corre o risco de não cumprir as novas regras orçamentais da Comissão Europeia. Desde a convocação das eleições, os mercados financeiros têm mostrado apreensão tanto com a possibilidade de um governo extremista quanto com as políticas económicas expansivas propostas pela NFP e pela RN.

Desafios e Futuro

Sem conseguir alcançar uma maioria absoluta, a NFP terá que negociar coligações adicionais, provavelmente com o Ensemble, para poder governar. Este processo será desafiador, dada a diversidade ideológica entre os partidos envolvidos.

A ascensão da Nova Frente Popular marca um momento crucial na política francesa, representando tanto uma esperança para a esquerda unida quanto um potencial desafio para a estabilidade económica e política do país. As negociações e compromissos futuros determinarão a capacidade da NFP de implementar suas políticas e de evitar o caos económico que muitos temem.

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