Efeitos dos acidentes nucleares de Chernobyl e Fukujima “foram superestimados”, garante ‘think tank’ britânico

O desenvolvimento da energia nuclear está a sofrer de uma perceção injustificada de risco após dois grandes desastres, garantiu esta terça-feira o ‘think tank’ Instituto Tony Blair para Mudança Global, que apelou ao Reino Unido para aproveitar “um novo amanhecer” na tecnologia impulsionado pela adoção da Inteligência Artificial (IA).

Num relatório publicado esta semana, o ‘think tank’ salientou que a adoção da energia nuclear diminuiu consideravelmente desde o desastre em Chernobyl, em 1986, e as emissões globais teriam sido menores se não te tivesse consolidado uma descrição “imprecisa” da segurança da tecnologia.

“A realidade é que a energia nuclear é uma forma segura de energia, com benefícios significativos em termos de redução de emissões e criação de sistemas de energia equilibrados e de baixo custo. A perceção pública do risco da energia nuclear não é proporcional ao risco real”, apontou o relatório.

“A compreensão pública da energia nuclear foi moldada por manchetes dos media e disseminação de informações sobre acidentes importantes como Chernobyl, bem como as alegações do movimento antinuclear. Isso resultou numa perceção imprecisa dos riscos e recompensas reais da tecnologia”, reforçou.

“O preço desta desaceleração está agora claro: se o mundo não tivesse abandonado a energia nuclear depois de Chernobyl, as emissões de CO2 relacionadas com a energia poderiam ter sido 6% mais baixas em 2023, o mesmo que retirar 450 milhões de veículos de passageiros das estradas durante um ano.”

Para “toda a história da energia nuclear”, há dois grandes acidentes, apontou o relatório: Chernobyl e o desastre de Fukushima (Japão), em 2011, “e os efeitos destes, embora sérios, foram significativamente superestimados”.

“Há compensações com a energia nuclear, assim como há compensações com qualquer outra tecnologia de geração de energia. Mas, diferentemente de outras tecnologias, a energia nuclear enfrenta uma perceção de risco aprimorada e infundada, com muito menos consideração das recompensas”, frisou o relatório, negando uma alegação comum dos ativistas antinucleares de que nenhum nível de radiação era seguro. “Como a possibilidade de radiação ser emitida na natureza, mesmo com reatores mais seguros, não pode ser completamente descartada, a sua conclusão é que o risco da energia nuclear não compensa seus benefícios. Esta avaliação não considera corretamente o peso relativo dos riscos e recompensas.”

No início deste mês, o secretário de Estado de Energia e Mudanças Climáticas do Reino Unido, Ed Miliband, salientou que a energia nuclear desempenharia um “papel vital” na matriz energética limpa do Reino Unido após anunciar um acordo de partilha de informações com os Estados Unidos com o objetivo de acelerar a implantação da tecnologia – recorde-se que a última instalação nuclear a ser inaugurada no Reino Unido foi Sizewell-B, em 1995.

Segundo o Instituto Blair, países como os Estados Unidos, Coreia do Sul, Canadá, França e Japão “comprometeram-se com novos programas nucleares, enquanto os EUA estão a mover-se rapidamente para cumprir a sua ambição de ser a superpotência de IA”. “Se o Reino Unido quiser permanecer competitivo, precisa construir a ritmo acelerado”, afirmou.

“Este novo amanhecer para a energia nuclear representa uma oportunidade significativa para o Reino Unido”, concluiu o relatório, acrescentando que a energia nuclear era “a maneira mais económica para o país atingir o zero líquido”.

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