Eclipses solares artificiais? Satélites que os vão tornar possíveis são lançados hoje pela Agência Espacial Europeia
Hoje, às 10h38 (hora de Lisboa), a Agência Espacial Europeia (ESA) está preparada para lançar a missão Proba-3 (acompanhe aqui), um projeto revolucionário que usará dois satélites em voo de formação precisa para criar eclipses solares artificiais no espaço. O lançamento está agendado para o Centro Espacial Satish Dhawan, na costa da Baía de Bengala, Índia.
A Proba-3 representa a primeira tentativa da ESA de realizar voos de formação extremamente precisos em órbita. Os dois satélites da missão irão orbitar a Terra numa configuração que nunca se desviará mais do que um milímetro — uma precisão comparável à espessura de uma unha humana.
Damien Galano, gestor do projeto Proba na ESA, sublinhou a inovação tecnológica da missão: “É um experimento no espaço para demonstrar um novo conceito e tecnologia. É extremamente desafiador porque precisamos controlar com precisão o percurso de voo das duas naves.”
Como funcionará?
Os dois satélites, após uma viagem de quatro meses, alcançarão uma órbita elíptica altamente variável que vai dos 595 km (370 milhas) da superfície terrestre até mais de 59.500 km (37.000 milhas). Durante dois anos, os aparelhos completarão uma órbita a cada 19,7 horas. Durante seis horas de cada órbita, os satélites alinhar-se-ão para simular um eclipse solar.
O satélite principal transporta um disco de ocultação com 1,4 metros de largura que bloqueará a luz do sol, enquanto o satélite secundário recolherá dados detalhados da coroa solar — a camada mais externa da atmosfera solar. Esta configuração transforma os dois satélites num coronógrafo de 150 metros.
Os cientistas tradicionalmente estudam a coroa solar durante eclipses solares naturais, quando a lua bloqueia temporariamente a luz do sol. Contudo, essas observações são limitadas a poucos minutos e dependem de condições meteorológicas favoráveis.
A missão Proba-3 mudará este paradigma, produzindo cerca de 50 eclipses artificiais por ano, cada um com até seis horas de duração. Esta abordagem permitirá observações mais frequentes e detalhadas da coroa solar, ajudando a responder a questões fundamentais sobre a sua natureza.
Um dos mistérios que a missão procura resolver é o motivo pelo qual a coroa solar é muito mais quente do que a superfície do sol. Enquanto a temperatura da superfície solar ronda os 5.500 °C, a coroa pode exceder 1 milhão de °C.
Ao aprofundar a compreensão da coroa solar, os cientistas esperam melhorar as previsões de fenómenos como tempestades solares e ejeções de massa coronal — explosões de plasma e campos magnéticos no espaço. Estes eventos podem ter impactos significativos, incluindo danos em satélites, cortes de energia e falhas nas comunicações na Terra.
Além dos objetivos científicos principais, a ESA irá testar novas manobras durante a missão, incluindo técnicas que podem ser usadas no futuro para reparar satélites defeituosos ou remover detritos espaciais.
Dietmar Pilz, diretor de tecnologia da ESA, destaca o potencial do voo de formação para expandir as capacidades das missões espaciais: “Se conseguirmos manter vários satélites próximos uns dos outros com precisão absoluta, poderemos construir instrumentos maiores compostos por várias naves.”
Essa tecnologia poderia ser aplicada em projetos para estudar a crise climática, objetos no sistema solar e até planetas em sistemas estelares distantes.
Com os lançadores modernos a aumentar a sua capacidade de carga, a possibilidade de usar múltiplos satélites para formar instrumentos gigantescos poderá abrir novas fronteiras na exploração espacial.
As primeiras imagens científicas da missão Proba-3 são esperadas para março de 2025, marcando o início de uma nova era na investigação solar e no desenvolvimento de tecnologias espaciais de ponta.