É urgente “desenvolver o sistema fiscal para atrair novos investidores e empresas que queiram apostar no setor fintech”, diz executivo da Ebury

As empresas deparam-se atualmente com diversos desafios que podem colocar em risco a sua competitividade e sobrevivência, principalmente aqueles relacionados com a inflação e política monetária.

A Executive Digest falou com Duarte Líbano Monteiro, Regional Managing Director da fintech Ebury, responsável pelos mercados Espanha, Portugal, Itália e Grécia, por forma a perceber como as empresas podem capacitar-se a antecipar esses desafios e adotar estratégias para mitigar os impactos nos mercados.

 

Quais os principais riscos com que as empresas se deparam atualmente e como minimizá-los?

Como conseguimos perceber no evento que a Ebury organizou no Porto sobre este tema e que se repete agora em novembro em Lisboa, atualmente, as empresas portuguesas deparam-se com vários riscos. De forma a tentar resumir a atual conjuntura:

1)            Risco Macro Europeu: Aqui podemos incluir inflação, aumento das taxas de juro, abrandamento económico e políticas monetárias na Europa;

2)            Risco Macro Internacional (fora Europa): Aqui podemos incluir a crise energética, decisões económicas Internacionais (exemplo decisões da FED).

Ambos são muito importantes para as empresas, pois afetam diretamente a taxa de câmbio entre as suas vendas (normalmente euros em Portugal) e as suas compras (normalmente negociado em dólares americanos).

A forma de os mitigar passa por fixar a taxa de câmbio de forma a existir o mínimo de desvio dos orçamentos (devido a volatilidade), pagar diretamente em moeda local, e assim evitar um risco indireto (exemplo pagar em BRL ou CNY) ou mesmo fixar o custo da energia, para evitar um aumento dos custos energéticos

 

O facto de o dólar estar mais forte que o euro está a ter um grande impacto nas empresas? Quais as principais preocupações que devem ter?

O dólar nos últimos 12 meses já beneficiou de uma valorização à volta dos 18% (var% calculada entre o valor mais alto e mais baixo), o que representa um grande risco, especialmente para o negócio de qualquer empresa importadora, que não tenha qualquer tipo de estratégia de gestão cambial.

Apesar de neste momento estarmos a assistir a uma recuperação do euro face ao dólar, convém não esquecer que o par EUR/USD já chegou a estar a 0.8560 em janeiro de 2002, o que significa que o risco de assistirmos a uma nova valorização significativa do dólar continua a existir, especialmente tendo em conta os riscos atuais com que nos deparamos. Neste sentido, as empresas devem preocupar-se em proteger uma parte das suas compras de modo a mitigar este risco cambial.

O que temos visto ao longo dos últimos meses é que as empresas com compras em dólares, que não tinham qualquer tipo de estratégia de gestão cambial, se viram forçadas a perder grande parte da sua margem de lucro ou optaram por rever os preços de venda, penalizando o consumidor final.

Por outro lado, as empresas exportadoras têm ganho muito com esta valorização, pois nos últimos 20 anos têm trabalhado com um dólar mais fraco.

 

Que estratégias podem adotar para mitigar os impactos da inflação?

Em termos europeus não interessa uma inflação demasiado elevada pois afeta o poder de aquisição dos europeus. A forma de controlar é através do aumento das taxas de juros (temos visto várias recentemente) que por um lado ajuda a controlar a inflação, mas por outro afeta o endividamento das empresas, tornando-se mais difícil para as empresas em que o seu modelo de negócio, em parte, se alavanca no mercado financeiro. Uma opção aqui seria também fixar a taxa de juro para evitar subidas das taxas de juro no mercado e desta forma garantir que os seus custos financeiros são estáveis e que não afetarão a margem comercial da empresa.

 

Como analisa o setor das fintech em Portugal?

Em geral, o setor tem vindo a crescer e já fazem parte do mercado financeiro, em conjunto com os incumbentes. Portugal, per si, é um país pequeno para desenvolver uma fintech, pois o sucesso das fintechs passa por ter um negócio escalável, com tecnologia e com Data. Portugal é muito bom na tecnologia e Data, faltando somente que o negócio seja escalável, algo que, atualmente, com tecnologia é possível.

 

Portugal tem condições para ser um mercado competitivo?

Portugal tem espaço para ser um país competitivo no espaço europeu e essa competitividade passa por apostar em áreas como a inovação e a educação sendo estes pilares essenciais para o crescimento económico do país. Ainda assim, tem que desenvolver o sistema fiscal para atrair novos investidores e novas empresas que queiram apostar no setor Fintech, como é o caso da Espanha ou Inglaterra que têm uma legislação própria.

 

Numa época de incerteza devido à inflação, guerra e crise energética, quais as suas perspetivas para o ano de 2023?

As perspetivas não são animadoras. Inflação, subida de taxas de juro, guerra, entre outros, são dados que historicamente já aconteceram na última crise – petróleo, Iraque, taxas de juro, etc. -, depois de um período de crescimento. É preciso realçar que desta vez existiu uma intervenção grande por parte dos Governos (com a situação da Covid-19) e dos bancos centrais, que pode ajudar a que não exista uma crise tão severa como a anterior… Mas algum ajuste terá de haver.

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