“É preciso desacantonar o turismo”: Líderes dizem que o setor “é a marca que puxa a economia”
É preciso “desacantonar o setor do turismo” para aproveitar em pleno todas as oportunidades que este mercado oferece para Portugal. Foi este um dos ponto de destaque no painel de debate ‘O Turismo hoje e sempre como alavanca da nossa Economia’, da XXIV Conferência Executive Digest, que decorre esta quarta-feira, na Culturgest, em Lisboa.
Foram ouvidos na conversa José Theotónio, CEO dos grupo Pestana Hotels & Resorts e Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal.
José Theotónio apontou que, olhando a séries longas de dados, verifica-se que “o turismo é um setor que cresce globalmente 4% ao ano”. “Portugal tem aqui uma sorte, num setor que é globalizado, porque tem vantagens comparativas em relação aos outros países. Temos o melhor clima da Europa, proximidade dos principais mercados emissores, somos um país relativamente pequeno em área territorial mas que é muito diversificado, e por isso conseguimos oferecer turismo de vários segmentos (de ilhas, religioso, praia, cultural, ecoturismo)”, começou por explicar o responsável.
“Temos uma qualidade muito importante, que somos nos próprios os portugueses, que conseguimos e gostamos de receber”, indicou o CEO do grupo Pestana.
Já Luís Araújo recusou que o crescimento verificado no setor, nos últimos anos, seja devido a sorte. “A sorte dá muito trabalho, e houve muito trabalho para posicionar o país onde ele está hoje. Crescemos mais de 60%: em 2015 tínhamos menos de metade do que foram as receitas em 2022. Um crescimento que tem sido muito superior a nível de receitas do que em número de dormidas e hóspedes, continuamos é a diversificar mercados.
Segundo exemplificou, os EUA, Israel e Austrália são agora alguns dos países de onde provêm mais turistas para Portugal, com Lisboa em destaque como destino em todo o mundo, o que foi fruto “de um investimento feito na ótica da qualidade do produto”, que foi deito tanto no setor público como pelo privado, e que, por exemplo, na área das praias fluviais, ajudaram no “desenvolvimento do Interior”.
“Estamos no bom caminho”, defendeu o presidente do Turismo de Portugal, que considera que, apesar de exigir uma dependência do sol e praia, e de 90% da oferta turística estar concentrada no litoral português, é necessário diversificar. “A aposta no produto de luxo e no segmento alto é algo que estamos a sentir, do ponto de vista de investimento dos privados. Há caminho a fazer, desde a formação, promoção e investimento”, indicou.
José Theotónio destacou que os avanços na inovação e na tecnologia, ao serviço do turismo, permitiu que houvesse mais gente a viajar e por motivos diversos, que por vezes se cruzam, exemplificando com o ‘bleisure’ (business e leisure). O maior desafio para as empresas do setor, explica o CEO do grupo Pestana, passa por garantir que conseguem comunicar efetivamente com o cliente e responder às suas necessidades da melhor forma, e mais eficiente.
“O setor do turismo é um negócio tecnológico. É a Google que mais ganha, seguida da Booking. Nenhuma tem camas, ou rececionistas, ou chefs. O desafio para as empresas é ter estes parceiros, e garantir o seu fair-share”, considerou, indicando que A fragmentação de empresas é outros dos problemas.
Luís Araújo defendeu que é necessário abandonar “o discurso do turismo a mais e economia a menos”. “Temos que desacantonar o turismo e reconhecer que pode alavancar tudo o resto”, afirmou durante o debate, exemplificando que a venda de vinho português disparou nos últimos anos nos mercados do Brasil e EUA, acompanhando “exatamente a mesma curva” desenhada pelo aumento de turistas destes países a Portugal.
Subestimar o turismo “é o que nos faz perder mais oportunidades”. “Não é preciso uma marca: o turismo é a marca que puxa verdadeiramente a economia. E a maior ameaça e o maior desafio é perder esta oportunidade de trabalharmos juntos” para aproveitar todas as oportunidades que Portugal oferece.
A XXVIV edição da Conferência Executive Digest, um dos eventos mais relevantes do setor empresarial nacional, que reúne Presidentes, CEOs e gestores de referência, rostos e principais elementos do tecido empresarial português, decorre esta manhã, sob o mote “As oportunidades que Portugal não pode desperdiçar”.
Entre os oradores no evento contam-se nomes como Paulo Macedo, presidente da Comissão Executiva e vice-presidente do Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Pedro Dominguinhos, presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR, Helena Vieira, coordenadora de investigação na Universidade de Aveiro, Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, Marios Henrique Silva, líder de Digital e Inovação na MC/Sonae, Isabel Vaz, CEO da Luz Saúde, João Mestre, diretor de Sustentabilidade na Fidelidade ou Pedro Brito, associate dean na Nova SBE.