“É imoral que empresas de petróleo e gás retirem lucros recorde da crise energética”, acusa Guterres

O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou esta quarta-feira, em Washington, nos Estados Unidos, que devem ser feitos todos os esforços para garantir que a crise alimentar mundial chegue a um fim, que tem tido maior impacto sobre os países mais pobres e que foi intensificada pela guerra na Ucrânia.

“Já estamos a ver os sinais de alarme de uma convulsão económica, social e política que não deixará nenhum país incólume”, avisou Guterres, acrescentando que foi por essa razão que criou um grupo de crise para coordenar a resposta a crises alimentares, energéticas e financeiras, “que estão profundamente ligadas”.

“É imoral que empresas do petróleo e do gás retirem lucros recorde da crise energética, nas costas dos mais pobres e com um custo massivo para o clima”, acusou o português, e instou todos os governos a tributarem esses lucros e a “usarem os fundos para apoiar os mais vulneráveis nestes tempos difíceis”.

Endurecendo o tom da mensagem enviada à indústria dos combustíveis fósseis e aos seus financiadores, o líder das Nações Unidas salientou que “esta ganância grotesca está a castigar os povos mais pobres, ao mesmo tempo que destrói a nossa única casa comum, o planeta”.

Aludindo à crise energética que ganha cada vez mais vigor na Europa e um pouco por todo o mundo, Guterres apelou a que todos os países “reduzam os seus consumos de energia”.

“Conservar energia, promover os transportes públicos e implementar soluções baseadas na Natureza são componentes essenciais” dos esforços de gestão do consumo, explicou, sublinhando que é também preciso “acelerar a transição para as Renováveis”.

Nesse campo, Guterres adiantou que as energias de fontes renováveis e limpas “são, na sua maioria, mais baratas do que os combustíveis fósseis” e frisou que os governos em todo o mundo têm de fazer mais para reduzir a dependência das energias poluentes e concretizar a transição energética. Para esse fim, o Secretário-Geral disse que o setor privado tem de aumentar as suas contribuições para ser possível alcançar sociedades mais sustentáveis.

“Todos os países são parte desta crise energética”, sentenciou, “e todos os países estão atentos ao que os outros estão a fazer”.

Guterres atirou que “não há lugar para hipocrisia” e que “aos países em desenvolvimento não faltam razões para investirem nas Renováveis”, mas “o que lhes falta são opções operacionais concretas”.

Contudo, os países mais ricos pedem aos mais pobres que invistam em soluções energéticas renováveis “sem lhes proporcionarem apoios sociais, técnicos e financeiros”, e “muitos desses países desenvolvidos estão a introduzir subsídios universais” à indústria fóssil, “enquanto outros estão a reativar centrais a carvão”.

Guterres, ciente da crise energética que já se faz sentir, disse que essas medidas devem ser estritamente temporárias, e que, ao aliviarem o fardo energético sobre os países, devem servir para acelerar a transição em direção às renováveis.

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