E agora Portugal? “Reforço da produção de bens e serviços transaccionáveis”: Joaquim Cunha, Diretor Executivo na Health Cluster Portugal

Na sua opinião, quais deviam ser as prioridades do novo Governo em termos de reformas para que Portugal tenha um crescimento sustentável para o futuro?
A grande reforma passa por assumir, definitivamente e sem complexos, uma postura amiga das empresas reconhecendo nestas o papel chave no crescimento e na geração de riqueza. Para o efeito, será necessário actuar em várias frentes, de forma concertada e articulada:
a) No robustecimento e agilização do ciclo da inovação, assegurando e maximizando a valorização do conhecimento;
b) Na minimização dos mais que identificados e inventariados custos de contexto que constituem um fardo retardador no desenvolvimento empresarial;
c) No incentivo à valorização do trabalho, promovendo a aproximação dos níveis salariais à média europeia;
d) Na afirmação de uma mensagem que seja mobilizadora e positiva que inverta no sentido positivo a cultura vigente anti-empresa;
e) Numa reforma do Estado, tornando-o menos operativo e cada vez mais regulador, fiscalizador e promotor da modernização e do progresso, retirando-se, sempre que possível, das actividades operacionais.

Atendendo ao actual contexto, que expectativas a nível macroeconómico para Portugal?
Pela sua dimensão e posicionamento geoestratégico e geopolítico o caminho de Portugal será essencialmente de nicho e aí numa aposta que deverá ser enquadrada em alianças estratégicas mais abrangentes, desde logo no contexto da União Europeia e da vocação atlântica.
O crescimento económico e a valorização da classe média – melhores salários – não podem deixar de ser as grandes expectativas com a consequente e desejada saída da cauda da Europa. Definitivamente, o turismo, ainda que importante e relevante, não pode ser a aposta nacional.
E assim a ambição tem que passar pelo reforço da produção de bens e serviços transaccionáveis, baseados na diferenciação que resulta da aplicação de conhecimento intensivo.

E quais são as expectativas para o seu sector?
À Saúde parece estar reservado um papel chave na modernização do perfil de especialização e de produção nacional, uma vez que:
a) Dispomos de boas condições para o efeito – ciência e conhecimento state-of-the-art global, mão-de-obra qualificada e empenhada, e um ecossistema harmonioso envolvendo a investigação, a produção e a prestação de cuidados;
b) Temos um potencial de crescimento fantástico para nos posicionarmos como test bed de referência nas mais modernas e inovadores tecnologias, desde logo na inteligência artificial, e como local competitivo para a realização de ensaios clínicos, nomeadamente nos de nova geração.

Falta-nos: crer, isto é, assumir este como um desígnio nacional a que todos se entregam; e, agir, para o que o inventário de necessidades e o desenho do caminho estão há muito feitos.
Nas etapas para lá chegar, contaremos com as infindáveis aplicações e utilizações de uma Smart Health massificada e generalizada, onde uma bem sucedida capacidade de atracção de investimento directo estrangeiro, quer em capital, quer na fixação de talento e de conhecimento, fará a diferença.