E agora Portugal? Economia portuguesa poderá continuar a apresentar um crescimento favorável

Nos últimos anos, a economia nacional tem sido suportada pelo significativo acréscimo de emprego e pelo contributo robusto do sector do Turismo. As projecções dos vários organismos nacionais e internacionais colocam a economia portuguesa a crescer 1,2%
(casos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico e da Comissão Europeia), 1,5% (Governo e Fundo Monetário Internacional) e 1,6% (Conselho das Finanças Públicas). Já o Banco de Portugal, que actualizou as suas projecções, vê agora a economia portuguesa a crescer 2,0% em 2024.  Segundo o mais recente Barómetro da Conjuntura Económica do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) e da CIP – Confederação Empresarial de Portugal , a economia terá crescido acima de 1% no primeiro trimestre. A sustentar a leitura do ISEG e da CIP está a análise da evolução das componentes da procura, com o barómetro a assinalar que os dados disponíveis para o primeiro trimestre de 2024 “indiciam um crescimento homólogo do consumo privado, com um valor alinhado com o dos trimestres anteriores (perto de 2%)”, bem como um “provável” crescimento homólogo da construção (e por essa via do investimento) e um contributo da procura externa líquida (PEL) “positivo mas a desacelerar”.

«Em termos de evolução em cadeia os indicadores disponíveis apontam para uma evolução positiva, sobretudo com origem na procura interna, enquanto o contributo da PEL é mais incerto mas possivelmente de reduzida dimensão», refere o documento. Já os especialistas da Allianz Trade reviram em baixa as projecções para a economia portuguesa para 2024, prevendo agora que o produto interno bruto (PIB) de Portugal avance 1,3% em 2024 e 1,8% em 2025. No final do ano passado, a accionista da COSEC antecipava que a economia portuguesa expandisse 1,3% em 2024 e 2,3% em 2025. Nesta actualização das previsões económicas, destacam os desafios significativos para as empresas, com a possibilidade de existirem cortes de custos em alguns serviços. A recuperação do comércio mundial poderá ser limitada pelo excesso de stock, enquanto as empresas enfrentam pressões de insolvência, especialmente nos EUA, Espanha e Holanda. A análise prevê um aumento de 9% nas insolvências das empresas em 2024, com a maior parte desse aumento a ocorrer nesses três países.
Por fim, o estudo destaca a importância da atenção aos movimentos dos bancos centrais, que podem ter implicações nos mercados financeiros globais, e incentiva uma abordagem cautelosa e estratégica por parte dos investidores.
Sobre o excedente orçamental de 1,2% do PIB nominal, Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa considera que  o saldo orçamental das contas públicas portuguesas em 2023 foi positivo de quase 3,2 milhões, representando um excedente orçamental de 1,2%, o maior em democracia. «Apesar da conjuntura desfavorável em muitos países membros da Zona Euro, sobretudo do maior motor da economia europeia, a Alemanha, a economia portuguesa poderá continuar a apresentar um crescimento favorável, impulsionada pela desaceleração da inflação, um suporte ao consumo, e pelo PRR, um importante apoio ao investimento. 

Nos últimos anos, a economia nacional tem sido suportada pelo significativo acréscimo de emprego e pelo contributo robusto do sector turismo. Desde 2013, a população empregada aumentou mais de meio milhão de trabalhadores, tendo já superado os cinco milhões. Mais empregados significa não apenas mais receita parafiscal para os cofres da segurança social, mas também um acréscimo de PIB e consequente aumento das receitas fiscais. As receitas orçamentais têm igualmente sido impulsionadas pela resiliência do sector do Turismo. Esta melhoria das receitas globais deverá suportar as contas públicas portuguesas, contribuindo para excedentes orçamentais e descida do rácio da dívida pública em relação ao PIB nominal.
Internamente as variáveis são positivas, mas eventuais factores exógenos desfavoráveis, sobretudo agravamento das tensões geopolíticas a nível global ou uma evolução económica externa desfavorável, poderão penalizar uma economia nacional caracterizada por um elevado grau de abertura.»
Em relação às projecções de crescimento da economia para este ano, o especialista considera que o PRR a suportar o investimento e a desaceleração da inflação a sustentar o consumo são também duas variáveis importantes no
impulso do crescimento económico português, o aumento do emprego na última década e o actual bom momento do sector do Turismo. Em sentido inverso, «uma deterioração ainda mais acentuada da economia alemã e taxas de juro elevadas por um período de tempo mais longo do que o antecipado actualmente» podem eventualmene prejudicar as projecções de crescimento.
Em relação à inflação, Paulo Rosa considera que «se os preços dos alimentos registarem uma trajectória favorável e a cotação do barril de petróleo permanecer estável, é bastante que a actual perspectiva do Banco de Portugal para a inflação seja exequível».

AUTONOMIA FINANCEIRA DAS EMPRESAS
A autonomia financeira das empresas portuguesas, medida pelo peso do capital próprio no total do activo, foi de 44,3% no quarto trimestre de 2023, valor superior ao registado no trimestre homólogo (41,7%) e o máximo observado desde 2006 (início da série). De acordo com a informação do Banco de Portugal, estes resultados alicerçam-se bastante no novo regime de incentivo à capitalização das empresas (ICE), contemplado no Orçamento do Estado de 2023 (OE2023).
Em comparação com o mesmo trimestre de 2022, a autonomia financeira das empresas privadas aumentou em todos os sectores, com excepção da construcção e das sedes sociais. Os sectores de actividade que mais contribuíram para este aumento foram a indústria (+3,6 pp) e a electricidade, gás e água (+10,2 pp). Os dados mostram ainda que a autonomia financeira das PME subiu de 42,2% para 44,5%, e a das grandes empresas aumentou de 35,4% para 40,0%.
O Banco de Portugal revela ainda que a autonomia financeira das empresas públicas cresceu, em relação ao trimestre homólogo, de 33,6% para 35,0%, e o peso dos financiamentos obtidos no total do activo diminuiu de 34,5% para 33,2%. Por sector de actividade, o decréscimo foi observado nos sectores da indústria, electricidade, gás e água, comércio e outros serviços, e foi transversal a todas as classes de dimensão: nas PME, o peso dos financiamentos obtidos no total do activo diminuiu 1,8 pp, de 28,6% para 26,8%, e nas grandes empresas caiu 3,9 pp, de 31,1% para 27,2%.
No final do quarto trimestre de 2023, a rendibilidade das empresas, medida pelo rácio entre os resultados antes de amortizações, depreciações, juros e impostos (EBITDA) e o total do activo, foi de 9,0%. De acordo com os dados do Banco de Portugal, isto representa uma queda de 0,4% em comparação com o trimestre ainterior, e menos 0,2% do que no mesmo período do ano anterior.
Em comparação com o período homólogo, a rendibilidade do activo das empresas privadas registou uma quebra em todos os sectores de actividade, com excepção dos sectores da electricidade, gás e água (+5,5 pp), decorrente maioritariamente do aumento da produção de energia renovável, e da construção (+0,2 pp). Os sectores das sedes sociais e comércio foram os que apresentaram a maior redução da rendibilidade do activo (-3,4 pp e -2,1 pp, respectivamente). Já a rendibilidade das empresas públicas foi positiva, fixando-se em 7,6% (+1,9 pp no período homólogo e +0,5 pp relativamente ao período anterior).

 

*Artigo publicado na edição de maio da Executive Digest

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