E agora Portugal? “Apostar e investir mais nos produtos de qualidade e de valor acrescentado”: Jochen Michalski, Presidente da Cork Supply

Na sua opinião, quais deviam ser as prioridades do novo Governo em termos de reformas para que Portugal tenha um crescimento sustentável para o futuro?
De uma forma geral, é fundamental que haja uma união política para que Portugal possa progredir, tanto a nível económico como social. No entanto, existem três áreas-chave em particular que devem ser o foco do novo Governo para que seja possível criar um futuro sustentável para todos os portugueses.
Em primeiro lugar, Portugal precisa de reformas estruturais muito grandes e significativas, e tudo começa com a justiça, que é a base de tudo. Neste sentido, precisamos de ter uma justiça mais rápida, menos burocrática, mais justa e mais eficiente.
É igualmente importante restruturar as áreas da saúde e da educação, com um plano a médio/longo prazo. Não pode haver mudanças drásticas neste sector tão crítico quando os partidos entrem e saem do poder.
Por último, considero também que muito do trabalho do sector público pode ser transferido para as empresas privadas, que têm uma produtividade superior por já estarem habituadas à concorrência.
No fundo, precisamos de um programa que seja acordado e cumprido pelos partidos principais a médio/longo prazo, e que não possa ser alterado pelo Governo que está no poder. O que se passa actualmente prejudica não só os portugueses, mas também o nosso futuro.

Atendendo ao actual contexto, que expectativas a nível macroeconómico para Portugal?
Do meu ponto de vista, considero que devíamos apostar mais e investir mais nos produtos de qualidade e de valor acrescentado, uma vez que não somos um país produtor em quantidade, mas sim em qualidade. Temos várias áreas em Portugal onde já produzimos com muita qualidade como são os casos do têxtil, do vinho, da cortiça, do calçado, entre outras.
É igualmente necessário que, aquando do processo de internacionalização, as empresas portuguesas tenham mais confiança em si e no valor dos seus produtos e serviços, posicionando de forma adequada os produtos com preços mais altos e fugindo a guerras de preços baratos. É imperativo procurar os clientes que valorizam os nossos produtos, e focar nesses mercados de maior nicho. Além disso, temos também de continuar a apostar fortemente na inovação e nas novas tecnologias.
No entanto, tudo isto não será suficiente se não conseguirmos reter os novos talentos que se estão a formar. Actualmente, temos muitos jovens formados a saírem de Portugal porque os salários são muito baixos e o custo de vida está cada vez mais elevado em Portugal.
É importante recordar que o valor mais importante nas empresas são as pessoas. É importante a qualidade na gestão, mas também a qualidade em todas as áreas das empresas.
Acrescento ainda que devíamos investir mais dos fundos europeus no sector privado, em vez de investir no sector público, para nos tornarmos num país mais competitivo e mais rico, com maior valor acrescentado. Desta forma, não só nos ajudará a reter talento, como também a atrair mais investimento internacional.

E quais são as expectativas para o seu sector?
No sector que a Cork Supply representa, o da cortiça, o tema da matéria-prima é um assunto preocupante porque todos os anos temos menos matéria-prima disponível, seja por questões ligadas às alterações climáticas, seja por ineficiências da gestão florestal.
Deste modo, precisamos de ter mais plantações de sobreiros e um maior in-
vestimento na parte de investigação, para que o sector da cortiça cresça no futuro. Algumas das maiores empresas do sector têm vindo a fazê-lo, mas só isso não chega.