“É a melhor proteção que pode ser concedida na linha da frente”: Ucrânia constrói quilómetros de fortificações defensivas

A Ucrânia desdobra-se em esforços para construir uma linha defensiva que possa travar qualquer avanço russo – esgotado o efeito surpresa da contraofensiva, que não obteve o sucesso esperado, as tropas ucranianas constroem aquela que “é a maior proteção que pode ser concedida na linha da frente. Para nós, a vida dos nossos soldados é preciosa”, garantiu um dos soldados ucranianos do grupo Vitali, responsável pelas linhas defensivas, em declarações ao jornal espanhol ‘El Mundo’.

Nas proximidades de Orijiv, na frente de Zaporizhia, um pelotão de 35 militares, liderado pelo tenente Vitali, de 37 anos, tem estado ocupado com a colocação de um enorme bunker de cimento enterrado na terra – a sala do bunker, com 10 metros quadrados, é o elemento central da estrutura defensiva que começaram a preparar há três semanas.

No entanto, segundo Vitali, esta não é a única obra do género realizada em Zaporizhia – faz parte do plano geral de fortificações elaborado pelo Ministério da Defesa da Ucrânia, cuja segunda linha de defesa está a ser construída a 12 quilómetros de distância. “Não é uma linha contínua como a russa. Estamos a instalar pontos defensivos nas elevações”, referiu.

A atividade frenética observada em torno de Orijiv repete-se na frente de Kupiansk e Liman como parte da estratégia defensiva que Kiev adotou após os poucos progressos alcançados na contraofensiva – embora Volodymyr Zelensky e os seus conselheiros se recusem a assumir publicamente que qualquer hipotético plano ofensivo do seu exército depende de um novo carregamento de ajuda dos seus aliados, a verdade é que tanto no Norte como no Sudeste as tropas locais receberam uma única ordem: “Segurem a linha.”

O chefe do exército, o general Valerii Zalushny, admitiu numa entrevista ao ‘The Economist’ que os planos militares para 2023 não alcançaram o resultado esperado devido a um fator básico, a supremacia russa nas tropas e o seu desdém pelos mortos nas suas fileiras. “Foi um erro meu. A Rússia perdeu pelo menos 150 mil (homens). Em qualquer outro país, esse nível de baixas teria parado a guerra”, declarou.

Segundo o número 2 dos serviços de inteligência militar da Ucrânia, Vadym Skybitskyi, ou o analista e antigo coronel Petro Chernyk, os russos são capazes de recrutar todos os meses o mesmo número de homens que perdem na frente de batalha. Segundo Skybitskyi a Rússia avançou em relação à Ucrânia na perceção do longo desenvolvimento que terá o conflito, o que a levou a adotar “uma série de leis e regulamentos” em 2022 que colocou todo o setor de defesa em modo de guerra total.

No entanto, os engenheiros ucranianos trabalham contra o relógio num amplo arco da frente, com especial destaque para a geografia que defende enclaves como Zaporizhia, Kupiansk, Liman ou Avdiivka . As ordens de Kiev envolvem também o reforço da proteção de Kharkov, Sumy, Chernihiv, Kiev, Rivne e Volyn.

Segundo o especialista militar Roman Poholiry, a Ucrânia destinou 426 milhões de euros para reforçar toda a fronteira com a Rússia, a Bielorrússia e as demarcações onde a guerra está a ser travada. “No norte do país tudo está a ser minado, fortificado e preenchido com cimento”, relatou, à publicação ucraniana ‘Focus’.

O vice-primeiro-ministro Mykhailo Federov anunciou em novembro último a criação de um grupo de trabalho especial com o chefe da Defesa para “coordenar os esforços de todas as autoridades e do exército na questão da construção de fortificações”.

Nos arredores de Kupiansk, na província nortenha de Kharkov, os responsáveis pela defesa desta cidade – que está sob assédio russo há meses – começaram a colocar abrigos pré-fabricados de cimento em vários locais da cidade. Perto, na aldeia de Petropavlivka , os militares estabeleceram uma nova fila de “dentes de dragão” entrelaçados com arame farpado e cabos metálicos.

A alguns quilómetros no sentido oposto encontra-se uma fila de bunkers subterrâneos onde estão protegidos soldados da 41ª Brigada. “O território de Kharkov está cheio de cadáveres ucranianos. Porquê? Por que não nos deram armas e munições suficientes em 2022? Por que tivemos de sacrificar todas essas vidas ucranianas?”, lamentou um militar, de 55 anos.

A 41.ª Brigada também recebeu ordens de reforçar os territórios que permitem a passagem para Kupiansk, sabendo que neste momento só podem abrigar-se para minimizar as baixas. “Desde junho cavámos cerca de 20 quilómetros de trincheiras”, referiu o comandante.

Ler Mais





Comentários
Loading...