Drones portugueses conquistam o mundo

O ano de 2020 foi de superação e de afirmação para a Tekever. A empresa portuguesa afirmou-se como um dos líderes europeus na área dos drones, voando milhares de horas ao serviço de países como França, Itália ou Reino Unido. A tecnologia da área digital esteve nas pontas dos dedos de centenas de milhares de pessoas diariamente e asseguraram mais de cinco milhões de euros em novos investimentos no sector do Espaço.

Isto num ano de pandemia, em que tiveram que manter fábricas e laboratórios a trabalhar de forma eficiente e uma grande parte da equipa a trabalhar em casa. Ao ter um enorme impacto na mobilidade internacional de pessoas e bens, o contexto tornou mais difícil o desenvolvimento de novos projectos. Ainda assim, com um enorme esforço de toda a equipa, a empresa assegurou a possibilidade de manter três operações simultâneas na Europa – mais precisamente em Itália, França e Reino Unido – onde durante grande parte do último ano ajudou a vigiar os mares com recurso aos drones Tekever AR5. «Mas a pandemia levou a que muitas outras operações tivessem que ser atrasadas para o início de 2021, dados os enormes constrangimentos de circulação que hoje vivemos. Em paralelo, durante o último ano, sentimos necessidade de reforçar a equipa, contratando novos colaboradores para assim dar resposta mais efectiva aos nossos clientes», explica Ricardo Mendes, co-fundador e CEO da Tekever, à Executive Digest.

ESTRATÉGIA

A Tekever nasceu de um sonho de antigos colegas do Instituto Superior Técnico que acreditavam que todas as pessoas e todas as coisas iriam estar tecnologicamente ligadas. Além disso, ambicionavam desenvolver tecnologias e sistemas capazes de aproveitar esse potencial para trazer um grande impacto às empresas e à sociedade em geral. «Vivemos numa sociedade em que essa conectividade é uma realidade para a maioria e, cada vez mais, todos os objectos estão ligados. O nosso desafio hoje já não é o de ter a tecnologia para ligar pessoas e coisas, mas sim o de garantir que utilizamos essa tecnologia de forma que nos potencie e preserve a nossa humanidade», elucida Ricardo Mendes. Actualmente, é possível controlar ou receber vastas quantidades de dados em tempo real de um drone que está do outro lado do mundo ou de um satélite.

Mas é sempre um enorme desafio saber tirar partido dessa capacidade para ajudar a descobrir uma mancha de petróleo no meio do oceano ou encontrar mais rapidamente uma pequena embarcação em risco. A Tekever tem assim três áreas principais de actuação: os Drones (este é o nome pelo qual o público conhece aquilo que se chama UAS – Unmanned Aerial Systems), o Espaço e a Transformação Digital. São três áreas independentes, mas que partilham uma mesma visão e colaboram entre elas para criar as diferentes peças de um puzzle comum. «Apaixona-me a ideia de conseguirmos idealizar, desenvolver e industrializar sistemas de enorme complexidade, e de os conseguirmos trazer ao mercado de forma simples e eficaz. É o que estamos a fazer na área da vigilância marítima.

Partimos de um problema, cuja solução apenas está ao alcance de países com grandes orçamentos de defesa e segurança, e desenvolvemos tecnologia, produtos e serviços que dão a qualquer país, mesmo os que têm menos recursos, a mesma possibilidade», acrescenta Ricardo Mendes. Hoje, a empresa consegue oferecer um verdadeiro serviço de surveillance- -as-a-service, combinando sistemas tão complexos como drones que voam 20 horas e milhares de quilómetros, ou comunicações e imagens de satélites, para oferecer aos clientes a informação que precisam para tornar as suas águas mais seguras. «A criação desta capacidade e serviço mobiliza todas as áreas da empresa, e o trabalho conjunto de centenas de pessoas brilhantes, que são as melhores nas suas áreas de actuação, e a quem tenho a felicidade de poder chamar colegas. É esta capacidade de tornar simples o complexo, e com isso democratizar o acesso aos benefícios que a tecnologia pode trazer, que mais me motiva», conta.

PROJECTOS

Fundada em 2001, a Tekever é uma empresa de base europeia, com mais de 250 colaboradores, e com actividade nos sectores das aeronaves não tripuladas, satélite e espacial, e da transformação digital. Os seus sistemas não tripulados são desenvolvidos e produzidos na Europa, em centros de desenvolvimento e fábricas em Portugal e no Reino Unido. Neste momento, a Tekever opera em mais de 25 países, e garante o fornecimento de um serviço de vigilância chave na mão. Entre os vários projectos na carteira, Ricardo Mendes destaca o trabalho feito com as autoridades inglesas. «Foram as imagens recolhidas pela tecnologia da Tekever que permitiram às autoridades britânicas acusar em tribunal e condenar a 31 meses de prisão Rebwar Ahmed, de 36 anos, pelo crime de tráfico de seres humanos e migração ilegal.»

De facto, as câmaras do drone AR5 não deixaram margem para dúvidas, focando repetidamente Rebwar Ahmed ao leme da embarcação (barco inflável rígido) que, levava 20 migrantes a bordo, cinco dos quais menores, incluindo uma menina de 10 anos vinda do Iraque. Ao serviço do Home Office (Ministério da Administração Interna) britânico desde o final de 2019, a Tekever faz o patrulhamento diário do Canal da Mancha, que liga França ao Reino Unido, voando mais de oito horas por dia. Em 60% das missões são detectadas pequenas embarcações sobrelotadas, algumas em situações de emergência. «Iremos continuar a trabalhar arduamente para consolidar a posição de liderança que atingimos, e iremos lançar-nos de forma muito consistente para fora da Europa na área dos drones. Pretendemos ser um dos líderes mundiais no sector, e será em 2021/2022 que faremos essa aposta», garante Ricardo Mendes.

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