Do outro lado do espelho: Manuel Pina, Diretor-Geral da Otovo em Portugal

Manuel Pina, Director-geral da Otovo, plataforma norueguesa de instalações solares e baterias residenciais, encontra na fotografia uma das melhores formas de relaxar. Com uma máquina oferecida pelos pais (Canon 1000D), em 2010, começou a descobrir o prazer deste hobby. «Na época estávamos nas primeiras versões do iPhone, que eram muito caros e eu não tinha nenhum. Tirava algumas fotos com as compactas. Mas quando recebi esta máquina de presente de aniversário experimentei pela primeira vez as funções que permitem ajustar e regular o tipo de fotografia, bem como a mudança de objectivas. Hoje em dia, a tecnologia ajuda-nos a fazer isso tudo. Uma máquina actual com os modos automáticos permite acertar em 80% dos campos», conta o gestor. 

A partir desse momento, Manuel Pina transportava a máquina para todo o lado, fossem almoços com os amigos, passeios de fim-de-semana ou grandes viagens. No primeiro ano do curso de Gestão pela Universidade Nova de Lisboa, tirou uma foto em Zadar, no Norte da Croácia, e que lhe valeu um prémio num concurso universitário: a imagem ilustra um grupo de pessoas ao Pôr do Sol para admirar os sons emitidos por um «órgão-marinho». Numa parceria entre o mar e a arquitetura, este «órgão» aproveita a energia das ondas e dos ventos do mar Adriático para criar melodias aleatórias, mas ao mesmo tempo harmoniosas. A construção tem orifícios na base, por onde a água e o vento entram, sendo depois canalizados para câmaras ressonantes. Os sons produzidos nestas câmaras saem através de buracos nos degraus mais altos.

«Comecei a interessar-me cada vez mais sobre fotografia. Até aqui não tinha nenhum tipo de informação, era autodidacta, mas com vontade de aperfeiçoar. Encontrei uma loja em Lisboa, onde o meu pai costumava revelar as fotografia, que davam cursos. Inscrevi-me para entender mais sobre tácnicas de revelação», lembra o director-geral da Otovo, enquanto mostra um ampliador dos anos 70, e que ainda funciona na perfeição. 

Na cave da casa dos pais revelava as fotografias. «Qualquer nesga de luz é o suficiente para estragar. Isolei o espaço para fazer o banho das fotos, secar e era um processo bastante terapêutico. Conseguia estar duas horas às escuras e a foto não precisava de ser muito boa para o processo final ser compensador». Entretanto, o avô emprestou-lhe uma Leica que trata como uma peça de museu. «Eu nesta fase tinha mais prazer no processo de revelar do que tirar a fotografia. Tudo era um pretexto, podia ser a minha namorada, os amigos ou o cão. Exigia muita capacidade de concentração e era fundamental para relaxar de qualquer coisa que nos preocupa noutro lado. É um momento muito isolado, visto que ninguém pode entrar a meio do processo», acrescenta. 

FOTOGRAFIA E GESTÃO
Manuel Pina tem actualmente três máquinas analógicas e três digitais, incluíndo um drone. A máquina que herdou dos avós da mulher, uma Nikon,
chegou-lhe recentemente às mãos e a primeira coisa que salta à vista é o bom estado de conservação. O drone e os vários livros de fotografia também fazem parte da decoração da casa do director-geral da Otovo. «Comprei o drone há três anos porque alia a imagem à parte tecnológica. Conseguimos ver paisagens de uma perspectiva que raramente conseguiríamos. Já é o meu segundo drone e estou desconfiado que vou continuar», conta o gestor. Hoje em dia, sempre que vai de férias, Manuel utiliza sobretudo este aparelho e o telemóvel. Os Açores são o local preferido para fotografar paisagens, mas também tem fotos da Croácia, Grécia, Turquia e Itália. Em Portugal, elege o Alentejo. «Além das paisagens alentejanas, gosto muito de andar de mota e estes drones têm uma função em que nos podem seguir enquanto damos um passeio», conta. 

Sobre a relação entre a fotografia e a gestão de uma empresa, Manuel Pina encontra semelhanças: «No caso da fotografia analógica, a capacidade de concentração e paciência. Temos muitas vezes de nos isolar de estímulos externos para conseguirmos pensar da melhor forma, na nossa melhor versão. E destaco ainda a resiliência, porque muitas vezes os problemas existem e só com o desenvolvimento de alguma endurance os vamos conseguir ultrapassar». Na parte digital, o director-geral da Otovo sublinha a paciência, mesmo com todas as ajudas que as máquinas permitem. «Se quisermos tirar uma boa fotografia à noite isso exige uma exposição maior. É preciso estar sossegado e tentar várias vezes até acertar, tal como pode acontecer nos negócios».
Por fim, a fotografia passa também por ter a capacidade para olhar para alguma coisa, seja uma paisagem, pessoa ou plano e perceber que há ali valor. «Isso é semelhante a um negócio ou equipa», refere. Entre os profissionais preferidos, o gestor destaca Helmut Newton (fotógrafo alemão e referência incontornável na história da moda na segunda metade do século XX), Sebastião Salgado (um dos maiores fotógrafos contemporâneos, e reconhecido internacionalmente pelo seu trabalho em todo o mundo) e Georg Gerster (suíço e  pioneiro da fotografia aérea que sobrevoou e fotografou mais de uma centena de paízes). 

Além de vários livros destes autores, que folheia cuidadosamente, o gestor mostra-nos uma das suas imagens preferidas, que ilustra uma cena do filme «Tempos Modernos», de Charles Chaplin. « Na minha opinião, as fotografias onde existem mais movimento e história são as mais interessantes e aquelas que eu prefiro».
A paixão pela fotografia é uma característica de família. Por exemplo, o irmão mais velho de Manuel Pina já herdou o primeiro drone. «Com o instagram e as várias aplicações de fotos e filtros, noto que as pessoas quando pegam numa máquina são mais sensíveis a procurar o melhor plano, ou seja, há uma maior preocupação na qualidade da imagem».
E qual a fotografia que gostava de tirar e ainda não conseguiu? «Se pensar no drone, poderia ser tirar uma foto a uma cratera de um vulcão ou ao Everest.  Mas não sei se há alguma em particular. O prémio que trago para casa depois do esforço feito é sempre o mais gratificante», conclui à Executive Digest o director-geral da Otovo. 

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