Do outro lado do espelho: Duarte Guedes, CEO da Hertz

O gestor Duarte Guedes recebeu de prenda de aniversário a primeira guitarra eléctrica quando tinha 18 anos. Adorava música e sonhava aprender a tocar um instrumento. Na época, ainda não lhe passava pela cabeça formar uma banda. «Pedi a uma pessoa que me desse algumas aulas, mas acabou por não ter sequência. Mais tarde, a minha mulher também pediu uma guitarra de presente e teve algumas lições. Fiquei com inveja e juntei-me a ela. Só que depois as nossas professoras formaram-se em Direito e seguiram outra vida. Fiquei bastante tempo sem tocar, mas senti sempre um vazio», recorda o CEO.
Mais tarde, Duarte acabou por se inscrever numa escola, melhorou o desempenho (dentro do nível amador) e o impensável aconteceu: com um grupo de amigos formou uma banda. «Aprendi tarde, mas consegui dar o passo que muita gente acaba por não dar, que é o de aprender a tocar um instrumento», acrescenta. Até que um dia, o cunhado, advogado, disse-lhe que podia ir ensaiar à noite para uma sala de ensaios num escritório -recorde-se que anualmente várias Sociedades participam no Rock’n’Law, uma iniciativa sem fins lucrativos que visa angariar fundos para apoiar projectos de relevante cariz social em Portugal. «Eu estava a jantar com os meus amigos e eles disseram de imediato “vamos fazer uma banda”. Então aparecemos à noite no escritório com umas caixas com guitarras e outros instrumentos. Estavam lá os estagiários e devem ter sofrido um pouco”, lembra, entre risos, o CEO da Hertz. 

Actualmente, o grupo é composto por seis elementos (um deles está em Angola) e têm todos profissões ligadas à Gestão e Comunicação. Outra circunstância curiosa é o facto de a banda ter dois nomes: “Trojan Rat (ou The Presidents)”. «O primeiro deve-se ao facto de termos dividido uma sala de ensaios com uns miúdos e havia lá ratos. Um deles comeu-nos os amplificadores. O segundo aconteceu quando tive um reencontro com um amigo de infância que substituíu o nosso baterista quando foi trabalhar para Angola. E cada vez que ele precisava de mudar o reportório chamava-nos “Presidents”», conta Duarte Guedes.
Para o CEO da Hertz, a grande vantagem de ser músico amador, mas também executivo, é o de poder comprar mais instrumentos. Actualmente, Duarte tem três guitarras eléctricas, duas acústicas e um baixo – algumas estão guardadas em casa, outras no estúdio. «É como coleccionar outra coisa qualquer. A pessoa tem que pensar que não é por comprar mais guitarras que será melhor músico. Mas é uma paixão», admite. Hoje em dia, a banda toca sobretudo em festas de anos ou casamentos. «Era importante tocarmos mais, mas só quando temos uma data fixa de um evento é que nos focamos mais a ensaiar. Nunca ganhámos dinheiro com esta actividade e também acho que não nos pagariam. Mas já pensei em comprarmos um bar, tocarmos todas as semanas e quem quisesse aparecia. Há pouca música ao vivo hoje em dia», sublinha o gestor, que toca “covers” de artistas como Brian Adams, Xutos e Pontapés, Oasis, Green Day ou The Strokes. 

MÚSICA E GESTÃO
Para o CEO, o mercado português é difícil para os músicos nacionais, mas por outro lado, são muitas as bandas de renome internacional que tocam em Portugal. «Vejo poucos bares de música ao vivo, mas a magia de um espectáculo é insubstituível. Acho que passou o medo de ser tudo música electrónica, volta-se sempre às raízes e ao passado e isso dá esperança», diz o gestor que tem duas grandes influências musicais – a música brasileira e o rock. Sobre o futuro, com o avançar da Inteligência Artificial, considera que o Chat GPT “até pode inventar musicas”, mas a criatividade irá sempre prevalecer. Ao mesmo tempo, as plataformas e redes sociais acabam por democratizar o acesso ao trabalho dos artistas.
Sobre as semelhanças entre uma banda e a gestão numa organização, Duarte considera que todos os elementos devem funcionar em conjunto para a construção de um bom trabalho. «Tal como numa empresa, é importante o planeamento quando temos um objectivo a cumprir. Se cruzarmos os braços não dá», avisa. Em relação às competências individuais, a resiliência, empatia e o diálogo construtivo são características fundamentais para o sucesso. «Cada um de nós faz uma parte do trabalho, mas também temos de nos sentir à vontade para fazer uma crítica. Isso implica confiança e transparência entre todos os elementos», conta.
Ou seja, é importante distribuir as partes musicais de acordo com as competências dos artistas que as irão executar. É igualmente fundamental separar os recursos que serão utilizados: partituras, instrumentos, microfones e deixar tudo em perfeito funcionamento para a execução do trabalho. Nas empresas é preciso tomar a mesma atenção, atribuindo tarefas de acordo com as competências dos colaboradores e fornecendo os recursos necessários aos projectos. Além disso, o líder terá de ser capaz de incentivar os colegas a segui-lo e a mostrar o caminho certo.
Da mesma forma, durante a preparação de uma música importa avaliar se está a ser executada conforme o pensado. Às vezes, uma simples alteração no volume de uma voz pode melhorar a qualidade. Nas empresas acontece a mesma coisa. Há relatório, indicadores de desempenho e pesquisa para monitorizar os dados e pode bastar um simples ajuste para impactar de forma positiva os resultados.
Para a tomada de decisão, o CEO explica que é preciso “ter a cabeça limpa”. «Numa organização, independentemente do tamanho, corremos sempre o risco de ir dormir com os problemas na cabeça. Mas é preciso descansar para podermos estar presentes a 100%. A música, pela sua envolvente técnica, obriga-me também a estar sempre concentrado para ir mais além», conclui Duarte Guedes, CEO da Hertz em Portugal.