Do “Jesus camarão” às avós que fazem mais de 100 anos: Está a IA a ‘matar’ a Internet?

Acontecem fenómenos (no mínimo) estranhos no Facebook hoje em dia – e não só. Se  pesquisar “shrimp Jesus” (“Jesus camarão”) no Facebook, poderá encontrar dezenas de imagens de crustáceos gerados por inteligência artificial (IA), combinados de várias formas com uma imagem estereotipada de Jesus Cristo.

<blockquote class=”twitter-tweet”><p lang=”en” dir=”ltr”>WHAT IS HAPPENING ON FACEBOOK <a href=”https://t.co/6XzTV5eBd3″>pic.twitter.com/6XzTV5eBd3</a></p>&mdash; Jorge Murillo 💙 (@TheHornetsFury) <a href=”https://twitter.com/TheHornetsFury/status/1767792068947329106?ref_src=twsrc%5Etfw”>March 13, 2024</a></blockquote> <script async src=”https://platform.twitter.com/widgets.js” charset=”utf-8″></script>

Algumas dessas imagens hiper-realistas já acumularam mais de 20.000 gostos e comentários. O caso não é único: a Executive Digest descobriu páginas inteiras dedicadas apenas à partilha de imagens, geradas por IA de forma a apelarem ao máximo de interação possível.

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Numa delas, contam-se a determinada altura dezenas e dezenas de imagens de idosas que fazem cento e muitos anos e que, nas publicações, dizem ter começado “a decorar bolos aos 5 anos”. Ficam claros os erros da IA em muitas delas: dedos em falta, dedos a mais, números e palavras com erros ou mal escritos.

Mas o que exatamente está a acontecer aqui?

Entramos na chamada teoria da “internet morta” que oferece uma explicação: o conteúdo gerado por IA e bots já superou o conteúdo gerado por humanos na Internet. Mas de onde surgiu esta ideia e tem ela alguma base na realidade?

A teoria da internet morta afirma que a atividade e o conteúdo na internet, incluindo contas de redes sociais, são predominantemente criados e automatizados por agentes de inteligência artificial.

Estes agentes podem criar rapidamente publicações acompanhadas de imagens geradas por IA, desenhadas para gerar interação (cliques, gostos, comentários) em plataformas como Facebook, Instagram e TikTok. Quanto ao “Jesus camarão”, ou às idosas com bolos de anos, parece que a IA aprendeu que são fórmulas para que as publicações se tornem virais.

Mas a teoria da internet morta vai mais além. Muitas das contas que interagem com este tipo de conteúdo também parecem ser geridas por IA. Cria-se assim um ciclo vicioso de interação artificial, sem uma agenda clara e sem envolver humanos.

Caça à interação inofensiva ou ameaça de propaganda?

Esta teoria sugere que as redes sociais são agora dominadas por conteúdo e interações geradas por bots, com o objetivo de manipular a opinião pública e gerar receita publicitária. A ideia de que grande parte da atividade online é artificial levanta questões sobre a autenticidade do que vemos e interagimos diariamente.

Embora a criação de conteúdo para gerar engajamento possa parecer inofensiva, há preocupações de que por trás deste fenómeno possa existir uma tentativa mais sofisticada e bem financiada de manipulação. Contas geridas por IA que acumulam muitos seguidores podem ser utilizadas para disseminar propaganda, apoiar regimes autocráticos e atacar opositores.

Evidências de Manipulação

Estudos mostram que as redes sociais têm sido manipuladas por bots para influenciar a opinião pública através da desinformação. Em 2018, recorda o The Conversation, uma análise de 14 milhões de tweets revelou que bots estavam significativamente envolvidos na disseminação de artigos de fontes não confiáveis. Este método de manipulação tem sido utilizado em vários contextos, incluindo após eventos de tiroteios em massa nos Estados Unidos e em campanhas de desinformação pró-Rússia.

Impacto e Resposta das Redes Sociais

A influência dos bots é significativa, com análises a indicar que quase metade do tráfego na internet em 2022 foi gerado por bots. Com os avanços na IA generativa, a qualidade do conteúdo falso tende a melhorar, aumentando a dificuldade de distinguir entre o real e o artificial.

As plataformas de redes sociais estão a tentar combater o uso indevido. Por exemplo, Elon Musk considerou exigir que os utilizadores do X paguem por uma subscrição para deter as fazendas de bots. No entanto, remover grandes quantidades de atividade de bots continua a ser um desafio – como admite o próprio:

Está a Internet mesmo ‘morta’?

A teoria da internet morta não sugere que todas as interações pessoais online são falsas, mas oferece uma perspetiva crítica sobre a evolução da internet, e os riscos a que devemos estar alerta. A rede que conhecíamos, feita por humanos para humanos, está a ser dominada por conteúdos artificiais e, por outro lado, a liberdade de criar e partilhar ideias online, que inicialmente deu poder à internet, pode facilmente ser explorada por agentes mal-intencionados – algo que acontece cada vez mais a uma grande rapidez, quase tanta quanto a da evolução da IA.

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