Diretor executivo do BCE diz que taxas têm de aumentar mais mas há risco de recessão prolongada

Fabio Panetta, diretor executivo do BCE, está a favor de aumentar ainda mais as taxas de juro para conter a inflação, mas alerta para o risco de uma subida excessiva poder empurrar a economia para uma recessão prolongada.

Num discurso numa conferência do mercado monetário organizada pelo Banco Central Europeu (BCE), o membro da direção executiva do BCE Fabio Panetta disse que “a direção da política monetária é clara”.

No entanto, acrescentou que, “embora a direção do aperto seja clara, a sua calibração não é, e o seu ponto final dependerá da evolução das perspetivas económicas e inflacionistas a médio prazo”.

“Nos últimos meses, o debate público sublinhou os riscos de fazer muito pouco para conter a inflação, pois isso exigiria um ajustamento mais doloroso no futuro, mas isso não nos deve levar a subestimar o risco de fazer muito” e a empurrar a economia para uma recessão prolongada, acredita Panetta.

O economista italiano observou que quando o BCE calibra a política monetária deve prestar muita atenção para garantir que a mesma “não amplifique o risco de uma recessão prolongada ou provoque perturbações no mercado”.

“É necessário um maior aperto da política monetária para manter as expectativas de inflação ancoradas e evitar efeitos de segunda volta”, disse Panetta.

Recordou que o BCE aumentou as taxas de juro em 200 pontos base nas suas três últimas reuniões, em julho, setembro e outubro.

“Esta é a subida mais rápida da taxa de juro na história do BCE”, salientou Panetta.

“Precisamos de levar a inflação até ao nosso objetivo de 2% o mais rapidamente possível, mas não antes”, porque podem ocorrer efeitos indesejáveis como a volatilidade excessiva e um abrandamento económico prolongado além do necessário para estabilizar a inflação a longo prazo, acrescentou.

Em relação à redução do balanço do BCE, Panetta acredita que deveriam assegurar que os reembolsos das operações de liquidez a três anos foram absorvidos antes de deixarem de reinvestir totalmente o dinheiro das obrigações compradas nos seus programas de compra de dívida vencidos.

Uma redução “gerida” da carteira de obrigações é preferível à venda de obrigações, que podem enervar os mercados num ambiente financeiro já de si volátil, na opinião da Panetta.

Salientou também que a escassez de garantias já prejudicou que as taxas de juro do BCE se transmitam às taxas de juro das operações de recompra em que uma instituição financeira vende um ativo a um investidor com o compromisso de o comprar de volta numa determinada data e a um determinado preço.

A alteração dos termos das operações de liquidez a três anos, para que os bancos devolvam os empréstimos do BCE antes do vencimento, “deveria ajudar a aliviar as tensões no mercado”, mas o BCE continuará a acompanhar a situação, salientou Panetta.

Ler Mais