Debate sobre sistema de Saúde com duas redes é ainda obstáculo à consolidação de um ‘cluster’ no setor, lamentam responsáveis

O debate sobre a dualidade dos setores público e privado no sistema de Saúde português é ainda um dos principais obstáculos à consolidação de um verdadeiro ‘cluster’ de Saúde em Portugal. A perspetiva foi manifestada por Joaquim Cunha, diretor executivo da Health Cluster Portugal e Isabel Vaz, CEO do grupo Luz Saúde, na mesa de debate ‘A importância de desenvolver um verdadeiro Cluster da Saúde’, na XIV Conferência Executive Digest.

Joaquim Cunha começou por destacar na intervenção que este cluster constitui “uma cadeia de valor, que pode e deve começar nas “universidades e institutos de investigação, já que a saúde é um dos setores com mais conhecimento científico”. A área é cada vez mais tecnológica e atualmente a cadeia de valor neste setor é de “cerca de 100 mil empresas” em Portugal, que representam “um volume de negócios de 34 mil milhões de euros, 6% do PIB. è um setor que emprega 400 mil pessoas, 8,5% do total de empregados em Portugal, e no ano passado exportou 2,5 mil milhões de euros”, sublinhou o responsável da Health Cluster Portugal.

Esta exportação “improvável” já representa mais do que mercados como o vinho ou a cortiça, estando em números próximos da exportação de calçado.” É importante para a valorização do conhecimento. Temos uma boa formação, as nossas universidades produzem muito bons profissionais”, explicou.

O diretor-executivo da Health Cluster Portugal apontou que a empresa mantém o foco em agendas específicas, para responder aos desafios da consolidação desta cadeia de valor: a agenda da inovação, a da internacionalização, a da digitalização e a dos dados.

Isabel Vaz, CEO do grupo Luz Saúde, aponta que o cluster de Saúde não é constituído apenas por hospitais, que “são uma ínfima parte” do todo. Recordando que “o setor da saúde é um dos maiores negócios em Portugal, que mexe com 10 a 12% da riqueza nacional”, aponta que é “um grande cluster económico e que tem ramificações a todas as áreas da economia”.

Os impactos das medidas de promoção em saúde e sociais, segundo a responsável, “têm impactos gigantes na economia”, sendo que a prevenção de doenças tem atualmente “um impacto de 23 milhões na força de trabalho da Europa”.

Para a líder do grupo luz Saúde, Portugal vive uma situação singular, por “50% da população tem acesso a uma rede paralela, o privado, com um crescimento gigante nos últimos anos”. O problema coloca-se por “uma retórica muito política” de oposição entre setores públicos e privado, e um preconceito de que no último setor “só se fazem coisas simples”. “A realidade é muito diferente de há 20 anos, o setor privado é completamente diferente”, afirma, exemplificando que o Hospital da Luz Lisboa já é a maior maternidade portuguesa.

“Temos que olhar não só para as exportações no que é obvio, da indústria farmacêutica, tecnologia, soluções digitais, mas também no ensino e formação. Falta um milhão de profissionais de saúde na Europa”, apontou Isabel Vaz, como uma oportunidade a aproveitar.

Há reconhecimento na formação, pelo que somos “perfeitamente capazes de exportar profissionais de saúde e fazer este cluster de educação no setor”, apontou a CEO da Luz Saúde.

Joaquim Cunha considerou que “a questão ideológica [ de desconfiança com os privados] é importante que passe definitivamente”. “A Saúde precisa que a Economia a ajude, mas o Ministério da Saúde ainda olha a estes temas como um custo. E não consegue dar o salto e ver as coisas de uma forma mais macro, como um investimento, naquele que é um dos setores de maior geração de riqueza”, identificou o responsável.

Isabel Vaz afirmou que Portugal terá de decidir “se a estratégia passa por continuar com um sistema de dois setores, que não trabalham para o mesmo objetivo”.

“Neste momento, no setor privado, continuamos a investir, sem ajuda do Estado, e fazemos este percurso tranquilos. Só precisamos que deixem as empresas respirar e seguir em frete”, alertou a CEO o grupo Luz Saúde, deixando ainda indicação de que “a lei laboral continua muito chata para a flexibilidade que exige a competitividade à escala global”.

A XXVIV edição da Conferência Executive Digest, um dos eventos mais relevantes do setor empresarial nacional, que reúne Presidentes, CEOs e gestores de referência, rostos e principais elementos do tecido empresarial português, decorre esta manhã, sob o mote “As oportunidades que Portugal não pode desperdiçar”.

Entre os oradores no evento contam-se nomes como Paulo Macedo, presidente da Comissão Executiva e vice-presidente do Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Pedro Dominguinhos, presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR, Helena Vieira, coordenadora de investigação na Universidade de Aveiro, Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, Marios Henrique Silva, líder de Digital e Inovação na MC/Sonae, Isabel Vaz, CEO da Luz Saúde, João Mestre, diretor de Sustentabilidade na Fidelidade ou Pedro Brito, associate dean na Nova SBE.

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