“Causar dissuasão suficiente para que o outro lado não pense que pode avançar”: Portugal deve investir em Defesa preventivamente, alerta almirante Gouveia e Melo

O almirante Gouveia e Melo defendeu, em entrevista à ‘CNN Portugal’, um maior investimento na Defesa se Portugal e a Europa quiserem estar preparados para um eventual conflito com a Rússia. “Temos de causar a dissuasão suficiente para que o outro lado não pense que pode avançar para além do que já avançou”, refere. “Há vontade para investir? Se não o fizermos daremos um sinal de fraqueza ao outro lado, que pensará que pode prosseguir a sua estratégia e lentamente ir avançando para oeste. Esta é a grande questão. Aquilo que os chefes militares estão a fazer é mostrar a necessidade de agir preventivamente ao problema, porque reagir ao problema será sempre 20 vezes pior.”

Em Portugal, de acordo com o responsável militar, “os meios atuais não são suficientes se considerarmos que estamos num momento internacional muito crítico com uma eventual escalada”. “É importante ter uma força credível e capaz de manter pelo menos a capacidade de vigilância dissuasora de qualquer atividade contrária aos interesses do Estado português e dos nossos aliados, no nosso mar, que é imenso.”

“Ao fazer esse investimento estamos a alavancar a nossa indústria, as nossas capacidades tecnológicas, capacitando também a economia nacional”, precisa o almirante, dando o exemplo da aquisição de submarinos. “O casco e as máquinas fazem parte de um todo que tem software e outro tipo de equipamento. O verdadeiro valor do submarino está no miolo e aí, podem participar empresas portuguesas e desenvolver tecnologias que se podem aplicar a outros submarinos e navios”.

“Portugal foi membro fundador da NATO e há um artigo que diz que todos nós teremos de defender um país da NATO que seja atacado. Portanto, não podemos ter assinado um contrato só para as coisas boas”, aponta, lembrando que “não se discutir não é solução, não podemos enfiar a cabeça na areia”.

“Entre a cooperação e a confrontação há uma área intermédia, onde o mais importante é o efeito dissuasor do inimigo. É importante que eles percebam que, se for necessário, estamos preparados para nos defendermos”, sustenta, garantindo não ser um defensor do serviço militar obrigatório.

“Não defendo o serviço militar obrigatório nos moldes que nós conhecemos antigamente, porque não acrescentava grande produto. Defendo um sistema que seja capaz de mobilizar a população, formando e treinando em antecedência a população, sem afetar muito quer a liberdade quer a economia dessa população. Esse sistema que já foi testado noutros países com sucesso, retira o conhecimento que existe hoje só nos exércitos profissionais e alarga esse conhecimento de forma mais abrangente à própria população. E isso só por si é uma capacidade mobilizadora em caso de necessidade e de substituir se houver perdas humanas.”

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