Dançar para produzir energia? Há uma sala de espetáculos que usa o calor corporal para aquecer o recinto

Numa altura em que a crise energética assombra a Europa, temendo-se ‘apagões’ no inverno, em especial no Reino Unido, onde a primeira-ministra já admitiu que poderão existir, uma conhecida sala de espetáculos em Glasgow, na Escócia, pôs em marcha um revolucionário sistema de energia renovável que pode revelar-se uma ajuda na poupança de energia. No SWG3, parte da energia utilizada pela sala nos espetáculos vai provir dos movimentos de danças de quem está na plateia.

Na famosa sala, onde ocorrem concertos de grandes nomes da música inglesa e internacional, foi agora ligado o ‘Bodyheat’: consiste no reaproveitamento do calor gerado pelos espectadores que se abanam ao som da música na pista de dança.

O calor gerado é ‘canalizado’ através de um sistema de tubagens, por meio de um fluído, até uma série de perfurações metálicas a 200 metros de profundidade, que são ‘carregadas’ como se de uma bateria de calor se tratasse.

A energia, que serve acima de tudo para efeitos de climatização, viaja depois de volta através de bombas de calor, é convertida na temperatura adequada (quente ou fria) e depois emitida para os espaços do SWG3.

Segundo os proprietários da sala, citados pela BBC, o sistema permitirá desligar as caldeiras a gás, reduzindo as emissões de carbono daquele espaço em cerca de 70 toneladas de dióxido de carbono por ano. A ideia é que o SWG3 atinga o patamar de zero emissões de carbono até 2025.

David Townsend, fundador da TownRock Energy, consultora de energia geotermal que desenvolveu o projeto, explica que a energia produzida varia conforme a banda que está em palco (e, consequentemente, dos movimentos de dança mais ou menos intensos feitos pelo público). “Se estivermos a começar a dançar, a um ritmo médio, músicas dos Rolling Stones ou de uma banda semelhante, podem estar a ser gerados até 250 watts. Mas, de tivermos um DJ, com linhas de baixo intensas que fazem toda a gente saltar, podemos estar perante uma média de 500 a 700 wats de energia térmica gerada”, adianta Townsend.

Investimento considerável antes da poupança
O ‘Bodyheat’ esteve três anos em desenvolvimento, com apoio do governo escocês e de uma série de fundos. O sistema de aquecimento e refrigeração tem um custo de instalação de mais de 680 mil euros. Os donos do SWG3 dizem que foi um “salto de fé” o lançamento do projeto, mas estão confiantes de que o investimento vai trazer retorno muito em breve.

“Para pormos em perspetiva, se tivéssemos adotado um sistema mais convencional, com aquecedores ou ar condicionado, os custos seriam cerca de 10% dos que gastámos, ou seja perto de 68 mil euros”, explica Andrew Fleming-Brown, diretor do SWG3.

Apesar do custo alto, as poupanças feitas nas faturas de energia fazem com que o investimento esteja pago em cerca de cinco anos, calculam os responsáveis.

“Se conseguirmos que funcione aqui, não há razão para não se fazer noutras salas de espectáculos, aqui na Escócia e no Reino Unido, mas também na Europa e por todo o mundo”, continua Fleming-Brown. Os responsáveis pelo projeto têm já ambições de instalar um sistema igual na discoteca SchwuZ, em Berlim.

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