“Da sobrecarga à produtividade: Como lidar com os desafios internos da transformação digital na indústria”

Fernando Pacheco, COO e Sócio da PackIOT

 

As nossas extensas conversas com líderes da indústria em quatro continentes revelaram um tema recorrente: o desafio persistente de restrições de recursos internos e sobrecarga de trabalho no âmbito da transformação digital. De acordo com uma pesquisa de 2020 da Gartner, 79% das organizações estão atualmente na fase de transformação digital, mas muitas estão a enfrentar dificuldades devido à falta de recursos internos. Organizações que se esforçam para embarcar nessa jornada transformadora deparam-se frequentemente com a falta de capacidade interna ou excesso de responsabilidades que impedem a sua dedicação completa às iniciativas digitais. Neste artigo, aprofundaremos essa questão prevalente, fornecendo insights práticos e exemplos para ajudar as organizações a superarem esses obstáculos e impulsionarem uma transformação digital global bem-sucedida.

A transformação digital abrange muitos projetos interconectados, abrangendo várias áreas das operações de uma organização. Desde a implementação de sistemas robustos de gestão de relacionamento com o cliente (CRM) até a integração de tecnologias de inteligência artificial (IA) e o lançamento de um novo sistema ERP, cada iniciativa exige um investimento significativo de tempo, esforço e expertise. No entanto, recursos internos limitados e prioridades concorrentes frequentemente minam o progresso e o sucesso desses esforços.

A indústria de manufatura enfrenta desafios únicos quando se trata de transformação digital. Restrições de recursos e cargas de trabalho intensas podem impactar significativamente a produtividade, agilidade e competitividade geral. Vamos explorar como as organizações do setor manufatura podem enfrentar esses desafios e otimizar seus esforços de transformação digital.

 

Abraçar a Indústria 4.0 e a Indústria 5.0 como parte da estratégia, de cima a baixo (e juntos)

As lideranças podem aproveitar as tecnologias da Indústria 4.0, como Internet das Coisas (IoT), análise de big data, automação e robótica, para otimizar as operações e aumentar a produtividade. Ao implementar fábricas inteligentes e digitalizar processos-chave, os fabricantes podem otimizar a utilização de recursos e reduzir a carga de trabalho manual. Além disso, à medida que a indústria avança em direção à Indústria 5.0, que enfatiza a integração de seres humanos e tecnologias avançadas, os gestores e gestoras podem aproveitar novas oportunidades para superar as restrições de recursos. Essa mudança de paradigma se concentra na colaboração entre seres humanos e sistemas inteligentes, combinando as forças da automação e da inteligência artificial com a criatividade humana, habilidades de resolução de problemas e adaptabilidade.

Ao aproveitar técnicas avançadas de análise, como aprendizado de máquina e inteligência artificial, as companhias podem obter maior visibilidade de seus processos, identificar oportunidades de otimização e tomar decisões baseadas em dados para alocar recursos de forma eficaz. Ao automatizar tarefas repetitivas e intensivas em mão de obra, as empresas podem libertar a sua força de trabalho para se concentrar em atividades mais estratégicas. Recentemente vivemos essa experiência com um cliente em Singapura, para o qual entregamos uma solução que integrava o ChatGPT ao manual do complexo ERP daquela fábrica. Além disso, robôs colaborativos (cobots) podem trabalhar ao lado de operadores humanos, aumentando a eficiência, reduzindo erros e aumentando a capacidade de produção geral.

Ao abraçar as tecnologias da Indústria 4.0 e da Indústria 5.0, as fábricas podem não apenas otimizar a alocação de recursos e a gestão da carga de trabalho, mas também impulsionar a inovação, melhorar a qualidade do produto e aprimorar sua vantagem competitiva no mercado global. Essa abordagem holística capacita essas empresas industriais a enfrentar os desafios impostos pelas restrições de recursos, ao mesmo tempo que aproveitam as oportunidades apresentadas pelos avanços mais recentes em digitalização e automação inteligente.

E, é claro, essa abordagem tem muito a ver com ESG. De acordo com a Gartner, 86% dos líderes corporativos consideram a sustentabilidade, um pilar-chave dos critérios ESG (ambiental, social e governança), como um investimento para proteger as suas empresas de possíveis interrupções. À medida que o ESG, especialmente a sustentabilidade, emerge como uma preocupação crítica para as empresas, as tecnologias que sustentam a Indústria 4.0 estão a capacitar as organizações a perceberem os benefícios comerciais de enfatizar esses princípios ESG e participar de uma economia circular. Essas tecnologias facilitam a identificação de métodos para reduzir emissões, um dos aspetos ambientais do ESG, e acelerar o progresso em direção a metas de neutralidade de carbono em um ritmo sem precedentes.

“Ok, mas isso ainda não resolve o meu problema”, você pode pensar.

 

Desenvolver habilidades digitais dentro da força de trabalho

A transformação digital requer uma força de trabalho qualificada, capaz de operar e manter tecnologias avançadas. De acordo com um relatório de 2019 da Deloitte, 62% das empresas de manufatura veem a falta de mão de obra qualificada como um dos principais obstáculos para a implementação da transformação digital. As lideranças fabris devem investir em programas de formação para capacitar os funcionários em áreas como análise de dados, cibersegurança e automação. Ao desenvolver uma força de trabalho digitalmente proficiente, as organizações podem gerir eficientemente iniciativas digitais e superar restrições de recursos. É uma mudança de mentalidade, não apenas adquirir novas habilidades técnicas.

Para desenvolver habilidades digitais dentro da força de trabalho, os fabricantes podem estabelecer programas abrangentes de formação que se concentrem no desenvolvimento de competências relevantes para a transformação digital. Esses programas podem incluir tanto a aprendizagem em sala de aula quanto experiências práticas. As sessões de formação podem abranger tópicos como análise de dados, cibersegurança, computação em nuvem, automação e tecnologias emergentes específicas da indústria da manufatura. Idealmente, uma abordagem prática tornaria esse esforço mais válido. Ao investir no crescimento e desenvolvimento de literacia digital sua força de trabalho, as empresas não apenas aprimoram as capacidades dos seus funcionários, mas também criam um pipeline de talentos equipados com as habilidades necessárias para navegar no cenário de presente e futuro.

Além do desenvolvimento de habilidades digitais, as empresas devem promover uma mentalidade de inovação e agilidade dentro de sua força de trabalho. Encorajar os funcionários a pensar criticamente, abraçar a mudança e experimentar novas tecnologias e processos pode impulsionar a melhoria contínua e permitir que as equipes se adaptem ao cenário digital em constante evolução. Os líderes e as líderes podem estabelecer laboratórios de inovação ou espaços designados onde os funcionários possam colaborar, gerar ideias e prototipar soluções, promovendo uma cultura de inovação e solução criativa de problemas. Ao investir no desenvolvimento de habilidades digitais e cultivar uma cultura de formação e inovação contínuos, podem construir uma força de trabalho competente e adaptável, capaz de gerir efetivamente iniciativas digitais. Isso garante que a organização tenha ativos internos necessários para superar as restrições de recursos, impulsionar uma transformação digital bem-sucedida e se manter à frente no cenário de manufatura em constante mudança.

 

Você não precisa de fazer tudo sozinho: parceiros externos estratégicos são fundamentais 

As fábricas podem superar as restrições de recursos colaborando com parceiros tecnológicos especializados em soluções de transformação digital para o setor da manufatura. Esses parceiros podem fornecer expertise em áreas como manufatura inteligente, cadeia de suprimentos digital e automação industrial. Os fabricantes podem otimizar a alocação de recursos e acelerar a sua jornada de transformação digital aproveitando as capacidades externas. Um relatório da Deloitte descobriu que 57% das empresas citaram o foco em seu negócio principal como uma razão-chave para a terceirização das funções de TI, o que implica que parcerias com fornecedores de serviços de TI ajudam-nas a trabalhar de forma mais rápida e eficiente nas suas principais operações comerciais.

Uma abordagem eficaz é colaborar com consultorias e empresas de tecnologia que possam se integrar à sua organização, trabalhando em colaboração com sua equipe. Isso pode ser feito por meio de processos como design sprints, innovation garages ou utilizando serviços como CTO-as-a-Service ou CIO-as-a-Service. Esses acordos envolvem a alocação de recursos do parceiro de tecnologia para trabalhar diretamente dentro da empresa em uma base diária. Eles assumem a responsabilidade de gerir todo o projeto de transformação digital, atuando como intermediários entre a sua organização e o fornecedor de tecnologia. Isso permite que a sua equipa interna se concentre nas operações diárias, enquanto o parceiro navega entre diferentes áreas e garante alinhamento entre estratégia e execução da transformação digital.

Para implementar com sucesso essa abordagem, os executivos de alto nível devem estar totalmente comprometidos com “revolução digital”. Eles devem defender o envolvimento de parceiros externos, zelar pela estratégia de médio e longo prazo e envolverem-se ativamente na colaboração. Além disso, é benéfico ter um defensor interno que patrocine e apoie o projeto (sponsor ou champion). Esse profissional pode ajudar a facilitar a comunicação, preencher lacunas entre as equipas e garantir a implementação bem-sucedida das iniciativas digitais. De acordo com um estudo da PwC, mais de 60% dos CEOs globalmente acreditam que a inovação por meio de parcerias estratégicas impulsionará a estratégia de crescimento de suas empresas.

Ao abraçar parcerias externas e aproveitar sua expertise, os fabricantes podem abordar efetivamente as restrições de recursos, ao mesmo tempo em que aceleram a sua transformação digital. Essa abordagem colaborativa permite que as organizações beneficiem de conhecimento especializado, gestão de projetos contínuo e canais de comunicação simplificados. Isso permite que as empresas  otimizem a alocação de recursos, aprimorem a eficiência operacional e obtenham resultados bem-sucedidos na transformação digital.

 

Conclusão

De acordo com uma pesquisa da Gartner, mais de 50% dos CEOs relataram que melhorias digitais levaram a um aumento de receita em suas respecivas empresas. Superar as restrições de recursos internos e os desafios de carga de trabalho nas iniciativas globais de transformação digital requer uma abordagem multifacetada que engloba priorização estratégica, colaboração interfuncional, parcerias externas, desenvolvimento de talentos e otimização de processos. Ao adotar essas estratégias e se inspirar em exemplos bem-sucedidos, as organizações podem otimizar a alocação de recursos, gerenciar as cargas de trabalho de forma mais eficaz e impulsionar sua jornada de transformação digital rumo ao sucesso em escala global.

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