Da Rússia à China, passando por Israel e Ucrânia: como viram estes países o debate Biden/Trump?

Quando os americanos escolhem o seu próximo presidente, a disputa é sempre acompanhada de perto em todo o mundo, uma vez que a política externa dos EUA – e as ações da Casa Branca – têm impacto em diferentes partes do globo. É por isso com redobrado interesse que foi acompanhado o debate entre Joe Biden e Donald Trump desta quinta-feira.

Os britânicos da ‘BBC’ recolheram as opiniões de alguns correspondentes estrangeiros para saber como é que esta ‘revanche’ eleitoral está a agitar os respetivos países.

Russos observarão de perto a instabilidade

Quem é o preferido de Vladimir Putin? O homem que o chamou de assassino e prometeu apoiar Kiev? Ou o candidato que criticou a assistência militar dos EUA à Ucrânia e disse que encorajaria Moscovo a fazer “tudo o que quiserem” a qualquer membro da NATO que não cumpra as diretrizes de despesas em Defesa sem consequências.

Surpreendentemente, o líder do Kremlin declarou publicamente que preferia que Joe Biden mantivesse o cargo devido à sua “previsibilidade”. Tal endosso público, porém, deveria ser recebido com desconfiança.

Em 2016, um oficial russo admitiu ter comemorado a vitória de Trump com um charuto e uma garrafa de champanhe. As autoridades russas esperavam uma melhoria nas relações Rússia-EUA – que nunca se materializou. Quem pode dizer que uma segunda presidência de Trump não deixaria Moscovo com a mesma sensação de desilusão?

Independentemente de quem vença a corrida à Casa Branca, as autoridades russas estarão atentas a sinais de instabilidade política pós-eleitoral e de polarização na América e à procura de formas de beneficiar.

As maiores diferenças são sobre Taiwan

Ambos os candidatos pretendem ser duros com Pequim e têm políticas económicas semelhantes para combater a ascensão da China, incluindo o aumento das tarifas sobre produtos chineses baratos. Mas têm abordagens diferentes para contrariar a influência regional chinesa.

Biden reforçou as relações no país, na esperança de que uma frente unida enviasse uma mensagem clara a uma Pequim cada vez mais assertiva. No entanto, enquanto presidente, Trump concentrou-se menos em ser um estadista e mais no que considerou ser o “melhor negócio” – ameaçou mesmo retirar as tropas americanas da Coreia do Sul, a menos que Seul pagasse mais dinheiro a Washington.

A maior diferença entre os dois está em Taiwan. Em várias ocasiões, Biden reiterou a promessa de defender a ilha autónoma se o presidente Xi cumprir a sua promessa de reunificar Taiwan com o continente, pela força, se necessário. Mas Trump acusou Taiwan de minar as empresas americanas e manifestou a sua oposição a um projeto de lei dos EUA que enviava ajuda, o que levantou questões sobre se estaria disposto a ajudar Taipei, se necessário.

Quando os EUA votarem, é pouco provável que a China tenha um favorito na luta.

Ucranianos são espectadores em votações de alto risco

Talvez não haja um país estrangeiro para quem as eleições nos EUA sejam mais importantes do que a Ucrânia. Todos sabem que o apoio dos EUA na forma de dinheiro e armas tem sido vital para sustentar o esforço de guerra da Ucrânia. Poucos acreditam que a Europa poderia rapidamente ou facilmente preencher qualquer lacuna.

Mas em Kiev, a maioria das pessoas está menos concentrada nos meandros da campanha do que seria de esperar. Isto porque novembro – data das eleições presidenciais americanas – ainda vem longe: existem preocupações mais prementes perante os ataques russos.

Os ucranianos estão conscientes do que se diz sobre a Ucrânia durante a campanha. Quando se trata de Donald Trump, os analistas sabem que ele garantiu que ia pôr fim à guerra “em 24 horas” e cortar o apoio militar. Embora alguns temam que ele possa forçar a Ucrânia a um acordo de paz que não lhe agrada, os especialistas alertam que o que importa é o que alguém faz no cargo, e não o que diz durante a campanha ou num debate.

Mais incerteza para o Reino Unido

Os políticos britânicos encaram as eleições nos EUA com certa apreensão. Por um lado, existe um nervosismo relativamente a potenciais decisões que possam afetar o Reino Unido. Será que o regresso do Trump à Casa Branca enfraqueceria o apoio militar dos EUA à Ucrânia e aproximar-se-ia de Vladimir Putin?
Será que escolheria outra luta com a Europa por causa da aliança militar da NATO? Desencadearia uma guerra comercial com a China?

Do outro lado, Biden, no segundo mando, aumentaria o isolacionismo e o protecionismo dos EUA? Está fisicamente preparado para o papel durante mais quatro anos?

Há outra preocupação: um resultado renhido a 5 de novembro, que não seja aceite como legítimo por muitos eleitores americanos, pode levar a uma violência política pior do que a invasão do Capitólio em janeiro de 2021. Uma crise da democracia americana pode prejudicar a liderança global dos EUA e encorajar autocratas em todo o mundo.

Mais judeus israelitas apoiam Trump em vez de Biden

Ambos os candidatos estão a ser observados de perto, sabendo que a corrida à Casa Branca terá consequências reais. O presidente Biden apoiou fortemente Israel e continuou a fornecer armas ao país, apesar de se ter tornado mais crítico em relação aos combates e ao elevado número de civis palestinianos mortos. As sondagens sugerem que há uma parcela maior de judeus israelitas que pensa que Trump seria melhor para Israel do que Biden. A maioria desaprova a forma como Biden lidou com a guerra.

A longo prazo, o presidente Biden continua a apoiar uma solução de dois Estados – a fórmula internacional estabelecida para a paz – embora não tenha apresentado um plano concreto para a alcançar. Trump questionou a viabilidade de um Estado palestino independente.

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