Crise no comércio internacional não está só no Mar Vermelho: alterações climáticas ameaçam o Canal do Panamá

A crise no comércio mundial não se esgota no Mar Vermelho: noutro ponto do mundo, mais concretamente no Canal do Panamá, os efeitos das alterações climáticas estão a fazer-se sentir, com a seca vivida na região a obrigar a reduzir o fluxo de passagem de navios, o que causou enormes estrangulamentos no comércio marítimo.

O nível das águas no Canal do Panamá caiu 1,8 metros abaixo do normal em 2023, o que levou a Autoridade do Canal do Panamá (ACP) a reduzir o número de navios autorizados a atravessá-lo. Em agosto de 2023, limitaram o fluxo de 36 para 31 navios por dia; em novembro, nova redução, agora para 24 navios. Atualmente, passam diariamente 22 navios diariamente pelo canal, o que corresponde a 3% do comércio mundial.

O ACP justificou, em dezembro último, a decisão. “Trata-se de uma medida de restrição em resposta à situação apresentada pelo Lago Gatún, que regista níveis mínimos sem precedentes para esta época do ano, devido à seca provocada pelo fenómeno ‘El Niño’”, frisou, em comunicado, que salientou que o objetivo era reduzir progressivamente o número de navios para 18 no próximo mês de fevereiro – o ACP modificou os planos e vai fixar o limite em 24 navios.

As medidas tiveram diversas consequências no tráfego naval avaliado em 270 mil milhões de dólares anuais: algumas empresas de navegação, com o objetivo de garantir a passagem dos seus navios o mais rapidamente possível, optaram por pagar as licenças leiloadas pelo ACP – ao todo, foram destinados 235 milhões de dólares em 2023, 20% a mais do que foi pago em 2022.

O Canal do Panamá procura várias soluções para enfrentar a seca, uma vez que as receitas geradas pelo canal são estimadas em 4,3 mil milhões de dólares. Uma das opções para a estação seca – entre dezembro e abril – é bombear água do Lago Alajuela, um lago artificial que atua como reservatório secundário. Se as chuvas começarem em maio, esta é uma solução viável no curto prazo.

Outra questão é a longo prazo, mais complicada. Em marcha está uma alternativa que consiste em extrair água do rio Índio para despejá-la no Gatún, o principal reservatório do canal – mas para isso, é necessário transportar a água através de uma conduta de 8 quilómetros, construída numa zona montanhosa. O projeto está avaliado em 2 mil milhões de dólares e conta com a participação do Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos, um dos principais interessados na melhoria das condições no Canal do Panamá. As estimativas apontam que esta solução poderia fazer aumentar o tráfego do canal em mais 11 ou 15 embarcações. No entanto, demoraria 6 anos para ser construída e iria contar com resistência dos habitantes locais.

Em cima da mesa está também a criação de nuvens artificiais, embora este seja um método mais funcional em climas secos, diferentes do clima tropical do Panamá.

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