Crenças e ceticismo têm lugar numa pandemia? Há cada vez mais defensores de teorias da conspiração, revela estudo

Há cada vez mais defensores, espalhados um pouco por todo o mundo, de que a Covid-19 foi criada deliberadamente, matou muito menos pessoas do que é relatado, ou ainda, que não passa de um embuste e não existe de facto, de acordo com um inquérito global.

Juntamente com a crença em teorias de conspiração, o Projeto de Globalismo YouGov-Cambridge – um inquérito realizado a cerca de 26.000 pessoas em 25 países, concebido em colaboração com o The Guardian – revelou ainda um amplo e preocupante ceticismo no que toca à segurança das vacinas contra a Covid-19.

Neste sentido, pelo menos um em cada cinco inquiridos em quase todos os países abrangidos pelo inquérito manifestou preocupação com as vacinas. O país que se destaca mais neste ponto é África do Sul, com 57%.

Entre as conspirações mais amplamente acreditadas de covid está que a taxa de mortalidade do vírus, que segundo a Universidade Johns Hopkins matou até agora mais de 1,155 milhões de pessoas em todo o mundo, tem sido “deliberada e muito exagerada”.

Cerca de 60% dos inquiridos na Nigéria afirmaram que tal era “definitivamente ou provavelmente verdade”, juntamente com mais de 40% na Grécia, África do Sul, Polónia e México. Cerca de 38% dos americanos, 36% dos húngaros, 30% dos italianos e 28% dos alemães sentiram o mesmo.

Se por um lado a pandemia levou algumas pessoas a confiarem mais nos especialistas, por outro lado, desencadeou uma onda de desinformação e notícias falsas propagadas e conspirações que se têm espalhado nas redes sociais.

“Qualquer acontecimento assustador – uma pandemia, um tiroteio em massa – que nega às pessoas um sentido de controlo levar a uma proliferação de teorias de conspiração”, disse ao The Guardian Stephan Lewandowsky, um psicólogo cognitivo da Universidade de Bristol e perito em desinformação.

As teorias da conspiração “dão às pessoas uma sensação de conforto psicológico: a sensação de que não estão à mercê da aleatoriedade. São perigosas em qualquer altura, mas mais ainda numa pandemia, se levarem as pessoas a ignorarem os conselhos oficiais, ou a cometerem atos de vandalismo ou violência”, acrescentou.

Estas teorias também prosperaram sobre a “incapacidade dos governos de ter uma mensagem clara”, disse. “São outra razão pela qual todos nós precisamos de uma política clara, consistente e baseada em provas, em que se possa confiar”.

Entre outros países, cerca de um em cada quatro franceses e um em cada cinco britânicos e espanhóis inquiridos acreditava que a taxa de mortalidade do vírus tinha sido exagerada, enquanto os australianos, suecos e japoneses mostraram-se mais propensos a rejeitar tal crença.

O inquérito revelou ainda que um número significativo de pessoas achava que o vírus sido “deliberadamente criado e espalhado” pelo governo chinês ou americano. Já na Polónia, uma em cada cinco pessoas acreditava que era definitivamente ou provavelmente um mito completo, criado por “forças poderosas” não identificadas. Mais ou menos as mesmas proporções na Turquia, Egipto e Arábia Saudita disseram concordar com essa ideia, enquanto nos Estados Unidos o número atingiu os 13%.

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