Covid-19: uso de antivirais como o molnupiravir pode estar a alimentar a evolução do vírus, garante estudo

Um medicamento antiviral usado para tratar pacientes com Covid-19 pode estar a causar mutações no vírus e a alimentar a evolução de novas variantes, alertou esta terça-feira um estudo do Instituto Francis Crick, em Londres. O molnupiravir, que também é vendido sob a marca Lagevrio, foi concebido para transformar o coronavírus até à sua destruição, no entanto os investigadores encontraram evidências de que o vírus pode, por vezes, sobreviver ao tratamento numa versão mutada que depois se espalha por outras pessoas.

De acordo com o estudo, não há provas de que o molnupiravir tenha produzido variantes mais perigosas da Covid-19 mas as mutações aumentaram a diversidade genética do vírus na natureza e forneceram mais opções para a evolução futura. “As pessoas têm algumas preocupações sobre o molnupiravir e, em certo sentido, isto torna-as mais concretas”, referiu Theo Sanderson, principal autor do estudo. “Sabemos que estes vírus podem ainda estar vivos após um número significativo de mutações e ainda podem ser transmissíveis em alguns casos.”

O estudo, publicado na revista ‘Nature’, descreveu as inúmeras evidências que sugerem que o molnupiravir pode ocasionalmente produzir formas altamente mutadas, mas viáveis, do vírus da Covid-19. Os cientistas pesquisaram bases de dados globais, com mais de 15 milhões de genomas da Covid-19 e encontraram mutações marcantes no vírus a partir de 2022, após a introdução do molnupiravir.

Além de detetar mutações características nos vírus, os cientistas descobriram que estas eram mais comuns em países que usavam mais molnupiravir, como Reino Unido, Austrália, Estados Unidos e Japão: as mutações características eram mais comuns em vírus retirados de pacientes mais velhos que tinham maior probabilidade de terem sido tratados com o medicamento.

Mas as implicações das mutações ainda não eram claras. “A assinatura é muito clara mas não existem variantes de grande circulação que tenham a assinatura. No momento não há nada transmitido amplamente que seja devido ao molnupiravir”, reconheceram os cientistas. Segundo Chris Butler, coinvestigador do ensaio, o molnupiravir “pode ser muito útil para acelerar a recuperação entre trabalhadores-chave, por exemplo, durante períodos de alta pressão nos serviços. Mas definitivamente não deve ser usado como uma abordagem de ‘tratamento para todos'”.