Covid-19: Mais de metade das crianças portuguesas testaram positivo. 40% passaram mais tempo na TV, jogos e redes sociais e 20% comeram mais doces

É hoje apresentado um estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com coordenação científica do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), que mostra uma visão abrangente sobre como a pandemia da Covid-19 influenciou as rotinas e comportamentos das crianças em idade escolar (6-10 anos) em 17 Estados-membros da OMS-Europa. Em particular, no período entre 2020 e 2022, verificou-se que os mais novos tiveram incrementos nas relações familiares, mas sofreram alterações de hábitos alimentares, de comportamentos de sociabilização ou prática de atividade física.

O estudo “O impacto da pandemia da COVID-19 na rotina diária e comportamentos das crianças em idade escolar na Europa”, que se centra no referido período pandémico, indica que o convívio familiar intensificado durante a pandemia teve impactos positivos nas dinâmicas familiares.
Observou-se um aumento significativo na “partilha das refeições em família” (29%) e na prática de “preparar refeições em conjunto com a criança” (30%). Além disso, 28% das famílias optaram por “comprar alimentos em grandes quantidades” em vez de fazerem compras frequentes nos supermercados.

Alterações no Consumo Alimentar

Os dados também apontam para mudanças nos hábitos alimentares durante a pandemia. Houve um incremento no consumo de frutas (10,3%), hortícolas (7,0%) e lacticínios (10,8%). Contudo, cerca de 20% das famílias relataram que os seus filhos começaram a consumir mais snacks salgados e doces, como rebuçados, gomas, bolos e gelados.

Prevalência da COVID-19 em Portugal

Entre 2020 e 2022, Portugal enfrentou números preocupantes no que diz respeito à prevalência da COVID-19 entre as crianças. Surpreendentemente, 55,3% das crianças testaram positivo para o vírus e foram obrigadas a cumprir isolamento domiciliário, bem acima da média dos países europeus considerados, de 22% das crianças.

O estudo apurou que a pandemia exacerbou as dificuldades financeiras das famílias europeias. A nível global, mais famílias reportaram “dificuldade em chegar ao fim do mês sem grandes problemas financeiros”. Em Portugal, 11,4% das famílias sentiram uma deterioração na sua perceção de riqueza durante este período.

A investigação destaca um declínio no tempo dedicado a atividades lúdicas em uma em cada quatro crianças. Paralelamente, houve um aumento alarmante nos comportamentos sedentários. Quase 40% das crianças passaram mais tempo em atividades como assistir televisão, jogar jogos de vídeo ou utilizar redes sociais. Adicionalmente, 34% das crianças passaram mais de três horas por dia em aprendizagem remota, incluindo a “telescola”.

Pela primeira vez, este estudo abordou variáveis relacionadas ao bem-estar psicossocial das crianças. A capacidade das crianças “se divertirem com os amigos” piorou em 42% dos casos, e houve um aumento na perceção de tristeza e solidão, afetando uma em cada cinco crianças.

O estudo, liderado pela investigadora do INSA, Ana Rito, analisou dados de quase 55 mil famílias e crianças, com uma maioria de rapazes (51,8%) e crianças de 8 anos de idade (54,8%). Em Portugal, o estudo COSI-COVID, parte do 6º Round do COSI (2021-2022), corroborou muitos destes resultados. Dos 5139 famílias participantes, 55,3% das crianças testaram positivo para COVID-19.

O estudo destaca a necessidade urgente de políticas eficazes que promovam ambientes alimentares saudáveis, incentivem a atividade física e protejam o bem-estar global das famílias em face dos desafios impostos pela pandemia da COVID-19.

Os resultados são esta manhã apresentados numa sessão que contará com responsáveis da OMS, mas também a ministra da Saúde Ana Paula Martins, Fernando Almeida, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) ou Adalberto Campos Fernandes, da Escola Nacional de Saúde Pública.

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