Cova da Moura: Família de homem morto a tiro por polícia vai apresentar queixa contra a PSP

A família de Odair Moniz, o homem de 43 anos que foi morto a tiro por um agente da PSP na segunda-feira, na Cova da Moura, anunciou que irá apresentar uma queixa contra a PSP, acusando-a de arrombar a porta da casa da viúva e de ter entrado violentamente na residência. O incidente, que terá ocorrido na noite de terça-feira, foi denunciado pela advogada da família, Catarina Morais, que afirmou que vários agentes da equipa de intervenção rápida voltaram ao bairro do Zambujal, na Amadora, onde amigos e familiares de Moniz estavam a fazer o luto.

A PSP, no entanto, nega “categoricamente” que tenha arrombado qualquer porta ou que se tenha deslocado à casa da família. “Não fomos a casa de qualquer morador”, afirmou um porta-voz da polícia, acrescentando que, caso seja apresentada uma queixa, “será investigado”. Quando questionado sobre a possibilidade de averiguar quem teria arrombado a porta, o porta-voz limitou-se a dizer que o caso será apurado.

Catarina Morais, em defesa da família de Odair Moniz, rejeita totalmente a versão da PSP. “Houve um arrombamento. Estavam mais de 10 pessoas dentro da casa e várias outras do lado de fora que testemunharam a entrada forçada dos agentes”, disse a advogada, sublinhando que os danos na porta eram evidentes. “A porta ficou destruída, a moldura de madeira que a rodeava foi arrancada do lado interior”, descreveu. Morais afirma que se deslocou imediatamente ao local após receber um telefonema da família.

O PÚBLICO teve acesso a um vídeo onde é possível ver a porta arrombada, e a SIC, que esteve no local, também filmou a porta destruída. Em outro vídeo, que, segundo a advogada, mostra a segunda abordagem da PSP, é possível ver vários agentes de capacete branco no interior do prédio. Durante a gravação, ouve-se alguém a queixar-se que “a porta não fecha” e a protestar por estarem a ir à casa “do falecido”. A cunhada de Odair Moniz pode ser ouvida a dizer “rebentaram a porta”, enquanto um agente responde que “amanhã se resolvia”.

De acordo com a advogada, já no local durante a segunda intervenção, os agentes da PSP afirmaram que a sua presença tinha como objetivo pedir às pessoas que mantivessem um “luto civilizado” e que não permanecessem na via pública. Contudo, mesmo depois de confrontada com as imagens que circulam nas redes sociais, a PSP mantém que não entrou na casa. “Só se vê polícias extremamente calmos a dialogar com os cidadãos no hall de entrada do prédio, e não dentro de qualquer habitação”, disse o porta-voz da PSP em comunicado, reiterando que o foco da ação policial era “manter a tranquilidade pública”.

A advogada descreveu que, na primeira intervenção, havia oito pessoas na sala e outras na cozinha da casa da viúva de Odair Moniz, que deixa três filhos, um deles com apenas dois anos. Afirmou ainda que, pelo menos, três agentes entraram na casa e agrediram duas pessoas com cassetetes.

Ao longo de terça-feira, o PÚBLICO verificou a presença de familiares e amigos a chegar e sair da casa da família de Moniz, prestando condolências. O ambiente no bairro, contudo, manteve-se tenso, com tumultos pela segunda noite consecutiva. Caixotes do lixo foram incendiados e, mais tarde, um autocarro da Carris foi incendiado no bairro, em protesto contra a morte de Moniz.

Pelas 20h de terça-feira, a cunhada de Odair Moniz, Sílvia Silva, afirmou ao PÚBLICO que “arrombaram a porta”, acusando três agentes da equipa de intervenção rápida da PSP de terem forçado a entrada na residência. Sílvia referiu ainda que, no momento do incidente, dentro da casa estavam pessoas idosas, a viúva e várias mulheres que testemunharam o sucedido. Quando confrontou os agentes, afirmando que estavam na casa “do falecido”, os polícias acabaram por se retirar.

Débora, sobrinha de 19 anos de Odair Moniz, também relatou o que aconteceu. Segundo ela, um grupo de amigos e familiares estava à porta do prédio a conversar quando viu um número crescente de polícias na rua a dirigirem-se na sua direção. “Começámos a entrar para dentro do prédio e de casa do Odair. Como fui das últimas a entrar, quando fechei a porta, os polícias começaram a arrombar. No momento em que entrei, eles deram-me com os cassetetes das costas ao rabo”, acusou Débora.

Os protestos no bairro do Zambujal intensificaram-se ao longo da noite, culminando com o incêndio de um autocarro da Carris. Testemunhas no local relataram que um grupo de jovens obrigou o motorista a sair do veículo antes de lhe pegar fogo. Os Bombeiros Voluntários da Amadora foram chamados ao local para extinguir as chamas, enquanto um forte contingente policial foi mobilizado para controlar a situação, com a Unidade Especial de Polícia a estabelecer um perímetro de segurança no bairro.

Odair Moniz foi morto na segunda-feira por dois disparos de um agente da PSP durante uma operação policial. De acordo com o comunicado emitido pela PSP, os tiros ocorreram na sequência de uma fuga de Moniz, mas as razões para essa fuga ainda não foram explicadas pela polícia. O agente que efetuou os disparos foi constituído arguido e está indiciado por homicídio, após ter sido ouvido pela Polícia Judiciária.

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