Coordenador da comissão de acompanhamento alerta: “Estamos num momento muito sensível da história da Obstetrícia e Ginecologia nacional”

O Coordenador da Comissão de Acompanhamento da Resposta em Urgência de Ginecologia/Obstetrícia e Bloco de Partos, Diogo Ayres de Campos, sublinhou esta segunda-feira a “sensibilidade” do momento vivido atualmente na especialidade.

Em conferência de imprensa, o responsável começou por esclarecer que os médicos de obstetrícia do SNS dividem-se em “826 especialistas e 281 internos em Portugal e não os 1800 que algumas pessoas têm referido”.

“E estamos num momento muito sensível da história da Obstetrícia e Ginecologia nacional. Claro que já ocorreram momentos difíceis no passado, mas este, apesar de não ter sido criado por nós, cabe-nos a nós ajudar a resolver, naturalmente com a colaboração das entidades governamentais”, afirmou.

As causas já são conhecidas: “Há alguns hospitais com equipas médicas muito desfalcadas, com médias etárias muito elevadas e algumas assimetrias entre equipas. Temos também a perda gradual da atratividade da carreira médica (…) e o recurso a prestadores de serviço (…) o excesso a atendimento de serviço nas urgências de ginecologia e obstetrícia (…) e uma necessidade de rever a rede hospitalar com escassez de orientações técnicas”, disse.

“Mas não chega fazer um diagnóstico para resolver um problema, temos de encontrar soluções e um tratamento que seja o correto. É necessário rever as grelhas salariais dos médicos, para criar um equilíbrio e corrigir o número elevado de atendimentos nas urgência, a maioria dos quais não são verdadeiras situações de urgência”, sublinhou.

Para além disso, referiu, “é necessário criar a rede de referenciação do SNS, de forma a definir os serviços que cada hospital pode prestar à população e as suas implicações” e “incluir a remodelação dos serviços de obstetrícia e ginecologia no PRR”.

“Todos estes assuntos estão atualmente a ser trabalhados com o Ministério da Saúde, a ACSS e o Ministério da Saúde com o abertura e o empenho que já não se via há muitos anos”, adiantou.

Diogo Ayres de Campos disse ainda que este é o momento para “concretizar estas reformas e colocar a ginecologia e obstetrícia novamente no caminho certo, para o bem da nossa população”.

Ainda assim, alertou “as reformas não se fazem em dias, ou semanas, levam algum tempo, pois necessitam de uma reflexão cuidadosa e consenso alargado. Não é prudente implementá-las à pressa e muito menos numa altura de férias. E pelo meio temos estes dois meses de verão e as situações de contingência que tanto afetam as populações”.

O apelo aos médicos

“Eu sei que são muitos os colegas que já se têm oferecido para realizar horas extraordinárias durante os meses de férias, impedindo que existam contingências adicionais, nas escalas de urgência de muitos hospitais”, disse Diogo Ayres de Campos.

Ainda assim, adiantou, “gostaria de apelar a todos nós, que acreditamos verdadeiramente na medicina pública, a um esforço adicional para manter os nossos serviços de urgência abertos durante o verão, dando tranquilidade às populações, para que não seja necessário recorrer a outros hospitais”.

“Estamos num momento decisivo para as nossas instituições e não podemos assistir continuamente à degradação dos nossos serviços sem fazer nada para o contrariar. Chegou a altura de nos pormos do lado das soluções para encarar com esperança o nosso futuro profissional”, concluiu.

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