Confinamentos “não podem ser mantidos”. Serão estes os 5 critérios para uma resposta a longo prazo?

À medida que o número de mortes por Covid-19 se aproxima de um milhão, um novo estudo publicado pela revista científica The Lancet centra atenções nas restrições impostas por nove países: Hong Kong, Japão, Nova Zelândia, Singapura, Coreia do Sul, Alemanha, Noruega, Espanha e Reino Unido.

As medidas implementadas para evitar a propagação do novo coronavírus salvaram vidas, no entanto, “tiveram um custo socioeconómico elevado”, observaram os autores. Por este motivo, defendem que o “confinamentos e outras restrições extremas não podem ser mantidas a longo prazo na esperança de que haja uma vacina ou tratamento eficaz para a covid-19”, indica a publicação.

Neste sentido, os autores salientaram a atual necessidade de encontrar o equilíbrio entre as “preocupações sanitárias, sociais e económicas”.

De modo a retirar lições da experiência, o estudo identificou cinco princípios de saúde pública que os países devem considerar na conceção da sua estratégia no combate à pandemia: estado de infeção, aceitação pela comunidade, capacidade de saúde pública, capacidade do sistema de saúde e controlo de fronteiras.

1. Estado da infeção

Um sistema de vigilância de alta qualidade é fundamental, de acordo com os investigadores. Para implementar medidas específicas, são necessários dados em tempo real para calcular a taxa de reprodução da doença, que indica quão contagiosa é.

“Infelizmente, este princípio tem sido frequentemente ignorado”, escreveram, apontando para a Espanha e o Reino Unido que “têm tido dificuldades” neste sentido.

2. Aceitação por parte da comunidade

O estudo sublinhou também a importância da coerência na conceção de uma estratégia pós-confinamento bem-sucedida.

“As mensagens em torno do que é considerada uma distância social segura tem sido confusa e inconsistente”.

O mesmo se aplica às máscaras, cujo uso generalizado não é “consensual internacionalmente”, ou ao encerramento das escolas.

3. Capacidade de saúde pública

Uma estratégia de deteção, testagem e isolamento é considerada igualmente importante, o que implica ter instalações sanitárias suficientes. “O ritmo rápido da pandemia significou que muitos países estavam mal preparados”, observa a publicação.

Desta forma, os países deveriam estar equipados com dispositivos eficientes de rastreio de contactos e testes adequados em larga escala para a sua população.

4. Capacidade do sistema de saúde

A capacidade do sistema de saúde é também “crucial”. Inclui ter hospitais e instalações sanitárias suficientes, com unidades de cuidados intensivos (UCI), equipamento médico e profissionais de saúde suficientes para fazer face a possíveis surtos.

“A experiência da Alemanha mostra os benefícios de investir no sistema de saúde para o futuro”, observa o estudo.

Com esta exceção, “todos os países adotaram também sistemas de triagem (embora alguns não fossem oficiais), nos quais apenas os pacientes com doenças graves seriam tratados em hospitais designados”.

5. Medidas de controlo nas fronteiras

O estudo aconselhou ainda a gestão do fluxo de viajantes de forma a reduzir o risco de pessoas infetadas que viajam para o país de origem. “Os países europeus têm sido lentos a exigir testes de rotina aos viajantes”, indica o estudo, ao contrário de Hong Kong.

Os autores argumentaram que as pessoas estão a tomar consciência de que “a remoção das restrições não se trata de regressar à normalidade pré-Covid, mas sim de uma transição gradual e cautelosa para um novo normal”.

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