“Confiar nas equipas e resistir à armadilha da microgestão”: Inês Sequeira Mendes, Managing Partner da Abreu Advogados

A imprevisibilidade causada pela pandemia, a que agora se juntou a incerteza gerada pela guerra na Ucrânia, tem colocado desafios complexos às sociedades. “São tempos singulares que colocam cada organização ante a necessidade de se adaptar a um contexto altamente volátil e a encontrar soluções para realidades crescentemente complexas, com rapidez e sem nunca descurar o rigor. Essa busca do equilíbrio entre a celeridade e a qualidade constitui um dos grandes desafios do nosso tempo, a que as sociedades de advogados não são alheias”, afirma Inês Sequeira Mendes, managing partner da Abreu Advogados.

Nesse âmbito, Inês Sequeira Mendes destaca cinco temas que se relacionam com o setor e que deverão continuar a ganhar relevância nos próximos tempos: a transformação digital e o recurso crescente à tecnologia, seja in-house, seja na relação com os clientes e na definição de processos e modelos de negócio que possam privilegiar a digitalização; a transição e adaptação ao modelo de trabalho híbrido, que implica a adoção de diferentes métodos e formas de relacionamento entre equipas; a atração e retenção de talento que implica uma necessidade de identificação crescente entre a missão e o propósito das organizações e a visão e motivação de cada um dos seus colaboradores; a diversidade e a inclusão, que devem ser promovidas e encorajadas enquanto fatores de enriquecimento coletivo; e, por fim, a aposta na sustentabilidade, assente nos critérios ESG, que sublinha a necessidade de assunção de compromissos claros e concretos nos planos da responsabilidade social e da transparência, cada vez mais necessários a um desenvolvimento social equilibrado e harmónico. 

Para a managing partner da Abreu Advogados, a cultura anglo-saxónica vem adotando uma expressão interessante para caracterizar o nosso contexto: VUCA (Volatile, Uncertain, Complex and Ambiguous) World. Jamais Cascio achou-a insuficiente e propôs um conceito ainda mais inquietante como substituto: BANI (Brittle, Anxious, Nonlinear, and Incomprehensible). “Diria que estamos algures entre VUCA e BANI, sendo que nenhum deles é especialmente tranquilizador. Apesar disso, as características essenciais para que uma liderança possa ser bem-sucedida hoje não são substancialmente diferentes das que têm lugar em circunstâncias mais previsíveis. Espera-se de quem gere que saiba prever, prover, ouvir, decidir e agir e que as suas decisões e acções sejam consequentes e, sempre que possível, motivadoras. Nesse âmbito, há muito pouco que substitua o exemplo e a dedicação concretos. Numa sociedade de advogados com características e identidade tão vincadas como as da Abreu Advogados, a quantidade de trabalho e a exigência são sempre grandes seja qual for o contexto externo, sendo essencial confiar na qualidade e autonomia das suas equipas e resistir à armadilha da microgestão. Esta pode entorpecer a resposta atempada às questões que nos são colocadas pelos nossos clientes e queremos que esta continue a ser sempre tão dinâmica quanto é rigorosa.”

Sobre o que perspetiva para Portugal em termos macroeconómicos, Inês Sequeira Mendes refere que as últimas previsões da Comissão Europeia são otimistas para Portugal, com a nossa economia a poder ter este ano o maior crescimento da União Europeia, bem acima da média. “São naturalmente boas notícias. No entanto temo que possa ser um resultado sobretudo conjuntural. Este crescimento provável em 2022 é justificado, em grande parte, pelo facto de Portugal ter assistido a uma das maiores quedas do PIB na União Europeia, ou seja, partindo de uma base mais baixa, a recuperação parecerá mais forte. Infelizmente é a própria Comissão Europeia quem prevê uma desaceleração da nossa economia para 2023, apesar de esta se manter acima da média da União Europeia.”

A managing partner da Abreu Advogados refere ainda que Portugal enfrenta desafios que “afetam a sua capacidade económica e cuja resolução temos adiado, arriscando pôr em causa a estabilidade e coesão do nosso modelo social e a competitividade e produtividade da nossa economia. A inversão da pirâmide demográfica é um problema europeu que afeta particularmente o nosso país e que terá consequências muito mais profundas do que as causadas pela pandemia. Conforme venho referindo, temos crescido muito pouco e esse fenómeno já tem décadas. O nível médio das qualificações da população e a sua adequação ao mercado de trabalho estão longe de ser ideais.
A baixa produtividade afeta a capacidade de afirmação da nossa economia e não somos especialmente competitivos. Ainda estamos altamente endividados (temos das maiores dívidas públicas da União Europeia), mantemos níveis elevados de despesa pública e um sistema fiscal complexo. Temos uma administração pública ainda distante dos cidadãos e um sistema judicial que não prima pela celeridade. Como se isto não bastasse, ainda enfrentamos as consequências de uma pandemia a que acresce as de uma guerra de contornos e duração imprevisíveis”.

Apesar de se perspetivar um crescimento da economia nacional para os próximos anos, “os fatores que não controlamos e os bloqueios e entropias que ainda não fomos capazes de ultrapassar poderão pô-lo em causa». Segundo Inês Sequeira Mendes para que isso não aconteça importa que «o nosso tecido empresarial seja revivificado e dinamizado e sejam criadas condições para a sua internacionalização e diversificação, tendo presente que o novo modelo de desenvolvimento promovido pela União Europeia privilegia a descarbonização e a circularidade da economia e a eficiência na utilização dos recursos”.

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