Comprou um equipamento que avariou antes do tempo? Denuncie
O frigorífico só “vive” três anos? A máquina de lavar é passado antes de ser presente? A Deco decidiu mobilizar-se contra a tendência dos fabricantes em lançarem para o mercado produtos com data de prazo muito curta.
É a chamada obsolescência programada, ou prematura. Os consumidores podem denunciar essas situações, através de uma ferramenta criada para o efeito no site desta organização de defesa dos consumidores.
A ideia é combater estes ciclos de vida curtos de alguns aparelhos, com benefício para o consumidor e uma sociedade mais sustentável, que não esteja sujeita à acumulação de resíduos. Já que o crescimento de resíduos eléctricos e electrónicos no espaço europeu aumenta 3 a 5% por ano, devendo chegar a 12 milhões de toneladas em 2020.
Aí, os consumidores, podem de forma simples, denunciar a brevidade da vida dos seus aparelhos. Podem denunciar qualquer situação de aparelhos de duas famílias, a tecnológica (smartphones, computadores, tablets, etc.) e a dos eletrodomésticos, desde televisores a máquinas de lavar e secar.
Esta ferramenta faz parte de um amplo projecto europeu, o PROMPT, segundo a sigla em inglês (programa de teste à obsolescência prematura dos produtos) e que agrupa algumas associações de consumidores congéneres de outros países da Europa.
Lançado em Maio, o PROMPT é um consórcio de investigadores, organizações de consumidores, e plataformas e empresas de reparação de toda a Europa, com sede em Berlim, na Alemanha. Esta parceria de quatro anos é financiada pelo programa europeu Horizonte 2020 e é mais um dos vários passos que a Comissão Europeia pretende dar em direcção a uma economia circular.
Inquérito
A Deco analisou os hábitos dos consumidores nesta matéria. Para eles, o que é obsoleto? Qual é a expectativa que têm do prazo de validade de um aparelho, seja electrodoméstico ou smartphone? Perante uma avaria, mandam reparar? Estas foram, em traços muito gerais, as perguntas realizadas entre Dezembro de 2018 e Janeiro de 2019, com 921 respostas válidas. Em jogo estavam as atitudes perante a longevidade de smartphones, tablets e computadores portáteis, do lado da informática. Incluiu ainda outros aparelhos, como o televisor e o aspirador. E ainda o arsenal da cozinha, como as máquinas de lavar e secar roupa, de lavar loiça e o frigorífico.
Alguns dos resultados: os proprietários de smartphones e tablets, produtos da mesma família digital, consideram repará-los, no máximo, até quatro anos e quatro anos e dez meses, respectivamente. Para os nossos inquiridos, se o computador portátil avariar até ao fim de sete anos e cinco meses, consideram mandar arranjá-lo.
Entre os aparelhos que mereceram respostas em número suficiente, os televisores e os aspiradores, foram encontradas as mesmas expectativas sobre o intervalo de tempo considerado viável para a reparação: nove anos e quatro meses no caso dos primeiros, nove anos e um mês quando se considera os segundos.
O que podem significar estes números? Trata-se de tempos médios que os consumidores consideram para enviar os aparelhos para arranjo. A partir daí, pensam que já não vale a pena. A maioria dos inquiridos que teve um problema com o seu computador portátil acabou por repará-lo (67 por cento). Mas se aqui o factor preço pode ser dissuasor – apesar das inúmeras promoções, o preço médio destes aparelhos continua alto –, noutros casos a comparação entre um orçamento para arranjar e quanto custa um novo é tentadora. Será isso que explica, no outro extremo dos resultados, os apenas 37,8% dos participantes no estudo que afirmaram ter mandado reparar o aspirador?
Quando inquiridos sobra as razões pelas quais não mandaram consertar um determinado aparelho, a larga maioria respondeu que os custos eram demasiado elevados. Nos casos dos frigoríficos, computadores, smartphones, aspiradores e máquinas de lavar loiça, aquela resposta surge empatada – ou praticamente empatada – com: “Os custos de reparação fazem com que não valha a pena” o esforço de mandar o aparelho para a oficina.