Combustíveis desceram muito menos do que deviam? Não é bem assim…

Esta terça-feira ficou marcada pela polémica da descida do preço dos combustíveis não ter sido tão ‘generosa’ quanto a proposta do Governo de António Costa. O Executivo anunciou um desconto adicional no ISP de 15,5 cêntimos por litro de gasolina e de 14,2 cêntimos no gasóleo a partir desta segunda-feira e a maioria dos portugueses contava com esta redução nos postos de abastecimento nacionais. O que não aconteceu.

E porquê? É que o cenário de descida previsto pelo Governo para o arranque da semana não mediu o impacto da subida das cotações da gasolina e do gasóleo nos mercados internacionais, assim como a desvalorização do euro em relação ao dólar, o que se traduziu numa subida dos preços de ambos os produtos, tal como a Multinews anunciou.

António Comprido, secretário-geral da Apetro (Associação Portuguesa das Empresas Petroliferas), garantiu esta terça-feira que não há aproveitamento nem aumento das margens de lucro das gasolineiras e apontou os vários fatores a ter em consideração para os movimentos realizados: “Temos de ter em conta a variação dos produtos nos mercados internacionais. Houve uma subida de 3,4 cêntimos na gasolina e 2,9 cêntimos no gasóleo, mercê não só do aumento das cotações mas também da desvalorização do euro em relação ao dólar. Somando o efeito dos dois componentes mais importantes do preço, o imposto e a cotação do produto, e afetando o IVA, que é importante ter em conta, teríamos previsivelmente o impacto destes dois fatores em menos 11,3 cêntimos na gasolina e em menos 10,6 cêntimos no gasóleo”, frisou o responsável, em declarações à ‘CNN Portugal’.

Contactada pela Multinews, a Galp defendeu-se das acusações de não ter cumprido a descida do preço dos combustíveis, garantindo que repercutiu integralmente a descida do ISP sobre o gasóleo e a gasolina a partir das 00h00 de segunda-feira, “como não podia de forma alguma deixar de fazer”, explicou fonte da empresa portuguesa, acrescentando que “refletiu rigorosamente a diferença entre as cotações médias do gasóleo e da gasolina da semana passada face às da semana anterior, em euros, como faz todas as semanas, tanto em períodos de subida como de descida das cotações”.

“Na semana passada, além de se ter registado uma subida das cotações médias do gasóleo e da gasolina no mercado europeu, registou-se uma desvalorização significativa do euro em relação ao dólar, moeda em que estes produtos são avaliados e transacionados nos mercados internacionais. O efeito conjunto destes dois fatores teve um impacto próximo dos 4 cêntimos por litro em cada um dos combustíveis”, frisou.

Veja aqui o retrato da evolução dos mercados na semana passada:

Segundo dados da Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG), a gasolina e o gasóleo desceram 10,4 e 10 cêntimos respetivamente, entre sexta-feira e esta segunda. Um litro de gasolina passou a custar 1,878€, enquanto que um litro de gasóleo vale agora 1,840€. De acordo com o secretário-geral da Apetro, a descida média dos preços pode ser ainda mais expressiva a partir desta quarta-feira – dado que nem todas as petrolíferas descem o valor à segunda e o site da DGEG reporta os preços do dia anterior.

Sobre o comentário de António Costa, que pediu vigilância aos portugueses, António Comprido não se quis alongar. “Acho estranho que o Governo trate dessa maneira um sector económico com a importância que o nosso tem.”

A ASAE garantiu, esta terça-feira, que cumpriu 71 ações de fiscalização a nível nacional, tendo sido constatadas entre o dia 01 e 02 de maio taxas de variação de preços de venda ao público, de gasolina e gasóleo, entre um mínimo de 0% (sem alteração) e um máximo de menos 9,3%, correspondendo a uma variação de descida entre 0,00€/litro e 0,18€/litro”.

Na mesma nota, a entidade revelou também que “foram recebidas cerca de 200 denúncias sobre a matéria, as quais se encontram em fase de averiguação, tendo sido detetadas, até ao momento, a aplicação correta da redução de ISP na maioria das situações e apenas uma situação de alegado incumprimento, a qual será comunicada à Autoridade Tributária”.

 

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