Com o fim do mandato a aproximar-se, irá Joe Biden perdoar os crimes do filho?

Com o fim do mandato de Joe Biden a aproximar-se, surge uma questão inevitável: o presidente dos Estados Unidos irá conceder um perdão presidencial ao seu filho, Hunter Biden? A situação coloca Biden numa posição complexa e sensível, especialmente em face das acusações de fraude fiscal e posse ilegal de armas contra Hunter, que resultaram numa condenação em 2023.

Joe Biden tentou afastar a hipótese de perdoar Hunter, ao afirmar, em várias ocasiões, que não interferiria nas decisões judiciais, respeitando o processo judicial. Em declarações à ABC News, em junho, Biden afirmou: “Não vou fazer nada. Vou respeitar a decisão do júri”. No entanto, Trump, o Presidente-eleito, declarou, em entrevista rádio, que não descartaria a possibilidade de um perdão a Hunter: “Não diria que isso está fora de questão”, comentou Trump, acrescentando que, apesar de Hunter Biden ter “cometido erros”, considerava “prejudicial para o país” a continuação do processo.

Analistas ouvidos pela Newsweek apontam que a dinâmica entre Biden e Trump, historicamente tensa, poderá ser um fator influente, com ambos os políticos a debaterem a questão publicamente desde o período eleitoral de 2020. Ainda assim, a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, reafirmou na última quinta-feira que Biden não planeia conceder um perdão ao filho, reiterando: “A nossa posição mantém-se, que é não”.

A possibilidade de um perdão presidencial é um tema controverso nos Estados Unidos, com o próprio Biden a enfrentar críticas internas e externas. Caso decida conceder o perdão a Hunter, o presidente corre o risco de reacender o debate sobre conflitos de interesse, abrindo caminho para um possível desgaste político para os democratas, que já enfrentam as consequências de uma derrota eleitoral difícil. A popularidade de Biden vinha a diminuir, e muitos consideram que uma decisão em favor do filho poderia enfraquecer ainda mais o partido.

A história recente dos EUA oferece exemplos de como decisões controversas de perdão podem impactar a reputação de um presidente. Em 1974, Gerald Ford perdoou o ex-presidente Richard Nixon após o escândalo Watergate, numa tentativa de “unir o país” e pôr fim ao trauma político que dominava o país. Contudo, Ford enfrentou um forte backlash público, com sondagens Gallup da época mostrando que 53% dos americanos desaprovavam o perdão. O impacto foi profundo e, provavelmente, um fator contributivo para a derrota de Ford nas eleições de 1976 para Jimmy Carter.

De forma semelhante, Bill Clinton gerou controvérsia ao conceder, em 2001, um perdão ao empresário Marc Rich, que enfrentava acusações de evasão fiscal e havia fugido dos EUA. A ex-mulher de Rich tinha feito doações substanciais à Fundação Clinton e à campanha de Hillary Clinton ao Senado, o que suscitou acusações de favorecimento político. Clinton sempre negou que as doações influenciassem a decisão, mas o caso manchou a sua reputação e teve repercussões duradouras, chegando a afetar a campanha presidencial de Hillary em 2016.

Um dilema em dezembro
Em dezembro, Biden estará nas últimas semanas do seu mandato quando Hunter enfrentará a sentença final. Os advogados de Hunter não conseguiram negociar um acordo, e Hunter declarou-se culpado das acusações de fraude fiscal e posse ilegal de arma. Se condenado em todas as acusações, poderá enfrentar uma pena de prisão significativa. O ex-procurador federal Neama Rahmani sugeriu à Newsweek que Hunter aceitou a condenação na expectativa de um perdão de Biden, agora que o presidente já não enfrentará nova eleição.

Esta decisão colocará Biden numa encruzilhada: proteger o filho, arriscando-se a enfrentar críticas pela oposição e aliados, ou permitir que Hunter enfrente as consequências judiciais sem intervenção.

O jornalista Bob Woodward, no seu livro recente ‘War’, revela que Biden poderá estar mais inclinado ao perdão do que publicamente admite. Em entrevista, Woodward comentou: “Ele disse que não perdoaria… mas, francamente, conheço Biden o suficiente. Não acredito nisso. Penso que ele perdoará o filho”. Segundo Woodward, Biden demonstrou frustração ao comentar o facto de o procurador-geral Merrick Garland ter nomeado um procurador especial para investigar Hunter, afirmando: “Nunca devia ter escolhido Garland”.

O caso de Hunter Biden tornou-se uma arma política para a oposição, que acusa Biden de permissividade e favorecimento ao filho. A decisão de conceder ou não o perdão não só definirá o fim do mandato de Biden, mas também marcará um dos capítulos mais complexos na história recente da Casa Branca.

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