Colisões entre barcos, ataques com canhões de água e ponteiros laser: China e Filipinas em disputa pelos mares do sul que pode levar a guerra

As tensões entre China e Filipinas estão em níveis altos sem precedentes, devido a uma disputa nos mares do sul que está a levar a ataques a marinheiros filipinos com canhões de água e ponteiros laser (de forma a os cegar), e também com colisões de navios em portos importantes para Manila.

Outrora com boas relações, a China chegou a financiar a ponte Binondo-Intramuros. Na inauguração, em abril de 2022, o então Presidente das Filipinas insistiu que fosse colocada uma placa a assinalar que a construção sobre o rio Pasig tinha sido paga por Pequim, o que foi feito.

Duterte, mesmo com as disputas nas águas do Mar da China Meridional,  tentou sempre reforçar os laços com Pequim, mas esse caminho acabou quando foi substituído no cargo por Ferdinand Marcos Jr, que fez sua missão enfrentar os abusos do gigante asiático e aproximar-se tanto quanto possível, a nível político e militar, dos EUA, tradicional aliado do país.

Desde que se seguiu esta nova política, montou-se, segundo o El Mundo, um verdadeiro jogo do ‘gato e rato’ entre navios chineses e filipinos, especialmente no banco de areia Second Thomas Shoal, nas ilhas Spartly, precisamente no centro de uma das rotas marítimas com mais importância no globo, perto do Canal Bashi, porta de entrada para o Pacífico.

Manila reclama-a como parte da sua zona económica exclusiva (ZEE), sustentando que fica a 200 km da sua costa, enquanto Pequim recorre a mapas antigos para reivindicar a mesma zona. As tensões diplomáticas têm escalado nos últimos meses, para níveis nunca antes vistos.

Em novembro, as Filipinas acusaram a guarda costeira chinesa de disparar canhões de água contra os seus barcos de pesca, isto já depois de uma série de colisões (alegadamente propositadas), entre embarcações de Manila e Pequim.

Um mês antes, a polémica era a barreira flutuante instalada pela China no banco de areia da disputa, de forma a evitar a entrada de barcos de pesca filipinos.

As autoridades governamentais das Filipinas relatam ainda que os marinheiros chineses estão a usar, desde inicio do ano, ponteiros laser para cegar pescadores filipinos, para além de encetarem manobras perigosas e colisões contra nacios de reabastecimento. Manila já convocou várias vezes o embaixador chinês e apresentou mais de 50 reclamações diplomáticas, mas não colheu grandes sucessos.

Vários especialistas assinalam que, como não há negociações entre os dois países, esta disputa pode mesmo escalar para uma guerra, com o Exército chinês a atacar navios filipinos, e os EUA seriam forçados  intervir, tendo em conta que têm assinado com manila um tratado de defesa bilateral, o  Acordo Reforçado de Cooperação em Defesa (EDCA).

No âmbito deste acordo, Manila já atribuiu mais quatro bases militares aos EUA, para terem uma visão privilegiada o que se passa na via navegável mais disputada do mundo.

Recentemente 125 navios da milícia marítima chinesa, disfarçados  como barcos de pesca, invadiram um recife na ZEE das Filipinas e, já esta segunda-feira, um navio americano passou próximo da zona disputada.

“Os Estados Unidos perturbaram deliberadamente o Mar da China Meridional, violaram gravemente a soberania e a segurança da China e minaram a paz e a estabilidade regionais”, denunciou o Exército chinês.

“Até agora, a aliança entre Washington e Manila conseguiu impedir um ataque armado às Filipinas, mas a China poderia cruzar uma linha perigosa, seja propositalmente ou por acidente, que desencadearia o Tratado de Defesa Mútua e levaria à guerra”, avisa o analista de segurança Derek Grossman, que foi conselheiro do Departamento de Defesa dos EUA para assuntos da Ásia-Pacífico, perante o facto de “a assertividade militar chinesa” estar a aumentar na região disputada, “especialmente graças ao apoio à construção de ilhas artificiais e à militarização de enclaves próximos”.

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