Cenário de exaustão vivido pelos profissionais de saúde portugueses. «Deixei de ter vontade de viver»

Os profissionais de saúde portugueses têm enfrentado um estado de exaustão devido à pandemia da Covid-19, com muitos a atingir o chamado ‘burnout’, esgotamento psicológico e físico, de acordo com o ‘Jornal de Notícias’ (JN).

Um desses exemplos é Sofia Villas-Boas, de 27 anos, trabalhava desde 2013 no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, mas foi obrigada a demitir-se por não aguentar o «choque enorme» que sofreu com a crise de saúde pública. Na última fase chegou «ao fundo». «Foi um esgotamento completo. Deixei de ter vontade de viver. As minhas colegas diziam: “não és a Sofia que conhecemos”».

«Isto chegou muito de repente. Foi como uma chapada de luva preta», afirma, explicando que já andava sob stress devido a outros problemas e «depois entrou a covid, pressão sobre pressão, e isso fez com que explodisse», adianta, citada pelo mesmo jornal.

Sofia relata que «foi muita coisa para pouca gente. As regras eram muitas, e iam mudando. Não conhecíamos o vírus, e começou uma pressão enorme. Víamos os doentes a entrar, e estávamos cada vez mais preocupados. Ver pessoas a irem entubadas para os cuidados intensivos de um momento para o outro deu-me cabo da cabeça. Nunca tive um ataque de ansiedade na vida, e, agora, se passo um mês sem ter um é milagre», refere ao ‘JN’.

A responsável acabou por contrair o vírus na primeira vaga e teve de ficar isolada 28 dias, o que piorou a situação. «Comecei a sentir pavor de entrar no hospital outra vez. Não conseguia dormir, chorava muito, tive muitos ataques de ansiedade e vontade de fazer asneiras. Fiquei com pavor do hospital, por muito que goste daquilo», explica.

Quando regressou, «já não era auxiliar; quase parecia menina da limpeza. Já não lidava com doentes, só com limpezas e mudanças de serviços. O rácio de auxiliares era pouco para o serviço. Entrei em parafuso. Trabalhei uma semana e tive de pedir baixa outra vez», conclui.

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