‘Cell Broadcast’: Proteção Civil prepara-se para lançar sistema de alertas personalizados enviados para os telemóveis no caso de emergências
A tragédia em Valência, Espanha, onde mais de 200 pessoas perderam a vida devido a uma precipitação de intensidade invulgar, levou a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) a repensar os seus procedimentos e estratégias de comunicação em Portugal. O impacto deste evento foi tema central no programa “Da Capa à Contracapa” da Renascença, onde o segundo comandante nacional da ANEPC, Mário Silvestre, destacou a necessidade de reforçar a sensibilização e a comunicação com a população sobre riscos como cheias e inundações.
A importância da comunicação de risco
Mário Silvestre reconheceu, durante a sua participação no programa, que eventos como cheias e inundações precisam de ser mais bem documentados e comunicados ao público. “É provavelmente um fenómeno que precisa de ser mais documentado e mais trabalhado. Este pode ser, sem dúvida nenhuma, um processo a abarcar do ponto de vista da comunicação”, afirmou.
O responsável sublinhou que, embora Portugal tenha registado uma evolução significativa nos Serviços Municipais de Proteção Civil, estes continuam a enfrentar grandes desafios na sensibilização da população. “São muito ativos, empreendedores e com muita capacidade de trabalho, mas têm uma dificuldade incrível em fazerem-se ouvir e fazer com que as pessoas cumpram os avisos”, explicou.
Novas tecnologias para emergências
Uma das ferramentas em análise pela ANEPC para melhorar a comunicação de emergências é o sistema Cell Broadcast. Este sistema permite enviar notificações automáticas para todos os telemóveis numa determinada área geográfica afetada por um evento. “São alertas muito mais finos, muito mais personalizáveis do que aquilo que fazemos com o SMS normal”, esclareceu Mário Silvestre, destacando que este método oferece um contacto mais detalhado e eficaz com os cidadãos.
Embora não tenha adiantado uma data concreta para a implementação deste sistema em Portugal, o comandante mostrou-se otimista: “Penso que não estaremos muito longe disso.”
O programa debateu ainda as lições que Portugal pode retirar da recente tragédia em Espanha, incluindo a necessidade de rever planos e procedimentos para responder a fenómenos climáticos extremos. Segundo Mário Silvestre, o evento de Valência despertou “consciências e revisitou planos, projetos e procedimentos” tanto no âmbito da resposta de emergência como em outras organizações relacionadas com as alterações climáticas.
Para além de Silvestre, o debate contou com a participação do geógrafo José Luis Zêzere, da Universidade de Lisboa, que abordou o papel do ordenamento do território e do planeamento na mitigação dos impactos de cheias de grandes dimensões.