Cada vez mais médicos portugueses com curso no estrangeiro regressam a Portugal: números duplicaram na última década

Todos os anos entram na Ordem dos Médicos cerca de 200 médicos nacionais que estudaram no estrangeiro, um número que cresceu para o dobro na última década, refere esta quarta-feira o ‘Jornal de Notícias’: em 2023, estavam inscritos 4.220 médicos de nacionalidade portuguesa que tinham feito a sua formação num país que não Portugal. Em 2013, eram pouco mais de dois mil. Em dez anos, passaram de 4,79% para 7,24% de todos os médicos de nacionalidade portuguesa em exercício no país.

“A limitação de vagas no ensino da medicina em Portugal prejudica em particular os alunos, obrigados a gastar valores mais altos de propinas, renda, entre outros, para estudar no estrangeiro, e o próprio país, que perde, além de cérebros, o dinheiro em propinas e taxas que estes deixariam cá, por exemplo, numa universidade privada de qualidade”, indica Ricardo Dinis Oliveira, coordenador da licenciatura em Ciências Biomédicas da CESPU (Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário), lamenta que estes estudantes sejam “empurrados para fora do país”.

No entanto, os estudantes têm uma visão diferente, refere Rita Ribeiro, presidente da Associação Nacional de Estudantes de Medicina, para quem a formação no estrangeiro – principalmente Espanha e Rep. Checa – é uma “decisão pessoal dependente de diversos fatores”. Portugal, no seu entender, não corre o risco de perder estes médicos que optam por estudar no estrangeiro, uma vez que, regra geral, a ideia de “voltar a casa” é superior a qualquer outra. “Acresce ainda a vantagem de estes profissionais trazem para Portugal os conhecimentos que obtiveram no estrangeiro.”

A CESPU, através da licenciatura em Biomédicas, tem uma “vertente” que se tornou já solução para muitos. Através de acordos preestabelecidos com universidades médicas espanholas, os estudantes estudam três anos em Biomédicas em Portugal e, de seguida, concorrem diretamente ao 3º ou 4º ano de Medicina em Espanha, obtendo o seu título formativo no país vizinho: desde o início, em 2012, já se formaram quase 80 médicos, sendo que “mais de 90% regressou para trabalhar em Portugal”, garante Ricardo Dinis Oliveira.