Cada vez maiores, mais perigosos e poluentes: carros novos estão a tornar as cidades menos seguras

Os carros novos na União Europeia e no Reino Unido têm crescido a um ritmo de um centímetro a cada dois anos, segundo revelou o jornal britânico ‘The Guardian’, uma tendência marcada pelos SUV, cujas vendas não dão sinais de abrandamento.

“É irrefutável”, salientou James Nix, analista do grupo de campanha Transporte e Meio Ambiente (T&E) e autor do estudo. “Impulsionados pelas vendas dos maiores SUV, os veículos estão a ficar maiores a cada ano.”

De acordo com o estudo, os carros novos estão a tornar-se ‘tão inchados’ que metade deles são já demasiado largo para caberem nos lugares de estacionamento, concebidos de acordo com os padrões mínimos de circulação em muitos países. Assim, o que está em causa? A largura média de um automóvel novo na UE e no Reino Unido ultrapassou os 180 centímetros no primeiro semestre de 2023, tendo crescido em média 0,5 cm por ano desde 2001. “Isso pode não parecer um número enorme”, referiu o autor do estudo. “Mas a realidade é que – a menos que haja reforma – um grupo de grandes SUV e pickups de luxo vão tornar-se tão grande como camiões ou camionetas.”

E onde está o problema? Os carros grandes têm maior probabilidade de matar uma pessoa em caso de acidentes do que um carro pequeno, uma vez que pesam mais e têm frentes altas que ‘prendem’ as vítimas por baixo em vez de derrubá-las para o lado. São também emissores de mais gases tóxicos para o ar e ocupam mais espaço nas estradas e nos passeios.

Para alguns carros que foram originalmente projetados há décadas, a necessidade de incorporar recursos de segurança como airbags e zonas de deformação é parte da razão pela qual os modelos mais novos cresceram. Mas a tendência recente é impulsionada pela compra de carros muito maiores pelos consumidores, que tornam as estradas mais perigosas.

Em meados da década de 1990, a UE proibiu veículos com largura superior a 2,55 metros para impedir que camiões e autocarros crescessem demasiado. Mas a legislação não criou limites separados para os automóveis, que, segundo os analistas, começaram a ultrapassar limites fundamentais para os quais as estradas e as cidades não foram concebidas.

Os ativistas têm apelado às autoridades europeias para apoiarem uma cláusula que obrigaria a Comissão Europeia a rever o limite de largura, argumentando que a tendência para carros maiores reduziu o espaço para outros utentes na estrada e aumentou o perigo.

De acordo com dados de acidentes na Bélgica, entre 2017 e 2021, um aumento de 10 cm na altura da frente de um veículo aumenta o risco de morte em 30% em caso de atropelamento.
O crescimento no tamanho dos carros também causa problemas para os motoristas. O relatório descobriu que grandes SUV de luxo, com cerca de 2 metros de largura, não cabem mais em estacionamentos fora da rua. Também deixam muito pouco espaço para os passageiros entrarem e saírem dos veículos em espaços típicos fora da rua, que têm cerca de 2,4 metros de largura, concluiu o relatório.

Paris poderá tornar-se a primeira grande capital europeia a tentar resolver o problema, quando realizar um referendo sobre taxas de estacionamento mais elevadas para carros mais pesados – um exemplo replicado na cidade francesa de Lyon.

França tem lutado contra a tendência para carros mais pesados mais do que a maioria das grandes economias da Europa. Desde 2008, oferece um bónus financeiro para quem compra um carro mais limpo e uma penalidade para quem fizer uma escolha diferente. Em 2022, o Governo ampliou o sistema para aplicar penalidades que cobrem o peso do carro.

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