Brasil disponível para ajudar Portugal a incluir a raça nos censos

A ministra da Igualdade Racial brasileira afirmou hoje que o Brasil se disponibilizou para ajudar Portugal na inclusão da contabilidade da raça e etnia nos censos, cumprindo as boas práticas internacionais e fomentando políticas de integração.

Em Portugal no quadro da visita de Estado do Presidente brasileiro, Anielle Franco elogiou, em entrevista à Lusa, o recém-criado Observatório do Racismo e Xenofobia de Portugal, com o qual hoje teve uma reunião e afirmou que o Brasil está disponível para dar apoio técnico a medidas que permitam recolher dados estatísticos sobre a integração racial e étnica na sociedade portuguesa.

Em Portugal, os censos não registam a etnia ou a raça, algo que tem sido criticado por ativistas e investigadores, já que contraria as recomendações da ONU, que defende a recolha estatística da exclusão social com base racial.

“O censo produz dados e dados, produzem pesquisas e pesquisas produzem resultados concretos muitas vezes”, afirmou a governante brasileira, que esteve reunida com a ministra portuguesa Ana Catarina Mendes.

“Um dos pontos primordiais principais que nós ouvimos tanto dela [ministra portuguesa] quanto dos movimentos e pessoas que aqui moram, é a falta de dados no censo sobre raça aqui em Portugal. A gente sabe que tem uma proibição [contemplada na Constituição portuguesa), mas para a gente poder acolher e ter atos concretos, a gente precisa dessa divulgação desses dados, que é o que nós fazemos muito no Brasil”, afirmou Anielle Franco, dando o exemplo brasileiro nesta matéria.

Só com o levantamento racial estatístico é que é possível, por exemplo, avançar com uma lei de quotas, como acontece no Brasil.

Neste caso, essa lei “só se mantém firme até hoje, porque a gente consegue comprovar, a partir dela e através dela, que em 2002 eram 2,2% de pessoas negras que se formavam” e hoje há um aumento de 50% desse valor em apenas dez anos.

Em relação a Portugal, “sem querer dar lições”, a ideia é dizer que no Brasil funciona, explicou a ministra, mostrando-se disponível para apoiar Portugal nesta matéria.

No Brasil, as questões raciais voltaram a ser uma prioridade política do Governo de Lula da Silva, que tomou posse em Janeiro, após o executivo de direita de Jair Bolsonaro.

“Acho que primeiro é muito importante pautar (salientar] que essa retomada do Governo Lula ao poder após 6 anos desde o golpe da presidenta Dilma”, permitiu a “recriação do Ministério da Igualdade Racial, uma virada chave no Brasil que é muito importante” e traz “ao centro do problema a raça, mulher e direitos humanos, que foi algo que ele falou muito no discurso de posse”, acrescentou a ministra.

Ler Mais