BPI quase triplica lucros para 242 milhões de euros até setembro
O BPI teve lucros de 242 milhões de euros até setembro, quase o triplo dos 86 milhões de euros do mesmo período de 2020, disse hoje o banco em comunicado.
Na atividade em Portugal, o resultado líquido foi de 127 milhões de euros (face a 47 milhões dos mesmos nove meses de 2020), enquanto o contributo da participação no angolano BFA foi de 100 milhões de euros (31 milhões em período homólogo de 2020) e o contributo do moçambicano BCI de 14 milhões de euros (7,0 milhões em período homólogo).
Na conferência de imprensa de apresentação das contas até setembro, o presidente executivo do BPI, João Pedro Oliveira e Costa, disse estar confiante nos resultados do banco no conjunto do ano de 2021.
“Estamos confiantes este ano nos resultados do banco em Portugal, não acreditamos que haja um abrandamento no último trimestre do ano”, afirmou em resposta aos jornalistas.
Sobre o interesse do BPI noutros bancos, respondeu que esse não é o foco do banco que dirige: “Não estamos aí focados e não é só conversa, não é o nosso ponto”, disse.
Quanto aos resultados do BPI entre janeiro e setembro, em Portugal, a margem financeira subiu 2,8% em setembro, face a setembro de 2020, para 340 milhões de euros, o que o banco justifica com “o crescimento do volume de crédito e o contributo da atividade de gestão do balanço, apesar do estreitamento da margem de intermediação e dos desafios colocados pelo continuado enquadramento de taxas de juro de mercado negativas”.
As comissões líquidas aumentaram 15,7% para 204 milhões de euros, o que o BPI atribui ao “dinamismo comercial nos fundos de investimento e seguros de capitalização” e ao “aumento da intermediação de seguros e das comissões bancárias associadas a crédito e a contas”, o que diz que “compensaram a descida nas comissões de meios de pagamento”.
Os custos de estrutura recorrentes caíram 1% para 326,2 milhões de euros, refletindo sobretudo a queda de 6,3% dos custos com pessoal recorrentes para 173 milhões de euros. Contudo, há que somar os gastos de 13,9 milhões de euros com a saída de 77 trabalhadores por reformas antecipadas e rescisões por mútuo acordo.
Olhando para o balanço, os recursos totais de clientes (que incluem os depósitos) cresceram 9,2% para 39.263 milhões de euros no final de setembro de 2021, com os depósitos a crescerem 10,9% para 28.038 milhões de euros.
O total de crédito a clientes (bruto) aumentou 7,5% para 27.137 milhões de euros, sendo que a carteira de crédito a empresas cresceu 5,4% para 10.461 milhões de euros e a carteira de crédito à habitação aumentou 8% para 12.741 milhões de euros.
O rácio de crédito malparado (‘Non Performing Loans’ na expressão técnica em inglês) desceu 0,3 pontos percentuais para 1,8% em setembro.
Para fazer face a créditos problemáticos, até setembro de 2021 o BPI registou imparidades de crédito líquidas de recuperações de 31,4 milhões de euros. Este valor é o resultado de 61,5 milhões de euros em imparidades a que se descontam recuperações de crédito de 30,1 milhões de euros.
Em 30 de setembro, terminaram moratórias de crédito do BPI correspondentes a 3,6 mil milhões de euros, dizendo o BPI que, “face ao comportamento até à data desses créditos, não é expectável uma degradação da qualidade de carteira de crédito”. Permanecem ainda ativas moratórias correspondentes a 117 milhões de euros.
Na conferência de imprensa de hoje, o presidente executivo do BPI considerou que há “excesso de negativismo” sobre a situação dos créditos no pós-moratórias.
Contudo, admitiu algum impacto nas empresas devido a problemas nas matérias-primas, aumento de custos de transportes, entre outros, mas para já o banco ainda não sentiu empresas em dificuldades por essas situações. Disse ainda que as empresas precisam de tempo para normalizar a atividade, após o período mais agudo da crise.
No final de setembro 2021, o BPI tinha ainda um saldo acumulado no balanço de 69,5 milhões de euros de imparidades não alocadas constituídas preventivamente em 2020 no âmbito da crise da covid-19. O banco não prevê reverter imparidades para poder fazer face a eventuais problemas.
Sobre a Linha Retomar (de garantia pública em reestruturações de empréstimos sob moratórias), disse o gestor que a adesão das empresas é “baixíssima”, com “valores insignificantes”.
Quanto a evolução da situação económica, João Pedro Oliveira e Costa manteve-se cauteloso, afirmando que seria de esperar que o consumo fosse maior do que está a ser, sobretudo tendo em conta o aumento das poupanças (depósitos) das famílias.
“O consumo não está em nada parecido com o que era em 2019, as pessoas estão com mais prudência. Claro que há várias famílias que perderam rendimento mas olhando para volumes de poupança numa situação normal o consumo devia aumentar mais”, afirmou.
O BPI prevê que o crescimento da economia em 2022 seja de 5%. Portugal deverá ser o país que mais tarde chegará à recuperação, aos níveis de 2019, com exceção de Espanha.
Sobre o setor bancário, João Pedro Oliveira e Costa considerou que este tem resistido a esta crise porque “se preparou e reagiu muito depressa” e disse que o que o mais preocupa é a rentabilidade da banca, “a dificuldade dos bancos em rentabilizar os capitais”.
Considerou ainda que é normal reguladores e supervisores pedirem prudência aos bancos, mas também disse que os bancos são “constantemente postos à prova” por novos operadores que não têm de cumprir o mesmo nível de exigências nem têm o mesmo legado passado. Afirmou também que a fiscalidade não favorece os bancos face a novos operadores.