Big Brother Digital: Medidas de controlo podem manter-se depois da pandemia, alerta especialista

A pandemia do novo coronavírus impulsionou um aumento global sem precedentes do controlo digital, com milhões de pessoas a enfrentar uma monitorização que os especialistas acreditam que pode ser difícil de reverter, de acordo com investigadores e defensores da privacidade a nível mundial, citados pelo ‘The Guardian’.

Governos de pelo menos 25 países estão a implementar várias medidas de controlo digital, nomeadamente: diversos programas que fazem o rastreio de dados móveis, aplicações que registam os contactos pessoais entre a população, redes equipadas com a tecnologia de reconhecimento facial e ainda drones que impõem regimes de isolamento social.

Os métodos foram assim adoptados por estados e democracias autoritárias e abriram caminho para novos mercados lucrativos de empresas que extraem, analisam e vendem dados privados. Um dos principais especialistas do mundo em vigilância móvel disse que a pandemia da Covid-19 pode conduzir a graves abusos de poder.

«A maioria destas medidas não tem cláusulas de caducidade». Podem ser estabelecidas definitivamente «e vir a tornar-se normais», disse Ron Deibert, chefe do ‘Citizen Lab’ da Universidade de Toronto, citado pelo ‘The Guardian’, acrescentando que «temos que estar muito atentos quanto a este assunto para garantir que existem salvaguardas apropriadas, porque o potencial de abuso de poder é bastante extremo», refere.

Na China, milhões de pessoas instalaram aplicações obrigatórias de «códigos de saúde» que determinam se os utilizadores infectados com Covid-19, podem viajar ou sair de casa. Para isso são codificados por cores: verde, amarelo ou vermelho, consoante a gravidade do seu estado.

Na Europa, alguns governos encontram-se a recolher dados de empresas de telecomunicações, bem como a utilizar drones e aplicações de rastreio de contactos, pioneiros na Ásia.

Nos EUA, a Apple e o Google anunciaram a abertura dos seus sistemas operacionais móveis para permitir aplicações semelhantes, que serão executadas em iPhones e telemóveis Android.

Por sua vez, Moscovo, a capital russa com 12 milhões de pessoas, vai exigir que os seus cidadãos apresentem códigos QR para circular nas ruas. Para além disso quer ainda instalar um sistema com 100 mil câmaras de vigilância e tecnologia de reconhecimento facial para obrigar o cumprimento da quarentena.

«Este não é um problema exclusivo dos governos autoritários. Está a acontecer em todo o mundo», disse Samuel Woodhams, líder de direitos digitais no Top10VPN de Londres, que compilou um índice de novas medidas de vigilância relacionadas com o surto de coronavírus. «Muitas das tecnologias que estamos a ver são assustadoramente semelhantes», afirma.

Uma eventual reversão desta vigilância vai depender da supervisão pública, alertam especialistas.

Os especialistas consideram também que o foco excessivo nas medidas de vigilância pode estar a desviar os recursos necessários para as abordagens médicas, nomeadamente a melhoria da capacidade de testagem ou o fornecimento de mais mais equipamentos médicos aos hospitais.

«É este tipo de ‘solucionismo tecnológico’ que pode ficar bem no papel, mas na verdade está a prejudicar os esforços para combater a doença a longo prazo», disse Edin Omanovic, director de advocacia da instituição de caridade ‘Privacy International’, sediada em Londres.

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