Autoridades chinesas raptam e deportam os seus próprios cidadãos para a China a partir de países da União Europeia, acusa organização

As autoridades chinesas têm raptado os seus próprios cidadãos e devolvido-os à força para a China há pelo menos 10 anos, segundo denunciou esta quarta-feira um relatório da ONG de direitos humanos, ‘Safeguard Defenders’, em clara violação do Estado de direito e da segurança pública na Europa.

A ONG revelou, em 2022, a existência de 120 esquadras de polícia ilegais em 53 países, incluindo 50 esquadras situadas na União Europeia. Estes organismos encarregam-se de monitorizar os cidadãos chineses, o que gerou receio de que os ativistas pudessem ser rastreados e assediados como parte de uma repressão à dissidência – de acordo com Pequim, os centros foram concebidos para permitir aos seus cidadãos o acesso aos serviços administrativos.

De acordo com Laura Harth, uma das autoras do relatório, os raptos fazem parte de “operações policiais secretas” onde agentes são enviados ao estrangeiro em missões específicas. “Na verdade, a metodologia oficial envolve sequestro”, acusou Harth. “Os cidadãos são persuadidos a voltar para onde estão os seus familiares, caso contrário, recorrem à punição coletiva. Eles são privados de suas pensões, são presos”, precisou a investigadora, em declarações à ‘Euronews’.

Há dez anos, a China lançou uma das suas campanhas mais notórias até à data, a Operação Fox Hunt (2014), logo seguida pela abrangente Operação Sky Net (2015), uma extensão global da campanha anticorrupção de Xi Jinping. “Vemos que esta é a política oficial da República Popular da China, o Partido Comunista Chinês”, explicou Harth. “E acho muito assustador que eles sintam que podem entrar abertamente em território europeu e em diferentes áreas do mundo. Documentámos quase 300 casos e quase 60 países onde isso aconteceu. Realizar essas operações ilegais de aplicação da lei onde quer que queiram é realmente bastante assustador.”

Os números oficiais chineses mostram 12 mil casos de repatriamento de mais de 120 países, como resultado das duas principais campanhas de repatriamento. Estes são frequentemente considerados por Pequim como um grande sucesso. “Acontece todos os dias, em todo o mundo. E, infelizmente, sinto que a Europa ainda não acordou para esta ameaça que estas comunidades enfrentam todos os dias”, salientou Harth, garantindo que os alvos da campanha são frequentemente dissidentes críticos do regime chinês.