Atrasos nos limites de poluição atmosférica na UE significarão a morte precoce de centenas de milhares de pessoas, alertam médicos

Os atrasos propostos para os limites de poluição atmosférica na União Europeia vão significar a morte precoce de centenas de milhares de pessoas e “aumentarão o fosso de desigualdade” entre a Europa Oriental e Ocidental, alertou esta sexta-feira um grupo de especialistas em saúde pública, citados pelo jornal britânico ‘The Guardian’.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) estabeleceu diretrizes sobre a poluição atmosférica, salientando que nenhum nível de poluição é seguro para respirar: de acordo com os médicos responsáveis por um estudo no ‘International Journal of Public Health’, os limites devem ser atingidos até ao final da década, mas o Parlamento Europeu pretende esperar até 2035, ao passo que a Comissão Europeia quer estabelecer limites mais fracos para 2030, sem, contudo, definir uma data para se alinhar com a OMS.

“Cada ano de atraso para atingir os valores-limite traduz-se diretamente em mais mortes e doenças”, garantiu Barbara Hoffman, presidente do conselho de defesa da Sociedade Respiratória Europeia (ERS) e chefe de epidemiologia ambiental da Universidade Heinrich Heine, em Düsseldorf (Alemanha).

Hoffman e colegas de vários institutos de saúde pública descobriram que mais 330 mil pessoas morreriam precocemente se os Estados-membros da UE com níveis de partículas finas superiores a 10 microgramas por metro cúbico adiassem a redução da sua poluição para esse nível por uma década, de 2030 a 2040. O limite da OMS é de 5 microgramas por metro cúbico. “Estes números deixam claro que permitir atrasos imporá uma perda substancial, injusta e inaceitável de vidas humanas na Europa”, escreveram os cientistas.

O pior ar da Europa encontra-se nos países centrais e orientais, bem como em Itália – no entanto, um estudo recente descobriu que 98% dos europeus respiram um ar tão sujo que ultrapassa os limites da OMS.

O Conselho Europeu propôs que os países com uma elevada percentagem de agregados familiares de baixos rendimentos e um PIB por pessoa inferior à média da UE sejam autorizados a atingir os valores-limite até 2040, porque têm menos dinheiro para investir na limpeza. Para os cientistas, “usar a pobreza como desculpa para não agir é exatamente o oposto daquilo que estes países precisam”.

“Precisamos de uma nova legislação justa e ambiciosa sobre a qualidade do ar na UE, que valorize igualmente a saúde de todos os europeus”, afirmou Zorana Jovanovic Andersen, epidemiologista ambiental da Universidade de Copenhaga. “As crianças e os adultos nos países da Europa de Leste já respiram o ar mais poluído da Europa – e sofrem de doenças pulmonares relacionadas – há demasiado tempo.”

A poluição atmosférica é prejudicial para as economias também, uma vez que significa que as pessoas faltam mais ao trabalho por doença e precisam de mais tratamento no hospital. De acordo com dados da Comissão Europeia, o cumprimento integral das orientações da OMS até 2030 proporcionaria o maior benefício económico líquido dos três cenários considerados, com poupanças de 38 mil milhões de euros por ano.

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