Assinalam-se hoje dois anos da morte de Mahsa Amini às mãos da polícia iraniana. Autoridades reforçam segurança para protestos previstos

Neste domingo completam-se dois anos desde a morte de Mahsa Amini, a jovem iraniana de 22 anos que morreu sob custódia da polícia de costumes iraniana, após ser detida por alegadamente não usar o véu islâmico de acordo com os padrões exigidos pelo regime. A sua morte, em 2022, desencadeou uma onda sem precedentes de protestos contra o regime teocrático do Irão, marcados por uma repressão violenta. O movimento, que ficou conhecido como “Mulher, Vida, Liberdade”, continua a reverberar, mas o governo tem vindo a intensificar medidas para conter novos protestos.

Medidas de vigilância reforçadas em Saqqez
Nos dias que antecedem o aniversário da morte de Mahsa Amini, as autoridades iranianas aumentaram significativamente as medidas de vigilância na cidade de Saqqez, local de nascimento da jovem. A cidade, localizada na província do Curdistão, tem sido um dos focos de resistência contra o regime desde 2022. O governo iraniano tem instalado novas câmaras de vigilância em estradas e ruas, principalmente em áreas que no ano passado não estavam cobertas por esse tipo de monitorização. Estas ações fazem parte de uma política mais ampla de controlo e repressão do espaço público, numa tentativa de impedir manifestações no segundo aniversário da morte de Amini.

A instalação de câmaras de vigilância não é nova. Antes do primeiro aniversário da morte da jovem, o governo já havia adotado medidas semelhantes, expandindo a capacidade de vigilância em Saqqez. No entanto, agora as autoridades estão a intensificar ainda mais este esforço, focando-se em zonas que foram epicentros dos protestos no ano anterior. Paralelamente, várias organizações governamentais estão a organizar eventos públicos que aparentam ter o objetivo de transmitir uma sensação de normalidade, na esperança de desviar a atenção da crescente tensão.

Prisões em massa e repressão a dissidentes
Nos últimos dias, as forças de segurança iranianas prenderam várias pessoas nas regiões curdas do país, numa tentativa clara de neutralizar possíveis manifestações. Até agora, quatro pessoas foram detidas sem mandados de busca ou prisão na manhã deste domingo, no distrito de Divandarreh, na província do Curdistão, de acordo com informações fornecidas pelo Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC). Entre os detidos estão Mohammad Amini, de 39 anos, Navid Sharifi, Farhad Qamari e Fouad Moradi, todos cidadãos de pequenas aldeias da região.

Além dessas detenções, a organização de direitos humanos Hengaw informou que, nos últimos dias, pelo menos 14 ativistas civis, artistas e familiares de pessoas mortas durante os protestos de 2022 foram presos em várias cidades curdas. Entre os detidos estão Siavash Soltani, filho de Kobra Sheikheh, uma das vítimas da repressão, e Ramyar Abubakri, um adolescente de 16 anos, irmão de Zaniar Abubakri, outro jovem morto durante os protestos.

Fontes locais relataram ao IranWire que estas detenções são parte de uma campanha mais ampla de repressão contra dissidentes e familiares daqueles que perderam a vida durante a violenta resposta do governo aos protestos de 2022. As prisões, muitas vezes arbitrárias, visam silenciar vozes críticas e intimidar aqueles que continuam a exigir justiça pela morte de Mahsa Amini e de outras vítimas do regime.

Mahsa Amini, uma jovem curda de 22 anos, foi presa pela polícia de costumes iraniana por supostamente não usar o véu islâmico de forma adequada, conforme estipulado pelas rigorosas leis de vestuário do regime. A jovem morreu três dias após a sua detenção, numa circunstância que gerou grande comoção pública. Embora as autoridades iranianas tenham inicialmente alegado que Amini morreu devido a problemas de saúde preexistentes, testemunhas e familiares afirmaram que ela foi severamente espancada pela polícia enquanto estava detida.

A morte de Amini provocou uma onda de manifestações sem precedentes no Irão, marcadas pela coragem das mulheres que lideraram os protestos e desafiaram diretamente as leis que obrigam o uso do véu islâmico. As manifestações rapidamente ganharam dimensão nacional e passaram a englobar um leque mais amplo de reivindicações, incluindo a exigência de mais direitos civis e o fim do regime teocrático. O movimento “Mulher, Vida, Liberdade” tornou-se o grito de guerra dos manifestantes que, apesar da repressão brutal, continuam a exigir mudanças.

Desde o início dos protestos, o regime iraniano tem-se mostrado inabalável na sua postura de repressão. Centenas de pessoas foram mortas durante os protestos de 2022, e milhares de outras foram presas. No entanto, a insatisfação pública continua a crescer, especialmente entre a juventude iraniana, que anseia por maior liberdade e menos controle do Estado sobre as suas vidas.

Com a aproximação do segundo aniversário da morte de Mahsa Amini, a intensificação das medidas repressivas e das prisões mostra que o governo iraniano continua a ver qualquer sinal de dissidência como uma ameaça existencial. No entanto, a memória de Amini e o impacto da sua morte permanecem profundamente enraizados na sociedade iraniana, sendo uma faísca contínua para o movimento de resistência que desafia o regime.

O legado de Mahsa Amini continua a ecoar em todo o Irão, simbolizando a luta por liberdade e igualdade, numa sociedade que, embora controlada por um regime opressor, não deixa de erguer a voz contra a injustiça.

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