“As oportunidades que Portugal não pode desperdiçar”: Os pontos-chave da XXIV Conferência Executive Digest

A XXIV Conferência Executive Digest reuniu no dia 19 de abril, na Culturgest 16 Presidentes, gestores e decisores de referência de Portugal para debater “As oportunidades que Portugal não pode desperdiçar”. Estes foram os pontos-chave das intervenções dos oradores convidados.

 

Ultrapassar a atual crise “só pode ser feito em conjunto”

Ricardo Florêncio defendeu que a atual situação de crise, desencadeada e agravada por fatores como “a guerra na Ucrânia, a inflação e o aumento do custo de vida”, “só será ultrapassada com o trabalho conjunto” das empesas que compõem o tecido empresarial nacional.

O CEO da Multipublicações Media Group considerou que “vivemos tempos estranhos e difíceis”, caracterizados por um “clima de agitação social” que há muito não se vivia, no discurso inaugural da XXIV Conferência Executive Digest, na Culturgest, em Lisboa, esta quarta-feira.

Referiu ainda as várias oportunidades que Portugal pode aproveitar, como o “ensino, os fundos europeus, o PRR, o mar, o turismo, a saúde, entre outras áreas em que nos podemos diferenciar”. “Somos competitivos [nesses setores] e temos reconhecimento internacional”.

 

“A eficiência, talento e inovação são os fatores principais” para não o crescimento das empresas e do país

Paulo Moita de Macedo, Presidente da Comissão Executiva e Vice-Presidente do Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos, abriu a XXIV Conferência Executive Digest como keynote speaker, onde abordou temas como governance, gestão, transição energética, talento, oportunidades que Portugal não pode perder.

O Presidente da Comissão Executiva da CGD começou por sublinhar que partimos de um cenário pouco favorável, com um grande crescimento nas décadas de 50 e 60, e depois um crescimento anémico, “basicamente foram 20 anos sem crescer”.

E que políticas precisamos de implementar para alcançarmos este crescimento? Questionou. Este crescimento tem como base as pessoas, devendo o país aumentar e adequar as qualificações dos portugueses face aos desafios do futuro. Por outro lado, as empresas, que criam a riqueza, onde o país deve apoiar a criação, desenvolvimento e escala das empresas nacionais. E também na vertente do Estado e na melhoria do seu desempenho enquanto promotor da criação de riqueza para a sociedade.

“A maior parte das empresas não sabe hoje como criar valor, sabem o que vendem, onde fazem dinheiro”, considera Paulo Macedo, e a governance passa em primeiro lugar pelas pessoas, pela arquitetura, pelas estruturas e processos e pelas dinâmicas”, sublinhou.

 

“80% das empresas não proporcionam formação aos trabalhadores, é um problema sério e estrutural”

Pedro Dominguinhos, presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), apontou a necessidade de analisar os dados da produtividade e competitividade regional, e ver como o PRR ” se encaixa para corrigir os desequilíbrios regionais e ver se as soluções estão a ir de encontro às debilidades” de cada uma das regiões nacionais.

Na sua intervenção, sob o tema ‘Contributos do PRR para processo de catching up da competitividade da economia portuguesa’, Pedro Dominguinhos considerou redutor “colocar apenas a questão de quanto já se executou do total que se recebeu”, defendendo que se deve olhar a objetivos.

“Há empresas já a assinar contratos sem receberem porque está no seu ‘pipeline’. São milhares de entidades a executar o PRR em Portugal”, referiu, lembrando que “vão ser avaliadas por cumprimento de objetivos”, uma alteração que permite “um acompanhamento mais exigente do que executar financeiramente determinados projetos”.

 

“Devemos ter todo o setor privado preparado para apoiar o crescimento da economia azul”

A primeira mesa-debate teve como mote “A Economia do mar: Como oportunidade de desenvolvimento para Portugal – Tanto e tão pouco”, e contou com a participação de Helena Vieira, Cordinator Researcher & ERA Chair Holder da Universidade de Aveiro, e Vasco Becker-Weinberg, Professor Universitário e Presidente do Instituto Português de Direito do Mar (IPDM).

Tendo em conta que 97% do território português é mar, Helena Vieira destacou os números deste setor. A economia do mar em Portugal representa 5,1% do PIB, 5% das exportações nacionais, 4% do emprego nacional, no entanto, o peso principal vem do turismo, desporto, pescas, e apenas depois a parte mais tecnológica como o shipping, os portos, entre outros.

Em Portugal há 40 mil empresas ligadas à economia do mar, um número que seria bastante superior se outras empresas que integram a cadeia de valor tivessem esta componente no seu CAE.

Para Vasco Becker-Weinberg, aplicamos um conjunto de chavões que não se materializam em nada tangível. “Não podemos apenas injetar milhares de milhões e esperar que isso se materialize”, devemos ter um pensamento estratégico para a economia do mar, pois há um conjunto de problemas que necessitam de reflexão.

Se vamos desenvolver uma economia do mar que tem como sustento as energias renováveis, temos que ter conhecimento e uma análise sobre em que áreas podemos ser competitivos.

 

“É preciso desacantonar o turismo”

É preciso “desacantonar o setor do turismo” para aproveitar em pleno todas as oportunidades que este mercado oferece para Portugal. Foi este um dos pontos de destaque no painel de debate ‘O Turismo hoje e sempre como alavanca da nossa Economia”. Foram ouvidos na conversa José Theotónio, CEO do grupo Pestana Hotels & Resorts e Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal.

José Theotónio apontou que, olhando a séries longas de dados, verifica-se que “o turismo é um setor que cresce globalmente 4% ao ano”. “Portugal tem aqui uma sorte, num setor que é globalizado, porque tem vantagens comparativas em relação aos outros países. Temos o melhor clima da Europa, proximidade dos principais mercados emissores, somos um país relativamente pequeno em área territorial, mas que é muito diversificado, e por isso conseguimos oferecer turismo de vários segmentos (de ilhas, religioso, praia, cultural, ecoturismo)”, começou por explicar o responsável.

Já Luís Araújo recusou que o crescimento verificado no setor, nos últimos anos, seja devido a sorte. “A sorte dá muito trabalho, e houve muito trabalho para posicionar o país onde ele está hoje. Crescemos mais de 60%: em 2015 tínhamos menos de metade do que foram as receitas em 2022. Um crescimento que tem sido muito superior a nível de receitas do que em número de dormidas e hóspedes, continuamos é a diversificar mercados.

 

“Não se pode criar uma área do digital nas empresas, essa transformação deve ser transversal”

Luísa Pestana, Administradora da Vodafone e Marlos Henrique Silva, leader digital  iInovação da MC/Sonae, foram os oradores convidados para a mesa-debate “A transição digital, a digitalização e a inovação: um caminho 360º”

A Administradora da Vodafone considerou que juntar a tecnologia aos processos acrescenta muito valor, nomeadamente ao nível da consistência e da assertividade. “O digital traz-nos grandes vantagens, apenas não nos traz a emoção e o atendimento personalizado”.

Luísa Pestana sublinha que, na Vodafone, um terço dos colaboradoresintegra funções digitais, mas não se perspetiva que o atendimento humano vá terminar, quer em loja ou em contact center. “No entanto as qualificações são importantes e tendem a ser diferentes no futuro”, sublinha.

Já no caso da MC, Marlos Henrique Silva disse que estão a implementar a transformação dgital em duas dimensões, uma é organização, de cultura, e processos alicerçados numa cultura costumer centric, a pensar no cliente e na sua jornada, seja física, seja digital, seja phigital.

“Hoje pensamos muito em agilidade, em testar, porque as oportunidades são imensas”, disse o responsável, sublinhando que “tudo o que desenhamos é à volta do cliente e desse contacto humano”.

 

Sistema de Saúde com duas redes é ainda obstáculo à consolidação de um ‘cluster’ no setor

O debate sobre a dualidade dos setores público e privado no sistema de Saúde português é ainda um dos principais obstáculos à consolidação de um verdadeiro ‘cluster’ de Saúde em Portugal. A perspetiva foi manifestada por Joaquim Cunha, diretor executivo da Health Cluster Portugal e Isabel Vaz, CEO do grupo Luz Saúde, na mesa de debate ‘A importância de desenvolver um verdadeiro Cluster da Saúde’, na XIV Conferência Executive Digest.

Joaquim Cunha começou por destacar na intervenção que este cluster constitui “uma cadeia de valor, que pode e deve começar nas “universidades e institutos de investigação, já que a saúde é um dos setores com mais conhecimento científico”. A área é cada vez mais tecnológica e atualmente a cadeia de valor neste setor é de “cerca de 100 mil empresas” em Portugal, que representam “um volume de negócios de 34 mil milhões de euros, 6% do PIB. É um setor que emprega 400 mil pessoas, 8,5% do total de empregados em Portugal, e no ano passado exportou 2,5 mil milhões de euros”, sublinhou o responsável da Health Cluster Portugal.

Isabel Vaz, CEO do grupo Luz Saúde, aponta que o cluster de Saúde não é constituído apenas por hospitais, que “são uma ínfima parte” do todo. Recordando que “o setor da saúde é um dos maiores negócios em Portugal, que mexe com 10 a 12% da riqueza nacional”, aponta que é “um grande cluster económico e que tem ramificações a todas as áreas da economia”.

 

“O tema de sustentabilidade deve estar no core da estratégia das empresas”

João Mestre, Head of Sustainability da Fidelidade e Miguel Fonseca, Administrador da EDP Comercial, abordaram “A importância da sustentabilidade e da transição energética: Tema chave para o nosso crescimento e sucesso” na XXIV Conferência Executive Digest.

Miguel Fonseca considera que “o tema de sustentabilidade deve estar no core da estratégia das empresas”. No entanto, sublinha que este é um setor com diversas dificuldades, nomeadamente na retenção de talento e na resposta às exigências verdes dos clientes, e as “empresas que entregam este valor são as mais bem-sucedidas”.

Para João Mestre, a transição energética só é importante porque existem pessoas no mundo. “Para nós o tema social é o mais importante”, sublinhou.

O Head of Sustainability da Fidelidade sublinhou ainda a necessidade de as empresas pensarem numa transição energética justa, ou seja, “como é que, no setor dos seguros, conseguimos contribuir para a transição energética, mas sem agravar os problemas económicos e sociais dos problemas”.

 

Remunerações baixas ‘travam’ subida das universidades portuguesas nos rankings internacionais e impedem captação de talentos

Portugal afirma-se cada vez com maior força como País com Ensino Superior de alta qualidade, e conta com universidades e politécnicos reconhecidos internacionalmente, muitas vezes destacados nas listas das melhores do mundo. Mas a subida, que já foi mais acelerada, está a abrandar, e há dificuldade em captar e fixar novos talentos nas empresas nacionais. Os baixos salários no início das carreiras são um dos principais obstáculos.

A posição foi transmitida por Mariana Canto e Castro, diretora de recursos humanos da Randstad Portugal e Pedro Brito, associate dean da Nova SBE.

“Temos uma vantagem competitiva que não sei se estaremos a aproveitar ao máximo. Trabalhamos muito na parte académica, garantindo ensino de elevadíssima qualidade, mas quando os alunos terminam a universidade e seguem a carreira, ai há um esforço desequilibrado”.

 

 

“Convencemo-nos que somos um país pequeno e periférico”, mas podemos e devemos fazer muito melhor

Pedro Ginjeira do Nascimento, Presidente da Associação Business Roundtable Portugal, foi o orador de encerramento da XXIV Conferência Executive Digest, onde sublinhou o tema da intervenção, “Portugal pode e deve ser muito melhor”.

Quem não cria riqueza não cria oportunidades, e isto mostra que o modelo de desenvolvimento do nosso país precisa de ser mudado.

“Convencemo-nos que somos um país pequeno e periférico, normalizámos o fracasso do país, esquecemo-nos que são os privados que criam riqueza e escolhemos procurar mais apoios. Duas décadas perdidas”, sublinha.

A Associação BRP acredita que Portugal pode fazer mais e melhor. Estamos incluídos na Europa, a maior região económica do mundo, temos sete unicórnios de ADN nacional, temos empresas globais que se internacionalizaram, temos empresas que estão em 100 países, temos empresas inovadoras e com uma grande aposta na inovação.

 

 

 

 

 

 

 

 

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