“As business schools em Portugal têm mais a ganhar se trabalharem em conjunto”: João Pinto, dean da Católica Porto Business School

Mais do que transmitir conhecimentos técnicos, estas instituições moldam profissionais com as habilidades e o mindset necessários para superar os desafios dos mercados, munindo-os de ferramentas, hard skills e soft skills que os preparam para negócios bem-sucedidos.
A Norte, encontramos uma das mais prestigiadas escolas de negócios portuguesas, a Católica Porto Business School (CPBS), que conta com mais de 35 anos de uma história pautada pelo crescimento e pela excelência no ensino nas áreas da economia e gestão.
Esta escola de negócios trabalha com três eixos estratégicos – a inovação com impacto, mentalidade global e ligação à prática – e são eles a base de trabalho de toda a estrutura, que engloba o corpo docente especializado, os alunos e os colaboradores da escola.
Num espaço preenchido por estudantes num dia de sol de primavera, a Executive Digest sentou-se com João Pinto, que assumiu em Dezembro de 2023 o cargo de director da Católica Porto Business School, uma de três no país com tripla acreditação (EQUIS, AMBA e AACSB).
Em conversa, o novo líder da escola de negócios portuense falou sobre o papel destas instituições para os alunos e para as empresas, os desafios que enfrentam, e também o que é preciso fazer para construir um bom líder empresarial.

No seu discurso de tomada de posse disse que queria “uma escola que vá mais além”. Como podem ir mais além?
A CPBS tem mais de 35 anos de existência, e soube-se apresentar e introduzir no mercado como uma escola de excelência na área da economia e da gestão.
Tem desenvolvido investigação de ponta nestas áreas, soube diferenciar-se na inovação dos seus programas de formação, nomeadamente ao nível das licenciaturas, com o desenvolvimento e oferta de módulos ligados mais a soft skills e menos a hard skills, preparando os alunos para a sua vida e desenvolvendo o espírito de empreendedorismo.
A par disto, é de sublinhar que teve sempre uma grande aproximação com as empresas, ligação à prática.
Todos estes factores são diferenciadores, e a atestar isso mesmo está a tripla acreditação que a escola tem, e que apenas 1% das escolas de negócios de todo o mundo possuem. Em Portugal há três escolas com esta tripla acreditação.
Agora, é preciso dar um novo passo, passar para o nível seguinte, ou seja, conseguirmos avançar para a internacionalização da escola, sem colocar em causa tudo o que referi anteriormente. 

Temos um problema em Portugal. Temos agora uma maior concorrência a nível europeu de escolas que há uns anos não estavam no radar dos alunos, pelo que a nossa concorrência passa a ser externa, e devemos ter a capacida-
de para atrair alunos internacionais para as licenciaturas, mestrados e formação executiva.
Há um caminho grande a fazer, não só ao nível dos alunos, mas também dos docentes. Para além disso, as agências de acreditação são também muito exigentes no que respeita à internacionalização do próprio corpo docente. Neste momento, temos vários professores que são internacionais, e qualquer aluno pode fazer a licenciatura em inglês, sendo também que os mestrados são quase todos em inglês.
Temos todos os ingredientes para que isso aconteça, temos um corpo docente internacional significativo, mas temos de reforçar essa componente, pela via de atracção de mais alunos, de mais docentes internacionais, e também de parcerias internacionais, não só com universidade, mas também com empresas.
Temos de ter a capacidade de trabalhar com as empresas internacionais que estão em Portugal, e também com as que não estão, podemos trabalhar com elas.

E há esse interesse?
Sim. O Porto está na moda, não só no turismo, mas também para empresa internacionais, temos vários hubs na zona Norte quer na área do digital, serviços financeiros, e temos de colaborar com essas empresas.
Temos também trazido para a Católica muitas empresas internacionais para projectos de investigação, e é muito interessante fazer a ligação com essas empresas e desenvolver projectos conjuntos.

Quais são os desafios mais significativos que as escolas de negócios enfrentam actualmente?
Há um problema histórico que é um problema de financiamento. Nós, enquanto Universidade Católica Portuguesa, não estamos dependentes de apoio do Estado. Quando falamos em investigação, esta é muito dependente do financiamento que vem através da FCT e de projectos internacionais.
Diria que existem dois grandes problemas, um de subfinanciamento por parte da FCT, mas acima de tudo a in-
capacidade de as escolas se juntarem para conseguirem financiamento europeu competitivo, porque uma sozinha não o consegue, e se criarmos consórcios que consigam ter a dimensão necessária para os projectos, sempre em ligação com as empresas, isso é muito interessante.
As business schools em Portugal têm mais a ganhar se se juntarem e se trabalharem em conjunto, do que se tiverem uma visão de concorrência.

Como é que as escolas de negócios se estão a adaptar às mudanças nas necessidades dos empregadores?
As universidades têm alguma dificuldade porque não são muito flexíveis em adaptarem-se rapidamente às necessidades dos empregadores. Se por um lado estão à frente da investigação fundamental que vai para as empresas e dá origem a novos projectos e produtos, por outro lado, no que é o ajustamento necessário para conseguirem dar resposta rápida a alterações e tendências no mercado de trabalho, são pouco flexíveis.
Não há dúvida que as universidades e as faculdades têm de se adaptar. E rapidamente, porque há desafios enormes ligados à digitalização, Inteligência Artificial, sustentabilidade, tecnologia, temas críticos, e as universidades ou têm capacidade para se adaptar e de alterar os seus programas para dar resposta, ou então são impactadas negativamente.
Na Universidade Católica Portuguesa temos uma vantagem, porque somos muito flexíveis. Por exemplo, na formação de executivos, na pós-graduação em sustentabilidade e regeneração, é uma formação que é diferente do que é oferecido noutras escolas porque temos uma faculdade de engenharia e biotecnologia dentro de portas que tem mais de 300 investigadores focados em sustentabilidade e economia circular.

Na concepção dos cursos, existe diálogo com as empresas para perceber as necessidades?
Sim. Todos os anos, o nosso Career and Development Office, um departamento que trata da empregabilidade, organiza um dia em que convidamos as empresas a vir à universidade, e os elementos da direcção são distribuídos por salas com múltiplos empregadores para ouvi-los e perceber quais são as tendências e como rapidamente as conseguimos introduzir nos nossos programas.
Estamos a redesenhar os nossos programas com o feedback das empresas, mas também da sociedade em geral. 

E qual é que é a importância da ética nas empresas?
É fundamental. E não só nas empresas, mas também em tudo o que é cargos de gestão pública e até mesmo de governação, a ética é crítica.
Nós, na CPBS, até porque somos uma faculdade da Universidade Católica Portuguesa, a ética está na base de tudo. Na base, e é transversal a tudo o que fazemos, estão três conceitos: ética, responsabilidade social e sustentabilidade.
Temos formações específicas nestas áreas, formação executiva, cursos na área da ética, cursos em responsabilidade social, por exemplo a formação de Liderança Social para Gestores, e também os programas de sustentabilidade.

Para si, quais as principais características que deve ter um líder empresarial?
Para mim, um bom líder precisa de ser uma pessoa que tem empatia, precisa de perceber que está a gerir pessoas, e que as pessoas têm de ser entendidas, compreendidas, e sempre que possível conseguir-se colocar nos sapatos dos outros. Só fazendo isso é que depois consegue motivar os outros para determinado objectivo.
Conheço muitos casos em muitas organizações que tinham estratégias fantásticas, mas que depois a liderança não foi capaz de as implementar e tiveram muitas dificuldades, muitas delas até caíram. E tenho exemplos de empresas sem estratégia definida, mas com um excelente líder que vão muito longe.
A empatia, a capacidade de entender os outros é fundamental.
Depois tem de dominar tecnicamente os assuntos, conhecer o sector de actividade, ter capacidade técnica, porque não é necessário apenas ter soft skills, tudo isto é fundamental.
Para além disso, é necessário também que tenha formação de qualidade nas áreas da liderança, estratégia, inovação, sustentabilidade, negociação, digitalização, Inteligência Artificial, novos temas que são fundamentais nos dias de hoje.

E no que respeita à literacia financeira, como analisa os líderes e gestores portugueses?
Em Portugal, e nos países do Sul da Europa, o tema da literacia financeira está esquecido. Se olharmos para os países do Norte da Europa vimos que as crianças têm literacia financeira nos programas escolares. Nós não temos.
É mesmo importante que as pessoas percebam o que é a gestão financeira, e não só ao nível das empresas, mas também do orçamento pessoal e familiar.
Precisamos de desenvolver muito este tema, precisamos de desenvolver a literacia ao nível das escolas e do ensino superior, colocando esses temas nos programas de formação.
Considero que os gestores portugueses têm défices de skills nessa área. Há um estudo da OCDE que identifica, apesar de os gestores não reconhecerem, que eles acham que estão mais avançados do que realmente estão do ponto de vista de conhecimento na área financeira.
Já que se fala tanto hoje em sustentabilidade, e um dos seus componentes é a sustentabilidade financeira e como as finanças podem apoiar este movimento de transição climática, temos de aproveitar.
Uma empresa, se não for sustentável financeiramente, como é que vai conseguir implementar projectos que melhorem a sua maturidade em termos ESG [ambiental, social e governação]?

Ainda mais quando o tecido empresarial português é massivamente composto por micro e pequenas empresas?
O que me preocupa não são as grandes empresas, porque essas já estão a fazer caminho, têm recursos humanos para o fazer, o que me preocupa são as PME, estamos a falar de 99,9% das empresas em Portugal, responsáveis por 70%do
emprego e 60% do volume de negócios no País. Claramente, os quadros técnicos e a gestão destas empresas precisam de se desenvolver para melhorar os skills na área financeira e de sustentabilidade.
Diria que agora temos três desafios: dos clientes, pois se as empresas não fazem as alterações, os clientes não compram o produto; regulatório, pois a regulação está a apertar e sabemos que a partir de 2025 as PME têm de começar a reportar o trabalho desenvolvido no que respeita ao ESG; e temos um problema financeiro que é, se não forem cumpridos determinados requisitos, o banco ou não financia ou financia a taxas muito elevadas, porque o risco é maior.
Isto é um problema. Se as PME não efectuarem uma verdadeira alteração, reduzindo o seu impacto negativo na sociedade, vão ter dificuldade em obter financiamento.
Há um enquadramento exigente para as PME nos próximos anos.

Que conselho daria às escolas de negócios para se prepararem para o futuro?
Primeiro, é necessário atrair mais alunos e parcerias internacionais, não só com outras escolas, mas também com empresas. É fundamental, até para financiar os seus projectos de investigação e estratégicos para as escolas. É também preciso cooperar entre elas. A minha opinião é que, até agora, as escolas de negócios têm trabalhado muito de forma isolada, e considero importante que se sentem à mesa a conversar para criar produtos para serem oferecidos a nível internacional, desde formações até doutoramentos.
Para além disso, acho que devem de ter capacidade e flexibilidade para reagir rapidamente ao que o mercado de trabalho está a exigir. As tendências são disruptivas.
Ou conseguimos incorporar estes fatores, ou então temos um problema porque a sociedade, alunos, empresas, vão começar a segmentar mais. 

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