Arranca hoje na Suíça a Conferência para a Paz na Ucrânia. 90 países presentes (mas China e Rússia, nem vê-los)

A Suíça acolhe este fim de semana a Conferência para a Paz na Ucrânia, que arranca hoje e juntará representantes de mais de 90 países e organizações, incluindo Portugal, mas não da Rússia nem da China, entre outros ausentes de peso.

O objetivo da conferência, organizada pela Suíça na sequência de um pedido nesse sentido do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, no início do ano, quando assistiu ao Fórum de Davos, é “inspirar um futuro processo de paz”, tendo por base “os debates que tiveram lugar nos últimos meses, nomeadamente o plano de paz ucraniano e outras propostas de paz baseadas na Carta das Nações Unidas e nos princípios fundamentais do direito internacional”.

Nesta cimeira, que decorrerá entre hoje e domingo na estância suíça de Burgenstock, nos arredores de Lucerna, centro da Suíça, a Ucrânia espera obter nesta conferência um largo apoio internacional a um plano conjunto de paz, já na perspetiva de uma segunda cimeira, para a qual seria convidada a Rússia, que lançou a ofensiva militar contra o seu país vizinho em fevereiro de 2022.

Entre os participantes – cerca de metade dos quais da Europa – contam-se o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a vice-Presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, o chanceler alemão, Olaf Scholz, e o Presidente francês, Emmanuel Macron.

Entre os grandes ausentes da cimeira, para a qual haviam sido convidados 160 países e delegações, destaque naturalmente para a Rússia, que por diversas deplorou a realização de uma conferência baseada no plano de paz apresentado em finais de 2022 por Zelensky – que prevê uma retirada das tropas russas do território ucraniano, compensações financeiras por parte de Moscovo e a criação de um tribunal para julgar os responsáveis russos -, e acusou a Suíça de perder a neutralidade ao alinhar-se com as sanções europeias.

O outro grande ausente de peso é a China, um dos grandes aliados de Moscovo e vista como intermediária fundamental para futuras conversações de paz, que rejeitou participar dada a ausência da Rússia, tendo Zelensky acusado Pequim de trabalhar em conjunto com o Kremlin para sabotar a conferência, ao pressionar países para não participarem.

De resto, entre os membros do grupo dos países de economias emergentes (BRIC), além da China, também o Brasil não participará, por considerável indispensável a participação de Moscovo, a presença de uma delegação da África do Sul continua incerta, e apenas a Índia confirmou publicamente a sua presença na conferência, mas ainda se desconhece a que nível de representação. Apenas na sexta-feira à noite as autoridades suíças revelarão a lista definitiva de participantes.

Portugal estará representado na conferência pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel.

Na quarta-feira, precisamente na Suíça, por ocasião do encerramento das celebrações do Dia de Portugal, tanto Marcelo como o primeiro-ministro, Luís Montenegro, desvalorizaram as ausências e o pouco sucesso que se prognostica para esta cimeira, enfatizando antes a importância da mesma como “um primeiro passo”, que tinha de ser dado nalgum momento, num processo que conduza ao fim da guerra.

“Tem de se perceber que esta cimeira é a primeira de várias cimeiras. Tinha de haver uma cimeira, a primeira, e a Suíça avançou, e avançou muito bem. Se não se dá o primeiro passo num processo que é para a paz, aí perde-se o que é um caminho fundamental que todos desejamos”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, após um encontro em Berna com a presidente da Confederação Suíça, Viola Amhed, na qual a conferência foi um dos assuntos abordados.

Também Luís Montenegro disse acreditar que todos têm “o dever de fazer um esforço de valorização da cimeira, por um lado, e não a tentar diminuir, mesmo até nas notícias, antes de ela se realizar”, afirmando-se esperançoso de que a reunião de alto nível possa “contribuir para iniciar um caminho, como ela própria se designa, de paz”.

“Bem sabemos que há desafios para vencer, ainda muitos pela frente, mas este ponto de partida é muito importante”, sustentou, acrescentando que Portugal “tem dado o exemplo, não só porque vai estar representado ao mais alto nível”, mas também por não tem desperdiçado nenhuma ocasião para “sensibilizar outros países a participar”.

A conferência de paz realiza-se imediatamente após uma reunião dos líderes do G7, que arrancou ontem no sul de Itália, igualmente com a participação de Zelensky.

Na Suíça, as autoridades estão particularmente atentas à possibilidade de ataques cibernéticos durante a cimeira, uma vez que o número de ataques deste tipo aumentou muito nas últimas semanas, intensificando-se ontem mesmo, revelou o Ministério dos Negócios Estrangeiros helvético, que garante, no entanto, ter a situação sob controlo.

Em Burgenstock, o exército suíço poderá mobilizar até quatro mil soldados para garantir a segurança da cimeira, com a estância a ser ‘barricada’ por cerca de 6,5 quilómetros de vedação.

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