Arcebispos dizem que nenhum bispo está a ser investigado por esconder abusos sexuais. Comissão não tem “a menor dúvida” de encobrimento

Na cúpula da Igreja Católica Portuguesa, existem três elementos da Conferência Episcopal Portuguesa com funções especiais no que respeita à investigação de suspeitas de abusos sexuais de menores ou encobrimentos cometidos pelos bispos. São os arcebispos de Évora, Lisboa e Braga que têm este papel de ‘arcebispos metropolitas’.

No entanto, segundo relata a CNN Portugal, todos estes arcebispos garantem que nenhum bispo está a ser investigado por suspeitas de encobrimento. Recorde-se que, nas listas endereçadas às diferentes dioceses, a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa relatou apenas os nomes de padres e leigos ligados à Igreja suspeitos de abusos ainda no ativo, não transmitindo um levantamento de eventuais encobrimentos de bispos.

O bispo de Évora, Francisco Senra Coelho, diz que não foi entregue qualquer lista ou informação sobre bispos. Diz a lei da Santa Sé que, depois de detetar um destes casos, os arcebispos devem informar o Núncio, o representante do Papa em Portugal, para depois procederem a interrogatório. A investigação pode também chegar a partir de uma ordem direta do Vaticano.

Em Lisboa, Américo Aguiar também já recusou conhecer qualquer caso de encobrimento, e o mesmo cenário em Braga, com o arcebispo José Cordeiro a recusar qualquer “investigação em curso” e a informar que não há nenhuma ordem nesse sentido de investigação.

“Bispos sabem que nós sabemos que eles sabem muita coisa”, acusa membro da Comissão Independente
Daniel Sampaio, psiquiatra que integrou a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa criticou a falta de estratégia da Igreja para lidar com os casos, após a comissão ter entregue as listas de abusadores e denúncias.

O responsável acusa membros da instituição de encobrimento e diz não ter a menor dúvida de que bispos sabiam dos crimes cometidos pelos padres: “Não temos a menor dúvida. Os senhores bispos sabem que nós sabemos que eles sabem muita coisa. Houve vítimas que falaram connosco presencialmente e que tinham exposto a situação a bispos, e a sua posição não fora validada por eles”, aponta em entrevista ao Expresso.

Daniel Sampaio afirma que esperava que todas as pessoas indicadas nas listas de abusadores no ativo fossem prontamente afastadas pelas dioceses, e sublinha que o abuso sexual de menores “tem tendência a ser repetido”.

“O problema é que a Igreja fala da sexualidade ligada ao pecado. A formação dos sacerdotes é fundamental. Mas se a vamos entregar a pessoas com uma visão muito redutora da sexualidade, que condenam a homossexualidade, que condenam o sexo antes do casamento e a masturbação, não estaremos a fazer boa formação para a sexualidade. E é importante dizermos muitas vezes que a pedofilia não tem nada a ver com a orientação sexual de alguém”, critica o responsável da Comissão Independente, que destaca como necessárias reuniões entre membros da hierarquia da Igreja e o ministro da Saúde, para que se agilizem formas de cooperação de forma a dar atendimento às vítimas dos abusos sexuais.

A questão das indemnizações, assegura o psiquiatra, “vai-se colocar”. “A Igreja é responsável pelos padres, freiras e leigos abusadores que estavam ao seu serviço”, considera, relatando que algumas vítimas desvalorizam a criação de um memorial. “Houve vítimas que disseram que era importante e outras que não, que o importante era que a Igreja castigasse os abusadores”, explicou.

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